Victoria361 15/02/2023
O clássico noveleiro
Contexto: A narrativa em 3ª pessoa narra história de Luisa e Jorge, pertencentes à alta burguesia de Lisboa - imagine a burguesia dos anos 1870 em Portugal -, e a relação que precede a uma viagem de Jorge, que deixa a esposa, um tanto rabugenta, em casa com suas criadas. Com a distância do marido, é visitada frequentemente por seu primo Basílio, seu também ex-namorado. A história seria rasa, se Eça de Queiroz não fosse brilhante em trazer Juliana, a velha empregada da família à cena, que depois de anos de trabalho e nenhuma recompensa, se depara em frente à um adulterio da sua Senhora com seu primo. A chantagem está feita, assim como uma oportunidade de se vingar.
Minha opinião: Minha primeira leitura do Eça e eu amei muito. A construção dos personagens e da história em si é viciante, prende o leitor do começo ao fim. O jeitinho da Luisa e sua arrogancia as criadas, e Juliana em especial, é tão real e atemporal, que eu posso encontrar uma Luisa em Ipanema agora, assim como uma Juliana, ama que sempre foi considerada 'quase como um parente', sempre se doou, sempre ajudou e nada lhe foi retribuido, nem as devidas contas que ela precisaria caso não estivesse em condições. É uma sociedade burguesa e elitista, com viés imperaistas, que de forma alguma pensam em pessoas que sempre as ajudaram, como a Juliana, que sequer pode ter um colchão melhor, roupas melhores ou uma vida. O mais louco é que o autor teve tanto prazer em fazer essa obra, que eu sinto cada sentimento sem que seja descrito; a raiva da Juliana, a agonia e tentação que sentia Luisa, o desprezo nas palavras de Basílio e até a aurea de poder que o Jorge tinha. Já o mais engraçado- talvez não tanto - foi a entrega da Luisa com o Basílio, e a troco de nada, porque assim que fedeu pro lado dele, o bonito foi embora. Além de toda a prepotência e arrogancia com as pessoas da cidade, e teve à audacia de finalizar o que começou com a Luisa, e finalizar direito. Se Juliana não foi capaz se fazer o que queria, Basílio fez e nem porque tinha a intenção, afinal, ele não gostava tanto assim da Luisa. A coitada da Luisa, mesmo com o fim miserável e triste, sofreu o que tinha pra pagar, o que fez sua criada passar, e teve o fim similar.
Foi belissímo a forma que o Queiroz mostrou que independentemente do que acontece ao longo da vida, rico ou pobre, você tem o mesmo fim. É triste pela Luisa, pois acredito que seu fim foi causado pela própria culpa que carregava, assim como pelo esforço que exigia para o outro que voltou para si. Jorge, Sebastião, Basílio, todos erraram, e quem não está sujeito a erros que atire a primeira pedra. Ninguém é inocente, nem Juliana, nem Luisa e tão pouco Basílio. Tanta imagem distorcida, tanta exaltação de inteligencia e criatividade, inveja, uma sociedade falsa, de fachada, presa por essa ideologia cultural e burguesa, ainda assim, muitooooooo real.
Frase favorita: "Ao princípio a idéia do 'outro' pairava constantemente sobre este amor, pondo um gosto infeliz em cada beijo, um remorso em cada noite. Mas poupo a pouco esquecera-o tanto, o 'outro' [...] se não fosse a 'infame'!" (O primo Basílio, pág 304)