Middlesex

Middlesex Jeffrey Eugenides




Resenhas - Middlesex


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Andre.28 01/04/2020

A Trama Envolvente e Provocante do Genial Eugenides
Certos escritores desenvolvem trabalhos tão bem acabados que até fica difícil encontrar algo no qual nós possamos nos estender com críticas. Jeffrey Eugenides é um desses escritores que trabalham exaustivamente em seus livros, demonstrando todo um tipo de narrativa, de pesquisa e empenho que nos faz nos envolver em suas histórias. Em Middlesex, livro publicado em 2002 e que fez o autor ganhar o Prêmio Pulitzer de Ficção (2003) temos todos os elementos comuns de uma narrativa e trama envolventes.

O livro conta a história de Calíope “Cal” Stephanides e de toda família Stephanides. A narrativa começa com o próprio Cal contando a história de seus avós, Eleutherios “Esquerdinha” Stephanides e a Desdêmona Stephanides na Turquia até os seus pais, Milton “Milt” Stepanides e Theodora “Tessie” Stephanides nos Estados Unidos. Cal nasce com uma espécie de hermafroditismo, combinada com uma disfunção de gênero. Vivendo como menina a maior parte de sua infância e adolescência, Cal começa a puberdade com muitas coisas ainda indefinidas. Após muitas controvérsias, medos dos pais, uma família que vivia aos trancos e barrancos e pegando fogo, ela(e) vai se descobrindo. Cal é levada a uma clínica especializada e passa aos poucos tomar ciência da sua condição, e sua busca termina na fuga em meio a um processo de aceitação de sua identidade masculina.

A narrativa é fascinante, intrigante, envolvente e genial. Eugenides cria uma verdadeira novela com uma trama geracional, apresenta uma pesquisa farta sobre identidade de gênero, biologia anatômica, história grega, formação genética, comportamentos sexuais, questionamentos sociais e políticos da História estadunidense. Uma narrativa fabulosa, que atravessa gerações, apresenta comportamentos, e que passa desde o casamento parental entre os gregos do início do século XX até o medo de um adulto (Cal) de se relacionar pela sua condição de hermafrodita. Uma história que toca o dedo nas feridas, apresentando fatos da vida cotidiana e os problemas da sociedade estadunidense entre os anos 20 e anos 70.

A narrativa é muito sagaz, ao construir uma verdadeira trama, uma novela em duração além de uma marca geracional. O artifício da narrativa que alterna o passado e o presente, a Cal garota (embrião) até Cal (garoto/homem), é muito interessante. A narrativa pode parecer um tanto despretensiosa e lenta no início, mas aos poucos vai tomando forma e vai envolvendo o leitor de uma forma tal, que quando chegamos a parte da história da adolescência de Cal as coisas te despertam uma curiosidade maluca, quase que obrigando a não largar o livro. A parte da amizade da Cal com o “Obscuro Objeto” é a pare onde temos os momentos mais provocativos e mais angustiantes do enredo. (Tenho que parar por aqui, senão vou dar spoiler)

O mote “polêmico” do hermafroditismo e o gênero fluido tomam ainda mais a nossa curiosidade. Eugenides constrói uma trama com “T” maiúsculo. Envolvente, inteligente, provocador, polêmico e muito fascinante. A narrativa em primeira pessoa nos põe próximo aos personagens, que por sinal foram muito bem construídos. Uma narrativa fabulosa, que cobre uma perspectiva diferente, apresenta novas visões de um mundo, mergulha no passado e provoca no presente. Um enredo que mexe com a pessoa, faz refletir, desperta emoções e empatia no leitor. Enredo fantástico do genial Eugenides!
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Daniel 12/10/2012

"Olhando para ela, você se sentia no outono"
Um livro incrível, que não cabe bem nas definições que usamos habitualmente. Romance? (tem, e como!) Saga familiar? Romance de formação? Drama? Sátira?... É tudo isso e mais além.

A personagem principal, um (uma?) hermafrodita, em tese reduziria muito a questão da empatia do leitor por identificação... Pois o que acaba acontecendo é justamente o contrário: Calliope desperta os mais profundos sentimentos no leitor, que ri de suas observações sagazes, se condói com suas dores e frustrações, se apaixona e tem aquela sensação de “perder o chão” quando somos assolados por sentimentos tão agudos quanto o amor, medo e perda. Quem nunca achou sua própria família meio estranha? Quem nunca se sentiu inseguro numa nova escola? Quem nunca sentiu um pouco de medo num consultório médico? E quem nunca ficou obcecado de paixonite na adolescência e teve vontade de (parafraseando o Morrissey) escapar uma vida naufragada?

Se o livro fosse apenas a terceira e quarta parte, quando o foco é a história de Calíope, ele já seria extraordinário. Mas o autor volta duas gerações para explicar, ou melhor, deliciar o leitor com a história dos avós, apaixonados e incestuosos, e dos pais de nosso(a) herói(na), para narrar com maestria a saga desse gene recessivo que o(a) gerou.

Os demais personagens são igualmente fascinantes: a avó Desdemona, com seus casulos de bicho da seda e suas previsões do sexo de bebes intra abdominais; Milton, o pai de Calliope, se seu clarinete apaixonado tocando "Begin the Beguine" para sua amada Tessie; o irmão hippie Capítulo Onze (que nome é esse pra um personagem?!); e a apaixonante Obscuro Objeto, exalando charme e sedução entre cabelos ruivos e cigarros mentolados...

