Reflexões Sobre A Revolução na França

Reflexões Sobre A Revolução na França Edmund Burke




Resenhas - Reflexões sobre a Revolução em França


26 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Mauricio.Alcides 24/03/2016

Reflexos sobre uma opinião de um estadista.
Hoje compreendo por quais motivos Edmund Burke é o pai do conservadorismo anglo - americano.

Burke sempre se posicionou a favor do espirito revolucionário foi um defensor da revolução americana e um grande opositor das medidas tomas pelo império britânico para a manutenção da India, contudo a Revolução Francesa lhe causou demasiada estupefação e não por menos escreveu a maior critica conhecida sobre a revolução em França.

Por ser um whing defensor do progresso gradual da sociedade Burke julgou que a Marcha sobre Versalhes foi o estopim final para a perda de moralidade da Revolução Francesa de tal maneira que descreveu em seu clássico Reflexões sobre a revolução francesa todos os motivos imorais pelos quais a revolução não era justa, também realizou uma analise sobre as consequências da mesma. De certo ponto Burke estava certo, a revolução não foi completamente satisfatória e logo em seguida a tirania voltou a nova coroa francesa.

Contudo analiso que a obra de Burke é demasiada pautada em preconceitos, tais como o preconceito contra as classes ditas inferiores, contra a representatividade dessas classes, contra a capacidade intelectual dos membros dessa classe e também um forte preconceito contra a possibilidade do desenvolvimento de uma sociedade sem a necessidade de uma fé cristã.

Burke também fantasia muito o mundo pré revolução, acredito que um desenformado sobre o assunto que tenha sua primeira experiência com o tema sobre o deleite das cartas de Burke terá a sensação de que a sociedade pré revolução era como os campos do elíseos.

Por fim, é interessante que Burke chegou a algumas conclusões corretas mas julgo através de analises erradas, não por menos raramente debatemos os meios que lhe renderam suas conclusões, focamos apenas em suas conclusões sobre a revolução.


Nota: 6,9


PS: Vejo em sua obra muito dos preconceitos que hoje influencia os atuais conservadores de nossa sociedade tais como os seguintes:

1. Preconceito contra contra as classes menos afortunadas:

A ocupação de cabeleireiro, ou de fabricante de velas - para não mencionar outras ocupações mais servis -, não pode ser motivo de honra para qualquer pessoa pg 71

2. Acreditar que mesmo em um monarquia absoluta o povo estava bem representado:

Nossa representação esteve sempre perfeitamente adequada a todos os propósitos para os quais a representação de um povo pode ser desejada ou imaginada pg 77

3. Não acreditar na capacidade dos revolucionários em defender desenvolver a ciência pois os julgava inferiores intelectualmente:

Pois agora, juntamente com os seus protetores e guardiões, a ciência será atirada ao lodo e pisoteada pelos cascos de uma usina multidão pg 98

4. Defender a união entre as forças do estado e as forças da igreja, sendo apenas essa união capaz de desenvolver uma sociedade promissora:

Igreja e Estado são ideia tão inseparáveis em suas mentes, que é difícil mencionar uma sem aludir a outra pq 117 e também 109 a 1012.

Ps2: Julgo que o melhor da obra de Burke é sua analise jurídica sobre a moralidade e as inconstitucionalidades da Revolução Francesa, mas em nenhum momento chega a apresentar pontos que anulem os atos revolucionários.
Mauricio.Alcides 24/03/2016minha estante
Errei na nota que publiquei na resenha, o certo é:

Nota: 7,5


Cássio Almeida 26/11/2017minha estante
Se deu 7,5 então, proporcionalmente, resulta em 3,75 estrelas, que arredondando, dá 4 estrelas .-.


Raul 28/03/2019minha estante
Esbarrar com uma frase como "em nenhum momento chega a apresentar pontos que anulem os atos revolucionários", me gera a impressão que lemos livros diferentes, não é possível.




Rafaela1002 06/04/2022

Reflexões, longas Reflexões...
Não gostei dessa edição em específico. A letra é muito pequena e tem vários erros de gramática. Com relação ao conteúdo em si, Burle trata do caráter da Revolução Francesa e seu impacto na vida dos franceses. Por várias vezes o autor diz que essa Revolução é mais uma luta de egos do que uma conquista para a humanidade. De outra forma, a Revolução tem um caráter anti religioso, anti costumes e moral.

Não consegui terminar a leitura corrida pois o final é muito difícil de entender, mas eu recomendo para quem tem paciência ?
Ezequiel.Soares 01/04/2023minha estante
Os erros a que você se refere não seria porque algumas partes estarem escritas em português de Portugal?
Pelo menos foi isso que percebi no prefácio. Não erros, mas um português/ Portugal.




Lídia 11/08/2016

Pense num livro simplesmente FANTÁSTICO!
A ideia do livro surgiu em resposta a carta de um amigo do autor, que entusiasmado com a Revolução que acontecia na França, perguntou o que Burke achava de tudo aquilo. Qual não deve ter sido a surpresa do rapaz - e dos ingleses favoráveis à causa - ao lerem suas Reflexões!
Burke explica que, ao contrário do que propagavam alguns de seus conterrâneos, a Revolução Francesa nada tinha em comum com a Revolução Gloriosa que libertou o Reino Unido de uma monarquia absolutista. Sua explanação sobre a importância em respeitar as conquistas dos antepassados na construção da civilização é marcante, assim como seu alerta ao total desprezo daqueles que querem destruir tais princípios para criar algo novo sem as devidas considerações. Ele também oferece duras críticas às contradições da Assembleia Nacional e sua política baseada em confiscos; seu despotismo disfarçado de republicanismo; analisa as inconsistências no seu plano de reengenharia social; seu sistema judiciário, executivo, e chega até a prever o que viria a ser conhecido como o governo do "Terror".
Repleto de notas do próprio Burke e do tradutor, o livro é um material enriquecedor para aqueles que querem conhecer um outro lado da Revolução Francesa que não seja o romantizado.
comentários(0)comente



Filino 09/06/2017

Burke? Por que não?
Trata-se de um autor que, “curiosamente”, não é tratado com a importância devida nos bancos universitários. Felizmente, nos últimos anos, as prateleiras de nossas livrarias sofreram uma verdadeira enxurrada de autores que costumavam ser olhados de viés por boa parte dos intelectuais e editores brasileiros. E com essas obras, vieram livros de (e sobre) Edmund Burke.

