Fortunato Barbosa 09/05/2023
Um Clássico em defesa das virtudes e valores da Civilização Ocidental
O livro na verdade trata-se de uma correspondência, onde, de antemão, é bom informar que não possui epígrafes, capítulos ou qualquer separação de temas internos. É uma correspondência ininterrupta. Após a excelente introdução feita por João Pereira Coutinho, já temos a pena de Burke em ação até o fim.
Na introdução, João Pereira Coutinho faz um breve resumo contextualizando, explicando e diferenciando o que Burke estava atacando, defendendo, e o motivo que o fazia escrever sobre um problema estrangeiro, que para alguns contemporâneos, como Thomas Paine, não impactava os britânicos. Coutinho explica alguns termos usados por Burke, como por exemplo "preconceito", onde, nada mais era que a "razão social" e "sabedoria sem reflexão" de um povo, e não de um homem isolado.
Basicamente, os revolucionários franceses não se importavam com os costumes e instituições do passado, buscavam demolir tudo através de uma ideologia iluminista-ateísta, deixando uma população órfã dos confortos externos e inteligíveis na sociedade, trazendo consequências sociais destrutivas, como: perseguição aos religiosos cristãos, assassinatos, confisco de terras, inflação, relativização das leis, juízes sem resguardo constitucional, destruição da moeda, instituição militar anárquica, e etc.
Dentre os principais pontos, argumentos e citações de Edmund Burke no livro, estão:
- Burke inicia sua correspondência elogiando os princípios da Revolução Gloriosa na Inglaterra;
- Faz críticas ao fato dos franceses receberem com honras um clube inglês desconhecido e sem credibilidade na Inglaterra, como se fossem autoridades com respeitabilidade;
- Defende a liberdade que está atrelada a moralidade;
- Burke diz que a Revolução Francesa pode prejudicar toda a Europa;
- Cita como um sermão de um pastor foi usado com fins políticos para incitar os revolucionários, com inúmeras críticas aos que usam da fé cristã para respaldar atrocidades, inclusive relativizando trechos bíblicos para isso, através de um messianismo secular;
- Por causa do tipo de autoridades religiosas que se submetem a serventia política partidária, a igreja perde a sua relevância no mundo (Tocqueville faz uma crítica parecida em "Da Democracia na América");
- Burke explica a diferença entre a Revolução Gloriosa e a Revolução Francesa, mostrando como os princípios fundamentais são diferentes;
- Como o parlamento inglês atuou de forma habilidosa para preservar a Coroa da Inglaterra e como os Lordes e Comuns exaltam a Deus pelo privilégio te terem reis protestantes;
- Burke faz uma defesa da Monarquia hereditária, como ela é garantia de liberdade e direitos. Contudo, também menciona outros tipos de governos legítimos pelo mundo;
- Ele cita o impeachment como um mecanismo legal;
- Refere-se ao Rei como alguém que não deve ser adulado e nem humilhado;
- "As leis são obrigadas a segurar a língua diante das armas" (p. 63), criticando o modus operandi dos franceses;
- "A natureza nunca diz algo diferente do que diz a sabedoria", trata-se uma nota de rodapé citada por Burke, da sátira de Juvenal;
- Um povo que não respeita os antepassados não cuida das gerações futuras;
- "Respeitando seus antepassados, vocês teriam aprendido a respeitar a si mesmos" (p. 71);
- Burke diz que os súditos devem se qualificar para não serem guiados cegamento por ninguém;
- "Os tolos correm os anjos temem pisar" (p. 84);
- Burke explica que não podemos forçar as pessoas a serem o que não são e ir contra a natureza;
- As qualificações de um Estado e estadista são virtude e sabedoria;
- Resguardar o direito de um grande proprietário em ter a sua terra, é a segurança do direito do pequeno proprietário. Quem relativiza uma grande propriedade, destrói a pequena;
- Burke explica como a Câmara dos Lordes na Inglaterra, são na pior das hipóteses a estabilidade e continuidade;
- Em nome de uma liberdade abstrata, os revolucionários estão destruindo toda a sociedade;
- O governo é um artifício da sabedoria humana;
- Burke diz que é preferível um todo mal atendido do que uma parcela perfeitamente atendida;
- Os revolucionários queriam apenas ver o circo pegar fogo a qualquer custo;
- "Que todos os bispos fossem enforcados nos postes de luz" (p. 121) grito dos revolucionários;
- Burke ironiza dizendo que não foi iluminado por essa luz moderna do aclamado iluminismo francês;
- Burke lamenta que a cavalaria e honra se foi e os sofistas venceram;
- "Mas agora tudo está prestes a mudar. Todas as agradáveis ilusões que tornavam o poder suave e a obediência liberal, que harmonizavam os diferentes tons da vida, e que, por uma assimilação branda, incorporavam na política os sentimentos que embelezavam e suavizam a sociedade privada, serão dissolvidas por este novo império conquistador de luz e razão. Toda a decente roupagem da vida está prestes a ser rudemente arrancada. Todas as ideias superpostas, decoradas pelo guarda-roupa de uma imaginação moral, que o coração possui e o entendimento ratifica como necessárias para cobrir os defeitos da nossa natureza nua e claudicante, e para elevá-la à dignidade em nossa própria estimativa, devem ser destroçadas como uma moda ridícula, absurda e antiquada" (p. 126);