Há trechos que tive vontade de marcar de vermelho, de tão lindos e interessantes, como uma reflexão, logo no começo do Livro Três, sobre como a linguagem e/ou as palavras são inábeis para exprimir os sentimentos... Tipo: existem alegrias e alegrias: a alegria de ganhar na loteria é muito diferente da alegria do primeiro filho. Dá pano pra muita discussão e muita filosofia.

E o mais importante: a maestria do autor Jeffrey Eugenides em contar uma boa história e criar imagens líricas de tirar o fôlego. É o que faz "Middlesex" estar tão acima da média entre tantos livros.

Arsenio Meira 20/12/2012minha estante
Daniel, MIDDLESEX foi o melhor livro que li neste belo ano. Um presente. Eugenides extraiu leite de pedra. Só mesmo um escritor de primeira linha revela-se capaz de criar um enredo deste naipe, e dele retirar o sumo da ironia, do picaresco, do que é dramático e lancinante.

Sua resenha foi no alvo. O romance nos dá de bandeja um rol composto por inseguranças, crises, amores antigos, trágicos; mas Eugenides achou pouco, e no meio disso tudo, imprimiu passagens do mais puro lirismo. Calliope é um personagem marcante.

Impossível escapar impune ao terminar de ler MIDDLESEX.

Comprei o livro, maas antes vi a avaliação dele aqui no Skoob, sem ler a sinopse e as resenhas (hábito que terminou sendo virando um vício, kkkk), e foi uma grande experiência. Daí venho compartilhar com você e todos os que amam a boa literatura.

Livraço. Recomendo mil vezes.

Ps - No dia em que comprei o livro, o vendedor me abordou e expôs resumidamente a opinião dele sobre a obra: "livro fraco, maluco, horrível." Bom, a democracia permite a qualquer um a liberdade de expressão, no sentido mais digno do termo... e o direito de ir e vir. Também exerci meu direito. Agradeci os préstimos dele, mas deixei claro que levaria o livro nem que tivesse que pagar em dobro...


Daniel 09/08/2013minha estante
Rs... Este vendedor devia ser preso... Ou pelo menos mudar de ramo, de livro ele não entende nada!


Nanci 03/10/2013minha estante
Daniel:
Quando li essa resenha pela primeira vez, fiquei muito interessada e frustrada, pois o livro estava esgotado. Hoje, por acaso, o encontrei esquecido numa banca de livros novos... A exemplo de Luz Antiga, este livro vai furar minha fila de leituras - que delícia :)
Obrigada & abraço, da Nanci.


none 22/01/2015minha estante
Adorei a resenha, Daniel. Encontrei o livro em um sebo perto de casa. Já estava na minha lista de leituras, agora está na de prioridades. :D




Yago 09/10/2021

Precioso
Não se deixe enganar pelo ritmo do livro (que é um tanto lento). Temos um diamante aqui. Não é à toa que venceu o prêmio Pulitzer.
O livro retrata a realidade de um homem trans, mas esse não é o único ponto alto.
A construção e desenvolvimento de TODOS os personagens, a ambientação, a cronologia (passando por três gerações com muito detalhamento)... é inacreditável!
Só não ganhou cinco estrelas pois usa de muitos nomes estrangeiros (em sua maioria alemães), e deixa a leitura menos acessível.
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DIRCE 04/03/2014