“Reflexões sobre a revolução na França” tem como mote uma correspondência de Burke, que escrevendo ao seu interlocutor vê com espanto que um pequeno agrupamento do seu país venha a elogiar os acontecimentos franceses. É um instigante olhar sobre as consequências (nefastas, segundo o autor) dos acontecimentos na França em 1789. De acordo com Burke, aquela revolução movida por filósofos e calcada em “metafísica” jogou ao solo os valores sobre os quais aquela sociedade foi erigida, trocando-os por algo concebido por poucos indivíduos, em seus sonhos e gabinetes, que acreditavam conseguir sobrepujar, com suas ideias, os motivos e razões que conduziram aquele país. O autor opõe o quadro francês ao inglês, demonstrando que sem a necessidade de fazer “tabula rasa” do seu sistema político, os ingleses atravessaram momentos tormentosos sem abrir mão de suas tradições – que, em vez de contestadas, saíram fortalecidas. Desse modo, a seu ver, a revolução francesa seria algo precipitado, desnecessário e extremamente arriscado. Eis então uma das raízes do propalado “conservadorismo” de Burke.

É uma obra de fácil e agradável leitura, indispensável para todo aquele que se interessa por Política (com P maiúsculo). Seja o leitor “de direita”, “de esquerda” ou mesmo indiferente a essas classificações.
comentários(0)comente



Fernando 22/07/2017

Embora não esteja estruturada como um tratado sobre o pensamento conservador - não pretende explicar a metafísica ou base principiológica dos 'direitos do homem ingles' em contraposição aos 'direitos do homem' -, a obra de Burke dimensiona a relevante função da tradição, dos costumes e da religião na construção da noção de liberdade. Esta, que não se confunde com licenciosidade, nasce de um arranjo entre forças políticas, de um pacto entre as várias gerações de indivíduos (portanto se proíbe a geração presente de repactuá-lo), e estando circunscrito áquele povo em virtude das suas necessidades (por isso não pode ser considerado 'universal'). As contradições captadas pelo autor nos discursos dos membros da Assembleia Nacional, seja da negativa geral em cumprir os diversos encargos do antigo regime, por serem 'ilegítimos', mas conservarem aquelas obrigações decorrentes dos contratos assumidos com agentes financeiros, são, na verdade, a raiz da questão; toda revolução conduz ao confisco de propriedade, então a pilhagem do patrimonio do clero que se seguiu a tomada do poder foi o resultado da luta entre a nobreza aristocrata e clerical, possuidoras de terras - símbolo de poder em virtude da sua 'segurança' -, contra a burguesia, detentora do capital, mas ávida assenhorar-se dos latifúndios. E notável a sua conclusão ao afirmar que a república francesa se converteria numa oligarquia dada a ação dos especuladores imobiliários em relação aos bens tomados da Igreja e leiloados pelo Estado; que não haveria vantagem no labor, tal como se fazia pelas mãos dos padres, ou no arrendamento das terras conforme a tradição já consagrara; a lógica haveria de ser a da sub utilização, da fraude, do comprador rapace. Outras críticas feitas ao sistema eleitoral, a administração da justiça, da preocupação quanto as fontes de receita e a forma de realização de despesa, da organização do Estado e da estruturação do Exército mostram um sentir, um tipo de pensar, daqueles filósofos legisladores, inclinados a adotar qualquer teoria novidadeira sob o pretexto de romper com o desprezível passado, mas justamente no que se refere aos métodos e lições de conquista e manutenção de uma tirania, como bem observa Burke, ao invés de testarem o novo, optaram por aquilo que a experiencia já ensina. O autor não nega as inúmeras falhas e injustiças do antigo regime, mas defende a reforma. A revolução, ao disseminar os ideais de democracia e igualdade, longe de assegurar quaisquer direitos, leva ao facciosismo da sociedade, eis que a maioria urbana burguesa e das classes baixas, ao se deparar com a minoria rural fragilizada, despida da outrora respeitabilidade e privilégios, fundados não só de seus títulos, mas no 'preconceito' (ou seja, o tempo e o consentimento popular os consagraram dessa forma), não hesita em usar a democracia para solapar esses últimos. Noutras palavras, as classes populares, antes limitadas não só pela força da lei, mas sobretudo na força dos costumes e do preconceito, que também são mecanismos de coesão social, até mais eficazes que a lei; agora, estavam 'livres' na acepção ampla do termo. Contudo, precisamente pela falta daqueles meios indiretos de harmonização, a Assembleia só tinha a sua disposição para submeter as massas libertadas a lei e a sua metafísica. Mas se antes a aceitação das ordens se fazia naturalmente, em razão do reconhecimento da importancia daquela hierarquia social, a Assembleia Nacional não gozava desse reconhecimento justamente pelas doutrinas que tanto ajudou a difundir, não restando outra solução além de constranger as massas por meio a violencia. O livro é fundamental a compreensão do pensamento conservador, e suas lições continuam válidas e aplicáveis nos tempos hodiernos.
comentários(0)comente



Wes Janson 25/06/2018

Essencial para conservadores!
Com esse livro, o escritor e político irlandês Edmund Burke passou a ser considerado o pai do conservadorismo moderno. Nessa obra-prima de análise política em forma de uma carta escrita a um colega francês, Burke disseca a Revolução Francesa de 1789, justamente no calor do momento, pois é datado de 1790.
Aprendemos na escola que a Revolução Francesa foi algo lindo e maravilhoso, uma revolta do povo contra a tirania opressora da monarquia, e poucos entendem a real dimensão do que representou na prática, com rios de sangue correndo literalmente pelas ruas de Paris, desorganização administrativa e financeira do Estado. Antecipa em alguns anos, ao discorrer sobre o exército, que haveria a ascensão de um líder que poderia se transformar num tirano, o que ocorreu com Napoleão Bonaparte.
Fazendo comparações entre a França e O Reino Unido entendemos as virtudes do conservadorismo, que ao contrário do que o senso comum afirma, não é retrógrado e avesso a mudanças, mas valoriza a experiência anterior e busca a evolução, não a revolução drástica que acaba em caos.
"As pessoas não serão capazes de olhar para a posteridade, se não tiverem em consideração a experiência dos seus antepassados." Para entender o conservadorismo, mesmo para os que não o sejam, é essencial a leitura desse livro.
comentários(0)comente