- "Deveria haver um sistema de costumes em cada nação que pudesse ser apreciado" p. 127);
- "Não basta aos poemas ser belos; eles também devem ser doces" (p. 127), nota de rodapé citado por Burke, retirado de Horácio em 'Ars Poetica';
- "Os reis serão tiranos na política quando os súditos forem rebeldes nos princípios" (p. 128);
- A Civilização é resultado do Cristianismo e Cavalheirismo;
- Burke cita a fé cristã como guardiã da Ciência;
- "Nós não somos os convertidos de Rousseau; não somos os discípulos de Voltaire; Hélvetius não fez qualquer progresso entre nós. Os ateus não os nossos pregadores...Nós tememos a Deus; olhamos com admiração para os reis, com carinho para os parlamentos, com dever para os magistrados, com reverência para os sacerdotes e com respeito à nobreza" (p. 139);
- Burke diz que havia alguns "livres pensadores" na Inglaterra que ninguém se importava com eles;
- Burke defende que a religião é a base da sociedade e que não precisamos do ateísmo;
- "Não somos protestantes por indiferença, mas por zelo" (p. 146);
- A sociedade é contrato dos vivos, mortos e por nascer;
- Burke descreve a Igreja e o Estado como guardiões da literatura e artes;
- O Estado é o guardião de todas as instituições, do qual, a Igreja é a principal;
- Os ingleses ilustres são os que mais sabiam que precisavam do Evangelho;
- Todos os homens públicos da Inglaterra, inclusive os que tinham simpatia pela Revolução Francesa, repudiavam o confisco das propriedades da igreja pelos franceses;
- Alguns literatos se reuniam para conjuntamente atacar e descredibilizar a fé cristã. Esses escritores simulavam zelo pelos pobres e exageravam os defeitos do clero;
- A Revolução Francesa tinha o propósito de destruir a Igreja;
- Burke diz que qualquer que se opor aos revolucionários será taxado de "defensor da antiga servidão";
- Burke argumenta que a opressão da Democracia é pior que da Monarquia;
- A Monarquia se adapta melhor que uma república, pois a Monarquia consegue absorver as virtudes de um República, mas uma República não consegue absorver as virtudes de uma Monarquia;
- Burke não negligencia que havia abusos por parte da Coroa inglesa;
- A França tinha uma população maior que a Inglaterra, mas a Inglaterra tinha mais riqueza;
- Burke elogia por algumas páginas a França e suas conquistas e virtudes do passado;
- Burke defende a nobreza e a chama de "ornamento civil";
- Os revolucionários queriam "reparação histórica" pelos abusos dos clérigos do passado, culpabilizando os seus contemporâneos por aquilo que não fizeram. A chamada "dívida histórica";
- Burke desmonta a "dívida histórica" dizendo que se fosse rastrear todas as injustiças do passado, todos deviam algo; e que os revolucionários estavam usando o passado para criar revanchismo onde não existia;
- Os revolucionários atacavam os vícios fazendo uso dos mesmos vícios;
- Os franceses sucatearam a sua própria Igreja;
- Havia o fanatismo ateu no movimento francês;
- "A superstição é a religião das mentes fracas" (p. 237);
- Burke diz que a raiva destrói em meia hora o que a prudência levou 100 anos para acumular;
- Toda reforma deve ser feita de luz em luz, respeitando sempre o conhecimento passado;
- Os processos da França estavam sendo entregues a alquimistas, aventureiros e empíricos; ironiza Burke;
- Revolucionários desesperados usavam como parâmetros a opinião de satíricos que não estavam compromissados em ajudar, apenas criticar;
- Burke diz que a França de tornou um jogo de apostadores;
- Burke descreve como a incompetência da Assembleia dos revolucionários destruiu a moeda e trouxe inflação;
- O Judiciário não é mais independente e tem medo de julgar, pois a lei foi relativizada e eles tinham medo de serem mortos caso julgassem contra a Assembleia;
- Haviam órgãos públicos isentos da aplicação da lei, a França literalmente se tornavam uma oligarquia;
- O Exército pode cair em anarquia, estavam perdidos, não sabiam a quem obedecer, avisa o Ministro da Guerra para a Assembleia;
- Burke ironiza dizendo para enviarem panfletos de Voltaire para os soldados lerem, visando trazer a união e obediência deles;
- Burke profetiza sobre Napoleão Bonaparte: "Ante a fraqueza de um tipo de autoridade, e a incerteza de todas as outras, os oficiais de um exército permanecerão por algum tempo amotinados e cheios de facções até algum general popular, que entender a arte de conciliar a soldadesca, e que possua o verdadeiro espírito de comando, atraia os olhos de todos os homens sobre ele. Os exércitos vão obedecê-lo por conta própria. Mas no momento em que este evento acontecer, a pessoa que realmente comanda o exército será o seu mestre — o mestre do seu rei, o mestre de sua Assembleia, o mestre de toda a sua república" (p. 321);
- Burke passa uma grande parte do final do livro falando sobre finanças, fazendo comparações e análises políticas-sociais.
Esses são alguns dos principais pontos que anotei e consegui resumir, pois existe muito mais. Apenas leiam!