Herança Maldita
Com um título deste:“Middlesex” esse livro nunca me acharia, porém, felizmente,a resenha da Nancy fez com que eu o achasse. Trata-se de um livro bem volumoso–567 páginas, mas graças ao enredo, a narrativa (quando admissível carregada de humor e a minha paixão (já confessada em comentários anteriores) pela Mitologia Greco-Romana, conclui a leitura rapidamente.
Minha paixão pela Mitologia Greco-Romana deve-se ao fato de imprimirem às fraquezas humanas explicações carregadas de beleza. A explicação para o mito de Hermafrodito é de que ele é fruto de um relacionamento adúltero da deusa Afrodite com o deus Hermes. Envergonhada da sua conduta, Afrodite deixou Hermafrodito aos cuidados das ninfas. Hermafrodito,até os 15 anos, vivia tranquilo na região da Frígia(hoje faz parte da Turquia)porém, como todo adolescente,começou a ansiar por novos horizontes. Durante suas andanças Hermafrodito se deparou com Salmacis ( ninfa das águas) que por ele se apaixonou perdidamente e tentou seduzi-lo, porém o jovem e belo deus ignorou a ninfa. Restou a Salmacis a astucia: ela esperou o momento oportuno e, quando Hermafrodito acreditando estar só entrou nas águas para se banhar, a ninfa se enlaçou no jovem e o beijou. Transtornada pelo amor e desejo ao ver que Hermafrodito tentava dela se desvencilhar invocou aos deuses para nunca mais separá-los. Desejo atendido. Os corpos de Salmacis e Hermafrodito se misturam assumindo uma forma dupla: homem e mulher. Aflito Hermafrodito amaldiçoou o lago condenando a todos que se banhasse nesse lago sofreria a mesma transmutação que ele.
Cal,o jovem narrador e um dos protagonista do livro, pode até não ter se banhado no lago amaldiçoado, mas certamente recebeu a herança maldita dos seus antepassados que provavelmente banharam-se no lago e consequentemente sofreram uma mutação genética, já que é sabido que os deuses não perdoam.
Bem, Cal inicia a narrativa dizendo que teve dois nascimentos: em Detroit, em janeiro de 1960, e depois, quando adolescente- em agosto de 1974 em um ambulatório de emergência. Ao relatar essa lacuna do tempo, Cal se vê obrigado a retroceder para o final do verão de 1922, e para o alto das encostas do Monte Olimpo, na Ásia Menor, onde tudo começa. Começa a Odisseia dos seus avós Desdemona Stephanides e Lefty e ,por meio da narrativa, ficamos conhecendo os seus pecados, as agruras a que foram submetidos em decorrência do conflito entre a Grécia e a Turquia que os levaram a imigrarem para Detroit. O retrato de uma época emerge no romance: A Lei Seca no U.S.A, o preconceito racial, a aculturação. Enfim.
Apesar de todos os dissabores a narrativa é cativante e muitas vezes hilária graças as personagens carismáticas como Lina e Desdemona e a própria Callis.
Entretanto, a medida que Callis vai crescendo a narrativa vai assumindo ares dramáticos e quando Callis está prestes a completar 14 anos, torna-se impossível não sofrer por Cal e com Cal.
Nos meus comentários, tenho a preocupação de não me estender muito, porém preciso me manifestar acerca do título da obra: “Middlesex”. Fiquei muito intrigada. Não entendia o porquê desse título o que me motivou fazer uma breve pesquisa. Fiquei sabendo que há uma universidade em Londres chamada Middlesex (???). Nada que justificasse o título, até que finalmente, lá pelas tantas, surge a Avenida Middlesex onde Milton acaba adquirindo uma casa nada convencional. Acredito que talvez a simbologia da casa seja o rompimento com o convencional, com as tradições, rompimentos que levam a total aculturação, mas mesmo diante dessa hipótese continuo incerta sobre a pertinência do título.
Outro fato que não me agradou foi o destino dado ao Milton – saiu do roteiro. Não percebi a necessidade de um desvio para um gênero a la policial, mas como saber as intenções do Jeffrey Eugenides.
Confesso que fiquei em dúvida quanto a minha avaliação: 4 ou 5 estrelas? Aí me veio à lembrança o finalzinho do livro: o lampejo de lucidez da yia yia, a sua triunfal aparição, a sua aceitação de Calliope como Cal dissiparam qualquer dúvida reinante. Fui nocauteada por essa passagem linda e enternecedora.
Finalmente, considerando que algum futuro leitor desse livro possa ler esse meu comentário, sinto-me impelida a esclarecer que mesmo havendo referência a Mitologia, Jeffrey Eugenides se baseou em explicações cientificas para abordar o hermafroditismo.


site:
Arsenio Meira 05/03/2014minha estante
O lance do título também me pegou, kkkk
Fiquei embatucado, enquanto lia. Como, Middlesex ?
Então,como vc graciosamente citou, eu também lá pelas tantas me deparem com a avenida e a aquisição da casa, que é "subversiva", e que serve de símbolo como resistência ao óbvio. Excelente resenha, inclusive quando abordastes o período em que chegam e se deparam com um país infestado por uma lei que só fez mesmo beneficiar a máfia e o contrabando, além do asqueroso preconceito racial. A resenha da Nanci é um convite ao romance, e a do Daniel Boratto também. Agora juntam-se a sua, Dirce. Que todos peguem "ar" e embarquem nesse romance que é, sem dúvida, acima da média. A leitura nos prende, e Eugenides não recorreu a nenhum truque para isso, apenas ao enorme trunfo de sua presteza literária. Abraços!


Nanci 06/03/2014minha estante
Dirce:

Tão gratificante saber o quanto você gostou de Middlesex.

Sua resenha ficou perfeita: deve ser porque você a escreveu com a paixão que tem por mitologia greco-romana e por um bom livro.

Parabéns!

Beijo, da Nanci.


DIRCE 07/03/2014minha estante
Obrigada a ambos.
Obrigada pelo elogios e pelas resenhas feitas por vocês. Elas deixam em alvoroço o bichinho do interesse.




Lauraa Machado 03/07/2021

Bom, mas desnecessário em algumas partes
Essa foi uma das leituras mais difíceis da minha vida. Não que a escrita de Jeffrey Eugenides seja super complexa, que sua trama seja complicada ou qualquer coisa assim. Foi difícil, porque eu não conseguia mais me importar com os milhares de detalhes inúteis e redundantes e fiquei cada vez mais irritada quando percebi que a parte mais importante, a mais interessante, não seria abordada como merecia.

Eu não sei vocês, mas o que eu queria de Middlesex era ler sobre Cal. Não sua avó, não seu avô, não a guerra em Smyrna, não a depressão, não seus pais, não seu irmão, nada disso. Não sou completamente contra um livro estilo saga familiar, acho até interessante, mas a parte do Cal foi tão rápida comparada às outras, que acabei ficando revoltada. A história da avó dele, Desdemona, por exemplo, era interessante, mas depois de se arrastar por umas trezentas páginas e engatar na dos pais dele, minhas esperanças de saber mais sobre Cal foram diminuindo.