Wanderreis 08/11/2018

Engraçado
Não obstante a seriedade dos assuntos e da extrema densidade do texto dei muitas gargalhadas com este livro, porquanto o autor destila uma fina ironia em várias partes do texto, que apresenta, na maioria das vezes, análises absolutamente incontestáveis.
comentários(0)comente



Luana.Rayalla 31/12/2019

Um soco no meu estômago
Graças essa obra aprendi a diferenciar o conservador do reacionário, entre o moderado e extremista e me fez refletir que todos nós somos conservadores de uma certa maneira. Entretanto discordo e até repudio as ideias dele do Estado com a Igreja, e essa defesa tão forte para com a monarquia absolutista. Absurdo total!! Entretanto peguei deste livro o que me serviu para me enriquecer como pessoa e descartei outras coisas. Agora essa questão de ser moderado em alguns pontos me lembrou do Eduard Bernstein, por entender que a mudança tem que ser gradual.
comentários(0)comente



giu 17/08/2020

Um livro para ler de novo e de novo.
Me sinto acanhado em dissertar sobre minha experiência ao ler esta obra, mesmo que de maneira simplória, pois é uma obra que, admito, ainda preciso de mais bagagem intelectual e até mesmo de maior maturidade para poder melhor absorver o que ela traz ao leitor.
Uma leitura rebuscada e um tanto arrastada por conta de seu formato, que é literalmente uma carta. Sem capítulos, itens, nenhuma subdivisão de texto nem de assuntos. São 361 páginas de pura História.
É uma carta resposta a um colega francês de Burke que pediu sua opinião sobre os, até então, recentes acontecimentos na França. E então Burke expõe suas opiniões e seus receios sobre a então revolução, contrapondo-se veementemente à esse estilo de revolução radical, que visa destruir tudo o que há no modelo de governo/Estado vigente e instituir algo novo, criado quase que do zero. E defendendo que sim, mudanças podem e devem ser feitas, porém a partir do que se tem no momento, e que assim seria a maneira mais ética e patriótica de se conservar sua pátria, sua nação.
Ler Burke, para mim, mesmo ainda não tendo um arcabouço de conhecimento, me faz entender melhor o conservadorismo moderno em sua essência, e a ver também que o que vemos hoje no Brasil é qualquer coisa, menos uma "onda conservadora". É idolatria, é partidarismo, é polarização por polarização, algo repugnante.
Recomendo a referida obra para aqueles que queiram se aventurar numa obra mais complexa e completa para entender a raiz e a essência do pensamento conservador.
comentários(0)comente



Lucio 08/01/2021

O Que é o Conservadorismo?
INTRODUÇÃO

Este livro trata de uma correspondência de Burke a um jovem fidalgo francês logo após o início da Revolução Francesa. Aparentemente, tal moço queria um parecer, talvez um elogio de Burke à revolução, e o filósofo lhe devolve uma volumosa correspondência com reflexões críticas, desaprovando veementemente toda a experiência francesa. Portanto, era o assunto do momento na época. Mas o que isso tem que ver conosco? Qual seria a relevância de um livro como esse para nós?
É preciso entender que nessas reflexões, Burke acaba dando início ao conservadorismo. Não que não houvesse pensamento conservador antes dele. Mas aqui a filosofia conservadora ganha sua inauguração formal. Os princípios fundamentais do conservadorismo estão presentes na obra. Alguns são trabalhados de forma breve, e autores posteriores dedicaram um amplo espaço no seu desenvolvimento. Outros, porém, são vigorosamente defendidos com argumentos poderosos.
Tal como nas epístolas pessoais do Apóstolo Paulo acabamos derivando doutrinas, nessa correspondência de Burke fazemos o mesmo, ou seja, não é por ser uma epístola e nem por atender a um “assunto do dia” de uma outra época que o livro não diz respeito a nós e ao nosso tempo. Na verdade, o livro é extremamente contemporâneo como todo clássico é imortal.