Eu gostei da escrita do autor, gostei de como ele descrevia os acontecimentos, de verdade. Gostei bastante da Desdemona, por exemplo. Só acho que faltou equilíbrio entre todas as partes da história e, se era para uma delas ter mais foco, preferia que fosse a do Cal. Afinal, achei que a dele foi a menor de todas, a mais corrida, apesar de ser o que realmente carrega o resto da história.

Entendo que a parte dele foi a mais pesquisada, enquanto o resto era mais inspirado na vida da família do próprio autor, então ele tinha mesmo mais material para o resto. Mas ainda acredito que isso, apesar de ter facilitado sua escrita e diminuído bastante o risco de criar uma história para Cal para além de sua família, vai contra a expectativa que a sinopse e o livro criam.

O livro é bom, quem sou eu para falar que não é, e gostei mesmo da prosa do autor, mas foi uma leitura chata, cheia de detalhes irrelevantes e demorados que transformaram toda a experiência em um incômodo absurdo para mim, infelizmente. Não sei dizer se recomendo, mas acho que, se você tiver se interessado pelo livro, saiba que é mais saga familiar do que a história de Cal. Ele só é uma parte bem pequena de todo o enredo.
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Higor 19/06/2021

'20 melhores livros do século 21': Livro 12
É impossível não se sentir aguçado por Middlesex, seja pelo título curioso e sugestivo, mas que descobrimos depois se tratar de algo totalmente diferente; a capa com um misto equilibrado e clássico e moderno, ou até mesmo o assunto, sobre a vida de uma pessoa hermafrodita.

Para impulsionar mais o interesse pelo livro, temos ainda sua vitória em alguns prêmios literários importantes, sendo o maior deles o Pulitzer de 2003, e, por fim, uma menção em uma posição confortável na lista de 20 melhores livros do século 21.

Apesar de tantas láureas e aclamações, Middlesex é um livro frustrante em diversos pontos técnicos, ainda que suas honrarias se sobressaiam, afinal, muito da história é, de fato, empolgante e interessante.

Sendo uma versão moderna e europeia e romances como Cem anos de Solidão e A casa dos espíritos, em que o fio condutor de três gerações de famílias e suas histórias são contadas, temos aqui a família Eleutherios Stephanides, um jovem órfão que mora com sua irmã, Desdêmona na Grécia, onde mantém uma fazenda e produção de seda. Quando os turcos invadem a Grécia, ambos fogem para a Turquia, em Esmirna, onde dias depois ocorre o fatídico Incêndio de Esmirna, em que cerca de 100.000 gregos morreram.

Para fugir da Turquia, os Stephanides fingem ser parisienses para entrar em um navio, e depois embarcam rumo à América, onde uma prima distante os ajudará a ter um novo começo. É quando declaram seu amor ao outro e iniciam aí uma relação incestuosa. Só quando do nascimento de Zoe que Desdêmona descobre que frutos de relações incestuosas costumam nascer com doenças, então se reprime sexualmente, dando a luz, por fim, a Milton.

Milton, depois de suas próprias desventuras e problemáticas de segunda geração, se casa com Tessie, sua prima de primeiro grau, dando a luz, assim, a nossa protagonista onisciente, Callíope, uma moça que, já na primeira linha do livro sabemos ser hermafrodita, por ter nascido com uma mutação conhecida como deficiência de 5α-redutase, em que, de maneira resumida, causa ambiguidade genital.

Middlesex é um livro bastante amarrado e que o leitor tem a história em suas mãos, afinal, trata-se de um livro de 600 páginas; além disso, o próprio Eugenides não tem pressa em nos contar a história dos Stephanides, logo, descrições são contadas sem pressa, assim como o incêndio em Esmirna, ou o modo de vida de Desdêmona e seu irmão e suas produções de seda; muito menos ainda a descoberta da sexualidade e as reprimendas de Callíope.

São fatos incontestáveis que, apesar de tornar o livro um tanto cansativo, a leitura inicialmente pesada e, por que não dizer?, até mesmo prolixa, apenas nos mostram como o autor queria contar uma história sem furos, condizentes com dados históricos e extensas pesquisas feitas, mas é justamente nesse cuidado com os furos que os mesmos se sobressaíram em diversos momentos. A narração onipresente de Cal beira o desconforto, pois a mesma narra com riqueza de detalhes coisas que sequer seriam possíveis, como o pensamento da avó quando jovem, sozinha em casa, enquanto o irmão estava bebendo em outro canto da cidade, ou quando o próprio pai sofre um acidente de carro e é narrado por Cal, que está há milhares de quilômetros de distância.

São fatos que me deixaram desconfortável com a leitura, e até mesmo um tanto distante de Cal e de tudo o que estava acontecendo naquelas páginas. Não que eu senti apatia pelo que lia, mas, ao mesmo tempo, não me vi empolgado com os acontecimentos e nem esperava ansiosamente pelo desfecho.

Um pouco mais enxuto e ágil, Middlesex seria um livro ainda mais poderoso sobre identidade de gênero, interssexualidade, relações raciais, étnicas e culturais, pois seus temas abordados são, por si só, incríveis e instigantes, e embora tenha falado sobre de maneira eficiente, Eugenides talvez tenha pesado a mão e deixado tudo um pouco enfadonho.

Um pouco menos épico que o esperado, como são de fato as histórias de origem grega, Middlesex cumpre com ressalvas seu papel de contar a história da geração de uma família atípica. Um livro memorável para o século, ainda assim, apesar de pouco lapidado.

'20 melhores livros do século 21' é uma lista encomendada pelo site de cultura da BBC, em que diferentes especialistas foram responsáveis por eleger os melhores livros do mais recente século. Conheça os demais livros, todos já resenhados:

13. Americanah, Chimamanda Ngozi Adichie
14. Austerlitz, W.G. Sebald.
15. A amiga genial, Elena Ferrante.
16. A linha da beleza, Alan Hollinghurst.
17. A estrada, Cormac McCarthy.
18. NW, de Zadie Smith.
19. 2666, Roberto Bolaño.
20. O grande incêndio, Shirley Hazzard.

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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Paty 19/03/2014

Este é um livro que merece ser lido: seja pela forma como o narrador corta desinibidamente a linearidade do livro como se fosse o diretor de um filme, seja pelas cenas dolorosas que Jeffrey Eugenides nos apresenta.

Em tempo: as ações de todos no livro são sempre muito questionáveis, mas as justificativas para essas ações são sempre humanas demais. O leitor fica completamente impedido de julgar aqueles que está conhecendo.
DIRCE 19/03/2014minha estante
Concordo com você, Paty.
Qualquer tipo de julgamento se torna impensável.
Abraços.




GilbertoOrtegaJr 19/06/2016

Middlesex – Jeffrey Eugenides
Uma coisa engraçada que aconteceu com Middlesex é que este livro se tornou conhecido por supostamente ser a história de um hermafrodita (na verdade pseudo-hermafrodita), e entre os leitores muitas pessoas começaram a correr atrás deste livro achando que a trama se baseava só nisso, e claro, são muitos os leitores que tiveram uma surpresa, pois o livro está muito mais para saga familiar do que para somente a história de um hermafrodita.

Narrado por Cal, cujo nome original é Calliope Stephanides, um hermafrodita de quarenta e um anos, que desde quando nasceu até seus quatorze anos foi criado como uma menina, o livro passa por três gerações de uma família grega que se mudam para os Estados Unidos, e abrange dentro de suas 567 páginas vários importantes episódios da história do século vinte, sobretudo a dos Estados Unidos com temas como: a guerra do Vietnã, os protestos das populações negras, a lei seca dentre outros acontecimentos que se situam nas décadas de 50 e 60 do século vinte.

Tudo começa com os avós de Cal, que moravam em uma montanha na Grécia, próximo ao Monte Olimpo, lá Desdemoda e seu irmão Lefty acabam se apaixonando e se casando, em pouco tempo eles acabam fugindo da Guerra e embarcando em um navio para os Estados Unidos, onde uma das primas do casal os esperam. Após alguns anos Desdemoda e Lefty tem um filho, Milton, que acaba por se casar com sua prima Tessie, e é a partir desta mistura genética que acaba sendo gerada Calliope, a segunda filha do casal (cujo primogênito se chama Capítulo doze), quando ela nasce não é diagnosticada como sendo um (a) pseudo-hermafrodita, e é criada até seus quatorze anos como uma menina, mas acabam de certa forma descobrindo que ela na verdade é um homem.

Enquanto tudo isso acontece passamos por um panorama dos anos 50 e 60 dos Estados Unidos; a lei seca, os protestos raciais em 1967, a guerra do Vietnã, e dentro destes acontecimentos se situa a saga de uma família grega que vive na em Detroit e busca se adaptar em seu novo país e sua nacionalidade, quem mais sofre com isso é Desdemoda, seja com seus bichos da seda, com sua colher de prata, ou seu profundo medo de em algum momento a genética trair seu segredo tão bem guardado ( o de que se casou com seu irmão).

Middlesex é um livro que apesar de seu tema inusitado, também é muito complexo de classificar ele transita facilmente entre saga familiar, romance de formação ou sátira a sociedade. Ao longo da trama o leitor tem em mãos um romance profundamente interessante e envolvente, que vale muito a pena, independente do gênero, é um tributo a genética e as famílias gregas e suas constantes tragédias, e talvez não só a elas se considerarmos que toda família é um microcosmo de pequenas tragédias particulares, sem que caia no melodrama ou em uma narrativa apelativa.

Eu não posso comparar as duas edições que existem lançadas no Brasil, mas se fosse julgar pela capa eu prefiro muito mais a minha edição (da editora Rocco), que acho a capa muito mais bonita, e na lombada temos um Cadillac que é uma peça importante na história da família de Callie

site: https://lerateaexaustao.wordpress.com/2016/06/20/middlesex-jeffrey-eugenides/
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Lauraa Machado 03/07/2021

Bom, mas desnecessário em algumas partes
Essa foi uma das leituras mais difíceis da minha vida. Não que a escrita de Jeffrey Eugenides seja super complexa, que sua trama seja complicada ou qualquer coisa assim. Foi difícil, porque eu não conseguia mais me importar com os milhares de detalhes inúteis e redundantes e fiquei cada vez mais irritada quando percebi que a parte mais importante, a mais interessante, não seria abordada como merecia.