CONTEÚDO

1) Resumo Geral

Como o livro é uma correspondência enviada por Burke, não há divisão de capítulos. Burke até se desculpa por duas vezes por conta da organização da obra estar neste formato, dizendo que na medida em que foi versando sobre os temas viu que a coisa havia se avolumando de tal maneira que acabou ficando nesse formato. Mesmo assim, é possível resenhar o teor das reflexões - embora não necessariamente na exata ordem do autor.
Primeiramente, Burke quer analisar com mais cautela o que estava acontecendo. Na medida em que vai desenvolvendo o texto, parece ter se apossado de mais materiais e, com isso, foi tendo mais condições de fundamentar suas opiniões. A França alardeava um grande momento de vitória política, e Burke toma ciência de que duas sociedades inglesas haviam enviando nota de congratulação à Assembléia Nacional. Isso o incomodou bastante, pois pareceu dar aos franceses uma impressão de aprovação pública da parte da Inglaterra. Então, por um longo período, Burke começa a analisar a mais relevante dessas sociedades inglesas, a Sociedade da Revolução.
A Sociedade era composta de ilustres desconhecidos. Não representavam a Inglaterra e, de fato, não tinha qualquer relevância no cenário político. Daí já se via o cacoete. Posaram de representantes dos ingleses quando nem mesmo eram reconhecidos no seu país. Não assinaram seus nomes justamente para que sua insignificância não ficasse escancarada. Mas havia uma figura bem conhecida que participava do grupo, e que havia feito discursos extremamente perigosos. Tratava-se do Dr. Richard Price. Um ministro inglês que havia voltado seus sermões ao discurso político em apoio à Revolução. Burke passa a analisar o discurso.
Nele, basicamente, Burke denuncia a mascarada e escandalosamente equivocada sedição e traição à pátria dos progressistas ingleses. Price dizia que a revolução inglesa havia legado ao povo o direito de eleger seus representantes, demiti-los e de constituir seu próprio governo. Com isso, alegava que qualquer governo que não se enquadrasse fosse ilegítimo. Burke passa um longo tempo demonstrando que se esse fosse o caso, teriam de considerar o governo inglês como ilegítimo - o que se recusavam a fazer, certamente por temer as consequências. Antes, diziam que ele fora eleito - o que era absurdo, dado ser uma monarquia.
A partir desses três itens, Burke faz uma vigorosa defesa da monarquia parlamentar (não da monarquia absolutista, da qual os ingleses já haviam se livrado muito antes dos franceses) - embora reconhecesse haver ocasiões em que fossem legítimas outras formas de governo. Em primeiro lugar, desmente veementemente a alegação de que a Inglaterra tinha um governo eleito. Observa na história que o povo via na monarquia uma garantia da ordem e da sociedade que haviam conquistado. A monarquia tinha o dever de preservar as heranças políticas, sociais, civis e culturais dos antepassados e por isso foi historicamente estabelecida. É neste ensejo que Burke defende o papel importante da tradição como patrimônio da sabedoria da humanidade, o que é um elemento fundamental do conservadorismo - e que é defendido em vários lugares do livro. Analisaremos o princípio adiante. Quanto ao direito de demitir os regentes, Burke nota ser algo perigoso justamente por conta da ameaça de populismo que se converte em pão e circo, ou de não se poder tomar medidas necessárias que são impopulares com risco à candidatura.
O filósofo argumenta que os franceses poderiam ter adotado o mesmo princípio conservador para efetuar as melhorias que pretendiam. Eles tinham um passado riquíssimo que não deveria ser simplesmente abandonado, como fizeram e pregavam abertamente os revolucionários progressistas. Mas preferiram a revolução absoluta e a destruição de tudo o que tinham conquistado. E isso quando não havia a menor necessidade, pois não houve qualquer resistência minimamente considerável a todos os seus atos. Mais adiante, Burke acrescentará que o monarca francês, Luís XVI, era o ‘rei absolutista’ mais moderado de toda a história, e já havia feito muitas concessões, estava aberto a várias outras reformas e tudo se encaminhava para uma monarquia parlamentarista. Há ainda aquelas conhecidas acusações contra a nobreza e o clero, às quais Burke lida noutra parte, que exporemos adiante. É interessante já notar também que Burke acusa os revolucionários de ter inflamado os ânimos do povo contra o rei por meio de exageros dos seus erros ou mesmo inventando crimes que ele teria cometido de modo a justificar todo o tratamento feito ao monarca.
Burke, passa a relatar os horrores da revolução. A começar pelo assassinato cruel de guardas reais que não reagiram e a tentativa de assassinar o rei e a rainha. Seguiu-se pelo puro frenesi das massas, a liberação de criminosos na queda da Bastilha, a subversão completa da ordem, dos valores e da cultura. Inclusive, houve a clara rejeição da religião cristã - algo que Burke argumenta como esteio da sociedade e condição necessária para que haja alguma confiança de que os governantes cumprirão seu dever, pois, devendo ser crentes verdadeiros, saberão que prestam um papel e cumprem uma vocação diante de Deus. A religião, aliás, argumenta o filósofo, é igualmente importante para a preservação dos valores na sociedade e para incitar o cumprimento dos deveres, sabendo cada um que há uma providência que age no mundo hoje e uma devida remuneração no porvir.
Para explicar a causa de tal opção pela barbárie ao invés de uma transição ponderada, razoável e não-violenta, ele olha para os integrantes da Assembléia Nacional. Então nota que a maioria de seus representantes eram homens sem nenhuma experiência na administração pública ou qualquer demonstração de conhecimento quanto à gerência. Em outras palavras, indivíduos sem qualquer preparo político. Pior do que isso, haviam muitos advogados provincianos, de pequenas cidades, que viveram suas vidas entre pequenos litígios e que viam nessa oportunidade a chance de ampliar suas ambições pessoais. Havia também a participação de clérigos igualmente interessados na pilhagem e sem nenhum brilho, nenhuma figura de destaque ou que tenha provado seu valor. Era evidente que tais indivíduos viam na revolução uma ocasião propícia para tirar dos outros aquilo que não conseguiriam por seus próprios esforços e méritos. Portanto, deduz-se que Burke entende dever haver competências morais, intelectuais e boas ideias para que se faça boa política.