Eu não sei vocês, mas o que eu queria de Middlesex era ler sobre Cal. Não sua avó, não seu avô, não a guerra em Smyrna, não a depressão, não seus pais, não seu irmão, nada disso. Não sou completamente contra um livro estilo saga familiar, acho até interessante, mas a parte do Cal foi tão rápida comparada às outras, que acabei ficando revoltada. A história da avó dele, Desdemona, por exemplo, era interessante, mas depois de se arrastar por umas trezentas páginas e engatar na dos pais dele, minhas esperanças de saber mais sobre Cal foram diminuindo.

Eu gostei da escrita do autor, gostei de como ele descrevia os acontecimentos, de verdade. Gostei bastante da Desdemona, por exemplo. Só acho que faltou equilíbrio entre todas as partes da história e, se era para uma delas ter mais foco, preferia que fosse a do Cal. Afinal, achei que a dele foi a menor de todas, a mais corrida, apesar de ser o que realmente carrega o resto da história.

Entendo que a parte dele foi a mais pesquisada, enquanto o resto era mais inspirado na vida da família do próprio autor, então ele tinha mesmo mais material para o resto. Mas ainda acredito que isso, apesar de ter facilitado sua escrita e diminuído bastante o risco de criar uma história para Cal para além de sua família, vai contra a expectativa que a sinopse e o livro criam.

O livro é bom, quem sou eu para falar que não é, e gostei mesmo da prosa do autor, mas foi uma leitura chata, cheia de detalhes irrelevantes e demorados que transformaram toda a experiência em um incômodo absurdo para mim, infelizmente. Não sei dizer se recomendo, mas acho que, se você tiver se interessado pelo livro, saiba que é mais saga familiar do que a história de Cal. Ele só é uma parte bem pequena de todo o enredo.
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Leila 28/01/2023

Eita que esse janeiro tá sendo bom de leituras. Pelo menos isso na minha vida tá dando certo! Mais um livro sensacional, um pequeno tijolinho, mas que valeu cada página investida. Uma pena esse livro ser tão pouco comentado e lido por aqui, do autor o famosinho é As virgens suicidas, muito provavelmente por conta do filme da Sophie Coppola (outro bom livro também). Em Middlesex temos uma saga familiar, contada pela caçula da família que nasceu hermafrodita, foi criada como menina e na adolescência as coisas começaram a complicar e se descobriu menino. Fisiologicamente era um menino. Mas a história é muito mais do que isso, remonta desde os bisavós e toda a trajetória dessa família grega que vem parar nos Estados Unidos e fincar raízes nas Américas. Os relatos vai passando personagem por personagem com uma riqueza de detalhes e emoções que é muito difícil não se envolver na história. Ao longo da narrativa além de acompanharmos a trajetória dessa família, também percorremos muitos fatos históricos sobre os EUA em paralelo, sem contar as várias referências à cultura grega, que é sempre muito interessante. Enfim, gostei muito da leitura e recomendo.
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alineaimee 25/04/2014

Middlesex é o primeiro livro de Jeffrey Eugenides que leio. Faço essa afirmação porque já pretendo ler As virgens suicidas, romance de estreia que projetou o escritor americano, nascido em Detroit. Middlesex me foi presenteado pela querida Denise, e eu nada sabia sobre ele. Tinha uma memória vaga de tê-lo visto numa foto de um dos meus blogs de look favorito, o Flashes os Style. Nada mais além disso.

O livro acabou entrando na minha longa lista de pendências literárias, até que notei seu nomezinho na lista de leitura da Rory Gilmore. Pensei: “Por que não? Eis uma chance de atualizar essa lista”. E retirei o calhamaço de 567 páginas do vago limbo onde ele me esperava.

Middlesex tem um enredo um tanto bizarro. Toda vez que eu falava dele com amigos, as pessoas faziam careta e diziam algo como “HEIN???”. O romance narra a história de Calliope Stephanides, um menino hermafrodita criado como menina até os quatorze anos. Até então, tudo bem. Enredo intrigante, não? Acontece que estamos diante de um romance de formação, onde Cal (o nome que Calliope adotou após assumir sua condição masculina) narrará com riqueza de detalhes sua história, remontando aos avós gregos que viviam na aldeia de Bitínia, na província turca de Esmirna. Não se preocupem com spoilers, pois essa é uma informação dada logo de cara no início do romance.

Por que, então, o enredo é bizarro? Porque Cal irá fazer um verdadeiro panorama em torno das condições que o geraram: fará relatos históricos sobre a Guerra Greco-Turca, sobre o Grande incêndio de Esmirna, sobre a Guerra do Vietnã, a lei seca, o sonho americano e a segregação racial; falará sobre as relações endogâmicas na história de sua família; fará descrições científicas a respeito da deficiência de 5-alfa-redutase que determina a sua condição; tecerá inúmeros paralelos entre a sua história e a mitologia grega; refletirá sobre as identidades de gênero. É um romance rico, sem sombra de dúvida, mas um romance incômodo, perturbador.

Em primeiro lugar, Middlesex é narrado em primeira pessoa por um narrador onisciente. Cal nos apresenta os fatos como se fosse dotado de consciência eterna, conhecendo dados muito anteriores ao seu nascimento. É difícil não lembrar da sabedoria acumulada pelos andróginos Tirésias e Orlando.

O recurso mais perturbador, no entanto, é o tom zombeteiro e bem humorado que permeia a obra, mesmo nos momentos mais desoladores. Não há transição de registros. O narrador vai apresentar assassinatos, perdas e violências sexuais com a mesma leveza com que narra uma ida ao cabelereiro. O leitor não é preparado para esses momentos. Simplesmente toma uma voadora na cara quando menos espera. Minha primeira reação foi repulsa. Eu não queria uma solenidade melodramática, mas esperava ao menos uma imparcialidade cuidadosamente introduzida. É incômodo deparar-se com uma ação desumana quando poucos minutos atrás estávamos envoltos numa atmosfera de humor ou de lirismo. Comecei a achar o estilo narrativo de Eugenides esquizofrênico até que me dei conta de que essa era uma maneira interessante de simular o desconforto do protagonista. Fruto de uma educação pudica, Calliope não compreendia com clareza as transformações que a puberdade lhe trazia, o que culminaria numa reação de revolta e ruptura definidoras. Terá sido uma escolha consciente do autor?

"As moças estão trabalhando, rindo; às cinco da madrugada já estão doidonas demais para se importar com as coxas em carne viva e os resíduos masculinos que nenhuma quantidade de perfume consegue disfarçar. Não é fácil se lavar na rua, e as partes íntimas das moças já ostentam um cheiro de queijo francês bem mole e maduro... Elas também pouco se importam com os bebês que largaram em casa, nenéns de seis meses deitados em berços de segunda-mão, gripados, chupando as chupetas e respirando com dificuldade... e pouco se importam com o gosto de sêmen que trazem na boca junto com o hortelã do chiclete. A maioria delas não tem mais que dezoito anos; e aquele meio-fio na rua Doze é, na verdade, o seu primeiro local de trabalho, o máximo que o país tem a oferecer como de vocação. Para onde elas vão depois? Pouco se importam com isso também, a não ser uma ou duas, que sonham virar carteadoras em Atlantic City ou abrir um salão de beleza..." (p.259)

Compreendido e superado esse curioso recurso narrativo, devo reconhecer que Eugenides escreve com elegância e fluidez e, principalmente, sabe como construir bons personagens. Há muita sensibilidade na descrição das pessoas e dos lugares: o misticismo da avó Desdêmona, com seus bichos-da-seda, suas promessas, superstições e previsões quanto ao sexo dos bebês; a energia e o charme do avô Lefty; a transformação do pai, Milton, do enamorado clarinetista ao empresário mal-humorado e sovina, mas também sonhador; a precocidade e a sensualidade natural de “Objeto Obscuro”, primeiro amor de Cal...

"Embora Lefty jamais tenha me dito uma palavra, eu adorava meu papou chapliniano. Sua mudez me parecia um ato de refinamento, combinando com as roupas elegantes, os sapatos com palas de tecido e o cabelo reluzente. Mas Lefty não era nem um pouco emproado, e sim brincalhão, até cômico. Quando me levava para passear de carro, frequentemente fingia adormecer ao volante. O carro se desgovernava e se aproximava do meio-fio. Eu ria, gritava, puxava o cabelo e dava pontapés no ar. No último segundo, Lefty acordava de supetão, agarrava o volante e evitava o desastre." (p.284)

Os personagens que rodeiam Cal são de uma riqueza que nos afeiçoamos com facilidade. Torci, vibrei e sofri de verdade com cada um deles. O curioso é que, apesar da riqueza de detalhes, sensações e personalidades, Cal/Calliope é o personagem que menos toca. O narrador se empenha tanto na construção esmerada dos demais personagens que acaba oferecendo pouco de si. Temos algumas de suas reações, seus medos, contradições e angústia, mas senti falta de reflexões mais ensimesmadas, especialmente quando se trata de situação tão delicada quanto a intersexualidade. A história de Cal é determinada por acontecimentos históricos, sociais, biológicos, mas também por acasos. Ela, ao mesmo tempo, espelha a história mundial, que é comentada a todo instante. Na ambição de abarcar todas essas esferas, o autor acabou deixando pouco espaço para que Calliope/Cal se nos revelasse de modo mais aprofundado.

Outra questão interessantíssima que emerge da leitura é a da escrita feminina em oposição à masculina, que não é posta claramente pelo narrador, mas que nos leva a refletir se há de fato tal divergência linguística. Aqui, não darei o veredito. Deixarei o gostinho para quem se aventurar na leitura.

Dá para entender porque Middlesex ganhou o Pullitzer e o National Book Award. É um romance doce, engraçado, sério, comovente — complexo como a vida. É múltiplo e trata, de maneira envolvente e cativante, de questões polêmicas e caras à compreensão do humano.