Mas, mais do que esses oportunistas, havia outro espírito fundamental que patrocinou toda a revolução. Tratava-se do espírito ateísta militante. Burke nota como haviam, desde o início do século, efetivamente dominado a imprensa e os meios de formação de opinião para divulgarem com vigor proselitista suas ideias secularistas e como haviam, junto a isso, caluniado e difamado todas as vozes dissidentes, de modo que qualquer manifestação contrária era logo rejeitada sobre o rótulo de negar as luzes, a ciência e a filosofia. E foi assim que a história romantizada e invertida da Revolução Francesa foi passada adiante, pois só sobraram as vozes dos próprios perpetradores do crime. A forma com que foram tão efetivos em seu ofício foi basicamente a de se unirem a duas classes da sociedade francesa. Os burgueses, que ascenderam à alta sociedade mas que não tinham linhagem nobre e, por isso, era rejeitada pela nobreza; e os pobres - a classe com maior número de pessoas. Àqueles, diziam que poderiam se vingar dos nobres e a estes que teriam seu quinhão. Assim, conseguiram o patrocínio necessário para o empreendimento cultural - já que a nobreza não contava com o capital, estando sua riqueza materializada em posses imobiliárias e fundiárias - e o apoio popular.
Este era o verdadeiro motor por detrás do movimento - e os que não estavam cientes disso foram usados como idiotas úteis. Tanto é o caso que após destronarem o rei, resolveram expropriar a igreja. Após rejeitarem uma oferta portentosa da igreja - para evitar que fosse pilhada -, mantiveram o firme propósito. Além disso, mesmo que conseguissem vender todas as terras, o valor não era suficiente para lidar com os compromissos financeiros que tinham. Necker havia até mesmo mostrado que algumas economias e uma pequena taxa sobre todos poderia lidar com a dívida do estado - e os nobres e o clero já haviam manifestado abdicar da isenção desse imposto. Solução alguma foi aceita como alternativa. O objetivo era mesmo a tentativa de destruição da igreja francesa.
Aliás, Burke desmente outra acusação falsa - usada como desculpa para o ataque - que era o fato de a nobreza e o clero serem isentos de impostos. Burke nota que os nobres eram pessoas boas, honradas e que tinham um bom comportamento e serviam como padrão moral e exemplo de virtude. Eram os nobres franceses até mais generosos na caridade que os nobres ingleses e não havia, salvo raríssima exceção, qualquer acusação legítima de maus tratos a seus empregados. É claro que havia vícios. Muitos jovens nobres demoravam muito para sair da vida de aventuras - embora na França mantivessem o decoro na imagem pública. Mas o pior defeito foi a rejeição dos burgueses à nobreza por não terem ancestralidade nobre - apontou Burke. E o clero era igualmente nobre, culto e produtivo - havendo, claro, exceções que, no entanto, não eram escandalosas em seus erros. Em suma, não apresentavam qualquer motivo para os ataques que sofreram. E quanto aos impostos, Burke nota que, primeiro, não eram isentos dos impostos sobre o consumo - que era a maior fonte de renda para a receita -, bem como tinham impostos exclusivos para eles, a saber, os impostos sobre terras, que também os fazia grande fonte para o erário público.
Burke dá uma especial atenção ao ato de expropriação como o cúmulo da tirania francesa. Afinal, essa era uma garantia da vida em sociedade e julgar ser plausível cometer tal injustiça era solapar o direito à propriedade e levar à perda da civilidade. Desculpavam-se dizendo que estavam querendo lidar com os credores a fim de bem estabelecerem a nova era das luzes. Burke demonstra a falsidade da desculpa pelo fato de que rejeitaram os compromissos do antigo regime, considerando-os espúrios e inválidos, mas consideraram particularmente esse como válido. E tal desculpa era ainda pior pelo fato de não haver necessariamente a imputação de qualquer crime ao clero que justificasse tal pilhagem - como faziam os antigos tiranos, ainda que inventando crimes àqueles que atacavam. Simples e arbitrariamente escolheram a igreja como alvo. Era evidente que se tratava de um ataque à fé cristã. Noutra porção, Burke diz que tentaram justificar o ataque à igreja por um argumento de ‘dívida histórica’, por conta da noite de São Bartolomeu. Aqui, Burke lança interessantes argumentos sobre filosofia da história, observando que os males da história foram conduzidos e encabeçados por vícios, e que os motivos políticos ou religiosos alegados não passavam de disfarce para justificar a maldade. Assim, o filósofo nota que ao condenarem os antigos padres que mataram os huguenotes - condenação que os padres do século XVIII faziam com veemência - estavam sendo eles mesmos tão maus quanto aqueles criminosos. Além do mais, se tal passado justificava o ataque, então franceses e ingleses deviam viver em guerra dado os prejuízos que se causaram no decorrer da história. Assim, após expropriarem as terras da igreja, passaram a abrir eleição para clérigos e não exigiam qualquer qualificação moral ou mesmo doutrinária. Com isso, levariam a igreja ao completo descrédito e a desacreditariam diante daqueles muitos do povo que ainda não haviam sido convencidos por sua insistente e incansável argumentação ateísta. É aqui que Burke fala sobre tolerância desde que não haja crimes e desacredita os franceses que achavam que teriam o apoio dos países protestantes por terem pilhado os católicos.
Sobre o rei que havia sido deposto, além do fato de ser muito aberto a reformas e já ter efetuado algumas, Burke nota que parecia estar fazendo um bom governo. A população era relativamente próspera e crescente - e o autor é sagaz o bastante para observar que isso não pode ser simplesmente atribuído ao governo ‘ceteris paribus’, mas que ao menos o governo não era um obstáculo, ao passo que em pouco tempo de Revolução a população já havia diminuído consideravelmente para além das baixas insignificantes do conflito praticamente inexistente da revolução -, e havia bastante riqueza - que foi vertiginosamente minorada em pouco tempo de administração revolucionária. Mas além de inventarem mentiras sobre o rei - como calúnias sobre gastos exagerados, desmentidas por dados informativos - prestavam grandes honras ao rei Henrique IV, que era muito menos pródigo em caridade e tinha tantas virtudes e defeitos quanto Luís XVI e, aliás, o próprio Henrique IV, se vivo, os mandaria para a Bastilha.
O filósofo também aponta que tentavam apontar defeitos nas instituições do antigo regime para tentar fazer as pessoas aceitarem os seus próprios, como se as únicas alternativas fossem a de manter as instituições com seus defeitos ou destruí-las por inteiro. Inclusive, acusavam quaisquer que não os apoiavam de apoiar a tirania da qual acusavam o antigo regime. Claramente, uma falácia da falsa dicotomia. Burke argumenta que era até mais fácil corrigir instituições do que toda uma população. E aqui se vale novamente o princípio de conservação que mantém o que havia de bom e corrige as falhas. Esse ponto é especialmente importante para um dos argumentos de Burke a respeito da venda das terras da igreja, pois se isso fosse adequado de ser feito - uma concessão para o bem do argumento -, deveriam observar se os novos proprietários seriam melhor possuidores das terras do que os antigos. E o que temos é que a igreja produzia cultura e praticava a caridade, além do justo gasto com seus próprios ofícios religiosos, ao passo que os novos proprietários eram apenas pessoas interessadas em enriquecer e em obter posses, sem qualquer compromisso ou dever público.
Para que os progressistas rejeitassem toda a sabedoria adquirida com a experiência administrativa política - que outorgava uma grande herança de conhecimentos adquiridos pela experiência - deveriam demonstrar um engenho fora do comum. Então, Burke passa a analisar o que propuseram no lugar de toda a sabedoria da humanidade com suas luzes inéditas.
Parte da análise é dirigida para a forma com que organizaram politicamente o país. Basicamente dividiram o país em porções quadriculadas iguais, ignorando todas as divisões historicamente estabelecidas e que fazia com que as pessoas se identificassem culturalmente. Depois, estabeleceram que cada pequena parte teria sua assembléia que elegeria seus deputados e esses elegeriam representantes que subiriam para as instâncias superiores até chegarem à Assembléia Nacional. Mas, então, deram maior poder político aos distritos que tivessem maior arrecadação, bem como estabeleciam quantias - começando bem pequenas e se tornando maiores na medida em que se subiam os graus - para a particação política. Tudo isso negava explicitamente as teorias de igualdade dos Direitos do Homem que tanto alegavam. Além disso, produziam distorções políticas enormes, abrindo espaço para pagamentos excessivos para gerar maior poder político, bem como colocando os ricos em situação difícil, já que o poder político de sua contribuição era distribuído no distrito e os demagogos que prometiam pilhar seus bens acabam sendo os deputados escolhidos, a partir do dinheiro dos ricos, pelos demais.
No que diz respeito aos poderes político executivos e os poderes jurídicos, também foram um desastre. O rei havia sido deposto, mas depois o mantiveram para agradar ao povo que não aceitaria não ter um rei. Todavia, ele se tornou um mero secretário da Assembléia Nacional, sendo destituído de poder de declarar guerra ou promover paz, de eleger ministros, conceder perdão, honras e afins. Basicamente, era um rei sem coroa real. E demandavam dele que lhes ajudasse a construir o país a se erguer sobre as ruínas do seu próprio reinado. É evidente que não teriam sua melhor contribuição - para dizer o mínimo. Os juízes, por sua vez, eram eleitos municipalmente para julgar segundo leis mutáveis e sem reconhecimento pleno de sua autoridade até mesmo diante das pessoas - ou sendo facilmente comprados e eleitos por vias populistas, tendo de atender aos grupos que os colocaram no poder, não havendo espaço para justiça aos vencidos nas eleições.
Uma grande porção da obra é de cunho mais econômico, analisando o barco furado que a Assembléia Nacional havia se metido. Eles basicamente fundamentaram todas as suas esperanças na venda das terras confiscadas. Como lançaram toda aquela quantidade de ofertas no mercado sem considerar a demanda, ficaram sem compradores. Mas houve todo tipo de incentivos para as compras, inclusive uma concessão de créditos. E para fazer com que todos participassem dessa pilhagem, emitiram um papel moeda que representava tal crédito e tentaram obrigar todos a usá-lo em toda movimentação financeira. Todavia, esse papel não tinha lastro e isso fez com que todo o país fosse envolvido na especulação financeira para qualquer tipo de transação, além da inevitável inflação decorrente de tal política econômica que gerou enorme prejuízo para a receita pública. Além disso, o país ficou vítima de corporativistas e especuladores financeiros que não tinham real interesse na administração permanente das terras, senão na sua compra e troca - trazendo prejuízo inclusive para a produção nelas efetuada.
Outra medida econômica desastrosa foi o cancelamento de alguns impostos mas a manutenção de outros, fazendo com que aqueles que não foram isentados tivessem de sustentar a receita pública em seu prejuízos na arrecadação, o que gerou descontentamento tal que muitas cidades passaram a recusar pagar vários impostos. Havia também, dentro dessas rejeições, o desejo de muitos camponeses de tomarem as terras dos burgueses e nobres que foram mantidos com suas propriedades - afinal, haviam sido ensinados sobre o direito à propriedade pelo uso, bem como ao fato de que aquele antigo regime não tinha validade. Aprenderam que poderiam pilhar com a própria pilhagem feita pela Assembléia. Esta, por sua vez, os ameaçava com o envio de tropas caso agissem assim, pois sua economia dependia desses proprietários comprarem as terras da igreja.
Para lidar com a receita em frangalhos, pediram doações e contaram com a consciência das pessoas, e até obtiveram surpreendentes contribuições que, no entanto, estavam longe de ser suficientes. Tentaram manter algum crédito omitindo dados da manutenção das terras e fazendo promessas com as quais não poderiam lidar, como a própria manutenção do clero expropriado - que, posteriormente, foram descobrir ser mais onerosa do que o que poderiam obter com a venda de suas terras! Assim, estavam num abismo sem fim e caminhando a passos largos para a completa bancarrota.
Burke também fala sobre a situação catastrófica do exército. Os soldados haviam se tornado insubmissos, rebeldes e sediciosos, e proclamavam abertamente suas ideias subversivas. O exército, pois, estava se tornando fora de controle. O rei havia sido autorizado a lhes chamar à consciência, mas ignoraram o rei. O ministro da guerra pediu uma medida da Assembléia que mandou novos pedidos do rei para igualmente serem ignorados. Como se isso não fosse suficientemente tolo, decretaram festas para que os soldados se unissem às pessoas das cidades, na esperança de que isso lhes restauraria o espírito de submissão. Todavia, as próprias cidades organizavam suas milícias e eram igualmente sediciosos. O efeito só poderia ser o de fazer os soldados ainda mais inflamados. Assim, o próprio exército estava fugindo do controle. Mas era o exército a arma daquele governo despótico. O seu primeiro recurso. Os soldados, inclusive, estavam começando a reivindicar o direito de elegerem e demitirem os seus comandantes, afinal foram ensinados que os Direitos dos Homens conferiam a todos os homens o direito de escolherem quaisquer autoridades, e não podiam ver porque eles não teriam esse direito. Burke prevê que a única alternativa acabaria sendo um militar respeitado e poderoso para colocar ordem no exército, mas que poderia ele mesmo se voltar para dominar o país.