"Desde a mais tenra idade percebiam o pouco valor que o mundo dava aos livros, e portanto não perdiam tempo com isso. Já eu insisto até hoje em acreditar que estas marcas negras em papel branco têm a maior importância, e que se eu continuar escrevendo talvez consiga capturar o arco-íris da consciência numa jarra. A única poupança que tenho é esta história, e ao contrário dos prudentes anglo-saxões brancos e protestantes, estou recorrendo ao meu capital e gastando tudo..." (p.323)


site: http://www.little-doll-house.com/2014/04/middlesex.html
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edzlke 27/03/2023

Sublime! Apolíneo!
Incrível, em cada pedacinho!
O livro começa com uma pegada mais realismo fantástico, me lembrou muito Gabriel García Márquez e eu amei na mesma medida, tanto que arrastei a leitura pra durar aquela sensação de Cem Anos de Solidão pelo máximo de tempo que eu pudesse.
Os personagens eram caricatos, a prosa era bem humorada, o enredo era surpreendente? e eu uso ?era? porque deixou de ser assim um pouco antes da metade. As novas gerações da família Stephanides acabaram com essa aura mitológica, e talvez tenha sido proposital, porque estamos falando de uma nova realidade: capitalismo, fast food, American way of life, entre outras diversas modas estadunidenses que povoaram o século XX.
Isso, no entanto, não torna o livro pior ou melhor, apenas acrescenta uma nova nuance fácil de compreender e cuja narrativa é cativante na mesma medida que a do primeiro terço do livro.
Esse livro me ensinou de fato o que é uma pessoa hermafrodita, já que na escola eu ouvi umas explicações que no fim não tiveram nada a ver com o que eu li ? ou eu que entendi tudo errado enquanto estudava, enfim, outras épocas da vida, né, kkkkk
Por fim, o enredo é bem redondinho, não tem pontas soltas. Temos em momentos da narrativa essa criança que entende tudo, de repente esse adolescente que vive um dilema e não compreende absolutamente nada e experimenta diferentes realidades e, no fim, um adulto que se importa em explicar a si mesmo, pois se encontrou e encontrou a compreensão em alguém do que ele verdadeiramente é.
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01/02/2016

Entrou para a minha lista de favoritos de todos os tempos, e sofre do mal dos livros que compõem essa lista: a gente nunca consegue falar deles de uma forma satisfatória e justa. Que livro incrível!

É difícil descrever esse livro, porque acho que o que chama atenção é o fato de ser narrado por um intersexual. Era inclusive a única coisa que eu sabia a respeito, mas vai muito além. MUITO! É uma saga familiar intrincada com acontecimentos reais contada de uma forma tão gostosa de ler e com personagens tão fantásticos que no fim você sente até saudade deles.

Ganhou o Pulitzer em 2003 e foi mais do que merecido. Fico imaginando a dificuldade do autor em entrelaçar todos esses pontos complexos da narrativa sem parecer bagunçado aos olhos do leitor. E que pecado ele ser conhecido mais pelo Virgens Suicidas. Essa é uma obra muito superior, e olha que eu amo o Virgens Suicidas também.

Começa com o Cal, personagem principal, falando que nasceu duas vezes. Uma como menina e outra como menino aos 14 anos. Aí você já fica intrigado, “como assim?”, e ele explica que ele é intersexual e para que possamos entender o presente, ele precisa explicar o passado, mais precisamente as ações de sua família. E assim ele começa, a partir de seus avós gregos lá no começo do século XX, passando por seus pais e por fim, chegando nele. São três gerações de muitos acontecimentos, para dizer o mínimo.

É fenomenal como o autor vai costurando essa história da família do Cal - que por si só já é interessante - com a Guerra Greco-Turca, o Grande Incêndio de Smyrna, a ascenção e queda da indústria em Detroit, o surgimento da Nação do Islã nos Estados Unidos, os motins de Detroit em 1967 e outros marcos históricos. Tudo isso sem ser forçado e encaixando perfeitamente no contexto.

Mas o mais legal é a autodescoberta da Calliope – o Cal do começo da história - em si. De ter uma ânsia enorme em ser “normal” e não chamar atenção, quando na verdade a vontade que ela tem vai contra aquilo que a sociedade espera dela. Gera uma discussão bem interessante acerca da identidade de gênero.

Tem muito mais nas entrelinhas e conta com camadas e camadas a serem exploradas, por isso só sei que quando terminei a leitura, a minha vontade era reiniciá-la de imediato, tamanho o meu amor por essa obra.
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MarcosQz 17/07/2020

Leitura prazerosa e excitante
Middlesex é um livro único. É um romance, um drama e até diria que uma biografia muito boa, apesar de não ser uma biografia.
Uma história com todas as medidas de romance, drama, aventura, suspense e comédia equilibradas, nem demais e nem de menos. Calíope, ou Cal, sabe como contar uma boa história voltando três gerações da família Stephanides, momentos antes de seus avós fugirem da Grécia e passa pelas duas guerras mundiais, a grande depressão, lei seca, segregação racial, até chegar no ponto em que sua vida começa.
Cal diz que nasceu duas vezes, uma em 1960 e depois em 1974 por condições que ficam claras bem no início do livro, sendo a segunda o momento em que ela, ainda ela, descobre que é hermafrodita.
A história de Cal é sobre seus avós, seus pais, seu irmão, não é só dela, não é apenas sua vida, mas tudo o que aconteceu para que ela venha a ser o que é.
O livro é rico em cultura e eventos mundiais, cheio de fatos históricos que são um presente, é como uma viagem ao passado. Além de abordar de forma graciosa, simples e bela questões de gênero e sexualidade.
No bom sentido da palavra, Middlesex foi uma leitura prazerosa e excitante.
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