2) Principais Doutrinas Expostas

Princípios conservadores

a) Tradição contra Inovação: Burke defende muito bem, em várias porções, que a inovação absoluta, baseada na pura especulação bem como no desprezo por tudo que não era novo (argumentum ad novitatem) era evidentemente um erro. Ignorar tudo o que os homens produziram era algo soberbo e tolo. Há no livro, com efeito, alguns bons argumentos em prol do respeito à tradição.
b) Conservação e Progresso: Contra o que se possa pensar, Burke nota que o princípio de conservação não é uma perspectiva de imutabilismo, i. e., a ideia de que as coisas não devem mudar nem que não haja progresso - negando igualmente, portanto, o reacionarismo que vê no passado a perfeição -, mas sim que o verdadeiro progresso ocorre com o proveito do que há de bom na herança recebida.
c) Política da Prudência: Outra doutrina conservadora importante é a da prudência na política. Isso quer dizer que, primeiro, há mudanças que devem ser graduais. As pessoas estabeleceram suas vidas nas formas instituídas da sociedade e uma mudança abrupta poderia causar estranhamento e prejuízos. Mas, mais do que isso, a mudança gradual é necessária para que não seja tarde demais para corrigir algum passo equivocado que foi dado, algum problema que não havia sido previsto nos planos e que se ocultava no percurso.
d) Liberdade e Virtude: Burke diz, logo no início - bem como mais para o fim - que não apreciava a liberdade dos franceses, pois era uma dádiva não acompanhada de virtudes e que, por isso, se tornava um vício. A pura liberdade destituída de virtudes e valores é pura animalidade e redução à escravidão ao barbarismo e incivilidade.
e) Nacionalismo: Burke fala que o amor à pátria começa pelo amor aos mais próximos, a identificação afetiva para com a vizinhança, o bairro, a cidade até alcançar o país. Havia, contido nisso, um vínculo cultural. Este é um nacionalismo ‘de baixo para cima’, sem propósitos senão a conservação dos valores e virtudes, bem como das conquistas e das coisas apreciadas. Portanto, como bem nota Scruton no ‘Como Ser um Conservador’, absolutamente distinto do nacionalismo ‘de cima para baixo’ dos regimes totalitaristas do século XX.
f) Instituiçẽos: Igreja, família, Estado, Constituição e afins são importantes instituições que preservam os valores, virtudes e demais heranças de uma cultura e que, portanto, deveriam ser preservadas - havendo espaço para reformas e adaptações em algumas, ou melhor, exceto na família.
g) Dificuldade de se Construir: Construir algo demora. As grandes coisas demandam esforço e tempo. Mas destruir é, por sua vez, algo muito mais fácil e mais rápido. Por isso, é preciso muita cautela quando se vai destruir qualquer coisa, pois a substituição pode, se for tão boa quanto o que foi perdido, demorar muito para ficar pronta.

Estratégias Progressistas
Curiosamente, vemos muitas das estratégias propostas por muitos progressistas nos dias de hoje já existentes naquela época. Vejamos brevemente algumas.
a) Domínio da Opinião Pública: Aqui a noção de ‘ocupação de espaço’ é perfeitamente exposta no ato de divulgação do ateísmo e silenciamento dos cristãos e/ou dos anti-revolucionários conservadores.
b) Caos para a Ordem: Num dado momento, Burke cita Priestley e os revolucionários dizendo que sabiam que algum caos adviria de suas primeiras ações políticas, mas que desejavam que isso ocorresse para que o povo acatasse sua proposta de revolução absoluta ao invés de dar ouvidos a um possível reformista. Essa é uma estratégia de alguns progressistas modernos que também querem implodir a cultura ocidental e o capitalismo para, então, surgirem como os ‘salvadores da pátria’.
c) Direitos dos Homens: Basicamente a mesma desculpa em nome dos Direitos Humanos para justificar todo tipo de barbárie e subversão. Burke deixa claro que era a favor dos verdadeiros direitos dos homens, incluindo aí o direito à propriedade - que era justamente o que haviam ignorado na Revolução.
d) Difamação para justificar a Agressão: Burke, em mais de uma porção, demonstra como distorciam os fatos, exageravam os defeitos, ignoravam e omitiam as qualidades e até mesmo inventavam coisas dos que queriam prejudicar para dar uma justificativa pública de suas agressões - bem ao espírito ‘antifa’ dos nossos dias.
e) Dívida Histórica: Apelavam para uma suposta dívida histórica institucional para justificaram injustiças cometidas no presente.
f) Futurismo: Há, além da rejeição da tradição, uma forma de justificar todo tipo de males do presente em nome de uma causa em prol de um futuro glorioso.


REFERENCIAL TEÓRICO

Burke honra seus elogios à tradição remontando constantemente aos clássicos. Horácio, Juvenal e principalmente Cícero são nomes que poderão ser encontrados em várias páginas. Aristóteles também aparece. Embora o autor não cite, evidentemente está presente as influências de Locke, Hume e Smith.
O autor se vale também, como referência para fundamentar suas acusações, de atas da Assembléia Nacional, bem como dos trabalhos de Necker e Calonne - que participaram da Assembléia. Quanto à Sociedade da Revolução, cita principalmente o discurso-livro de Richard Price.
Burke estava atualizado quanto à literatura progressista. Conhecia bem Rousseau, Diderot, D’Alembert e Helvétius. Cita também Priestley e outras sombras do ateísmo inglês de sua época.
O autor também se vale de sua experiência na política Inglesa, lidando com a história e documentos da constituição inglesa. Mostra grande desenvoltura, igualmente, no que diz respeito à história da Inglaterra e da França, bem como faz referências constantes à história romana.

RECOMENDAÇÃO

Qualquer um que queira entender o que é o conservadorismo tem a obrigação moral de ler este livro. Seja para tentar criticar ou mesmo para defender, a leitura da obra enriquecerá o repertório para a discussão das ideias políticas e da própria sabedoria pessoal para enxergar as coisas. O livro é tão importante que nos parece irresponsabilidade discutir política, direita e esquerda, conservadorismo e progressismo, sem lidar com esta obra de Burke.
O livro também é absolutamente necessário para se discutir a própria Revolução Francesa. Há acusações graves demais para serem ignoradas e para que se celebre esta revolução com a consciência limpa. Inclusive, essa imagem que temos da revolução já era corrente na época de Burke e ele praticamente prenunciou que os revolucionários e progressistas franceses tentariam vendê-la. Conseguiram. E enquanto não lermos este livro, continuarão tendo êxito.
Entretanto, o livro pode ser árido - principalmente para quem não tem a menor ideia dos fatos, nem que seja os da versão progressista, concernentes à Revolução Francesa. Há, também, um encadeamento de raciocínios que às vezes não é tão claro à primeira vista e que demanda um deter-se atento em várias porções. Não obstante, todo esforço será recompensado.
comentários(0)comente



Julio.Henrique 05/05/2021

O Pai do Conservadorismo Moderno
Em Reflexões sobre a Revolução na França, Burke mostra-se um feroz crítico da famosa Revolução, marco na transição para a contemporaneidade e do racionalismo iluminista. A obra foi escrita em forma epistolar, destinada a um intelectual francês, com argumentação contrária a qualquer inovação consistente em abrupta e violenta ruptura com as antigas instituições políticas, morais e religiosas.

Diferente da proposta reacionária, o "pai do conservadorismo moderno" não defende a manutenção absoluta do "status quo", mas reformar para conservar, sempre que for necessário. Sem perder de vista a preservação de tradições, valores e princípios provados pelo tempo e benéficos à sociedade, advoga que tais reformas devem ocorrer de maneira lenta e gradual. Nesta esteira, interessante sua proposta de que a sociedade vincula vivos, mortos e os que ainda vão nascer.

O radicalismo dos revolucionários franceses, vaticinou Burke, levaria o país à violência sem precedentes, o que ocorreu na fase do terror imposta pelos jacobinos pouco tempo depois. O contra-revolucionário Burke foi certeiro.

Outro aspecto do escrito diz respeito à entusiasmada defesa que o autor faz da monarquia constitucional britânica. O conservadorismo está relacionado com disposição e valores, mas não se pode olvidar o contexto do conservador envolvido. Burke, estadista anglo-irlandês, critica o sistema democrático no processo revolucionário.

São frequentes as citações de cunho cristão, revelando que o conservadorismo político de Burke teve forte influência da cosmovisão bíblica. Aliás, sua consciência da natureza humana pecaminosa (orgulhosa, egoísta, vaidosa e outros vícios) tornou-o cauteloso com propostas de inovações abstratas e presunçosas que prometiam o "paraíso" na terra a partir da destruição e desprezo de todo passado, principalmente dos fundamentos da civilização ocidental.

Leitura muito importante para formação da convicção em torno da retórica conservadora. Excelente.
comentários(0)comente



jrpsousa 20/07/2021

Um clássico atemporal.
Este é um dos melhores livros que já li. A profundidade com que o autor descortina as consequências da Revolução Francesa e as análises acerca do caráter estritamente religioso dos acontecimentos de 1789 se unem numa obra instigante.
Deixe de lado os preconceitos e embarque numa perspectiva diferente dos acontecimentos da Revolução, perspectiva mais afastada da visão progressista.

Perfeito ??
comentários(0)comente



Gabriel 25/09/2021

Clássicos são clássicos e eu não tenho a pretensão de vociferar contra o lugar que ocupam entre os leitores há décadas ou séculos. Entretanto uma leitura humilde que se faça de qualquer obra também deve ser acompanhada de uma posição sincera a respeito do que foi lido.

Custei um pouco a ler este livro, embora ele já estivesse na minha biblioteca há alguns anos. Reconheço que foi melhor assim porque é preciso certa bagagem intelectual para uma melhor compreensão de alguns livros -- e este certamente entra na lista.

Trata-se de uma compilação das cartas escritas por Burke em resposta a um jovem francês que lhe pedia opiniões acerca do que se passava na França durante o período inicial dos eventos revolucionários.

É preciso destacar o estilo de escrita burkeano, que insere adequadamente ironias refinadas em críticas certeiras. A revolução francesa suscitou muitas paixões e Burke não estava alheio a isso; ele próprio foi vítima das reações de seu tempo. Contudo, o seu olhar perspicaz se torna ainda mais digno de conhecimento por conta da forma como o assunto é tratado em simples cartas sem a pretensão de construir um tratado coeso a respeito da revolução.

Apesar dessas características positivas e de muitas outras que podem ser elencadas, há de se mencionar também aquilo que pode constituir uma dificuldade para o leitor: o livro segue exatamente o formato epistolar, então não há divisão capitular, aparecendo aqui e ali algum óbice para melhor entendimento do que está sendo tratado. Como eram cartas e o próprio autor preferiu manter dessa forma, nem sempre será possível contar com uma linha de raciocínio coesa. Mas isso é detalhe.

Para mim, acredito que o que mais causou enfado [e me surpreendeu negativamente] foi o serviço de editoração do livro. Não posso avaliar a tradução porque não conheço o texto original, mas a revisão do texto final deixou muito a desejar.

Não compromete a leitura da obra, mas não deixa de ser um objeto de irritação e desânimo para leitores insuportáveis como eu.

Mais à frente pretendo reler numa outra edição para confirmar se essas minhas impressões foram justas.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Rodrigo.Bittencourt 29/03/2022

Inteligente, mas extenso
Apesar de discordar da linha de raciocínio de Burke, é preciso reconhecer a coerência de seu pensamento e o cuidado que ele tem em analisar o objeto de estudo. O livro, porém, é muito enfático em suas críticas e parece demonstrar, pela história do autor, algum incômodo pessoal com as investidas da Revolução Francesa. Burke é, contudo, acurado em algumas análises que apontam a extrapolação cívica dos revolucionários e, por vezes, sua inexperiência e/ou ingenuidade técnica. A cautela que ele defende baliza alguns bons passos que se pode tirar do conservadorismo.
comentários(0)comente



26 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR