Middlesex

Middlesex Jeffrey Eugenides




Resenhas - Middlesex


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Ana Paula 01/06/2020

"Nasci duas vezes: primeiro como uma bebezinha, em janeiro de 1960, num dia notável pela ausência de poluição no ar de Detroit; e de novo como um menino adolescente, numa sala de emergências nas proximidades de Petoskey, Michigan, em agosto de 1974."
A história é narrada por Cal, que volta no tempo dos seus avós para explicar a mutação no seu gene.
Seus avós fogem da invasão turca, se casam no navio e vão para Detroit morar na casa de uma prima.
São quase 600 páginas da história de Detroit, da primeira e segunda guerra, da depressão e é lógico, da Grécia.
Um livro extenso, dividido em três partes que parte de seus avós, passa pelos pais e termina em Cal, que nasceu Calíope.
Foi um pouco cansativa a primeira e a segunda parte, mas elas foram importantes para se entender a estrutura familiar na qual a personagem cresceu.
A história é muito bonita, e apesar de enrolada, gostei bastante.
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Fabiana 04/02/2013

Ainda sem fôlego!
Costumo escrever minhas resenhas logo após o término da leitura. Faço isso de propósito para tentar ser o mais sincera possível. Almejo no futuro reler essas resenhas e tentar ainda absorver os sentimentos envolvidos.

Em se tratando de Middlesex ainda estou sem fôlego. Que livro, que prazer! Me senti nos labirintos do Minotauro a medida que retrocedia e avançava na saga da família Stephanides - o intuito era me perder na trama na esperança do livro nunca acabar. Como se isso não bastasse por si só, há tantos outros atrativos: a costura da história com o cenário econômico-político americano do início do século passado até agora, a narração em primeira e terceira pessoas absolutamente condizente com o enredo, a construção e profundidade de todos os personagens, a ironia fina e delicada e as metáforas e analogias. O livro é mesmo esplêndido em todos os sentidos, não contrariando os elogios rasgados que li aqui e fora do Skoob.

Confesso: ainda está difícil digerir tamanha singeleza e delicadeza. Melhor, vou ainda desfrutá-lo ao longo da semana, das semanas. Espero que o Minotauro venha me fazer companhia pois eu ainda não quero sair desse labirinto.
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Arsenio Meira 15/12/2012

Neste ano que se encerra, o melhor livro que li. Não conhecia o autor. Ele foi, magistral, ao compor uma teia onde convivem drama, ironias, tensões, provocações e em meio a esse tumulto, ainda encontrou lugar para a beleza de algumas passagens; metáforas e situações que nos remetem a um lirismo digno de ser apreciado.

Um livraço. Para o leitor que se aventurar, basta saber que embarcará numa expedição bacana demais, com personagens e situações descritas com um toque refinado e, ao mesmo tempo, singelo (talvez dessa última peculiaridade venha o encanto. Eugenides nao precisou sofismar, nem jorrar academicismo em nossas cabeças.) Grande escritores fluem, naturalmente, como os rios. É o caso de Jeffrey Eugenides.
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Leonia.Oliveira 26/01/2017

Middlesex
É a versão greco-americana de "Cem Anos de Solidão". Fantástico.
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tetê 05/07/2011

Magnífico
É sem sombra de dúvida, o melhor livro que já li.E torna Jeffrey Eugenides, mesmo que com somente 2 romances, o meu autor favorito.
É emocionante, você entra na história, vira o personagem e sente todas as emoções intensamente junto com a callie (ou Cal).
Fala sobre intersexualidade sem clichés. Contada de um modo adolescente, mas não infantil, não é nem feminino nem masculino, e não fica dando uma de malhação.
Conta a história desde os tempos de seus avós na Grécia , o que pode deixar alguns leitores impacientes já que Callie só nasce ná página 235, e temos no inícios de todos os capítulos (eu acho), flashes da vida adulta de Calliope, que se transforma em Cal: seus relacionamentos amorosos, e sua vida profissional. E não se preocupe,as paginas que contam sobre a vida dos avós e pais de Callie, são livres de monotonia, e não falarei o que é para não botar spoiler demais aqui.
As partes mais emocionantes do livro, na minha opnião, ficam para o relacionamento(amoroso) de Callie com sua amiga, cujo nome verdadeiro não é citado no livro e ela ganha o nome de O Obscuro Objeto do Desejo.
é uma relação tão crua e natural entre as duas que eu nao conseguiria descrever com minhas palavras de expectadora.
No início do capítulo dedicado ao Objeto, Cal fala sobre suas paixões na vida adulta e sua insegurança neles,pois já sabia que era hermafrodita e tinha prévio conhecimento dos problemas que enfrentaria,mas com a Objeto não foi assim ''O Obscuro Objeto e eu no entanto, fomos pegos desprevinidos, em abançoada ignorância.''pag 354
Para quem leu As Virgens Suicidas, Objeto será uma versão ruiva e que não faz sexo no telhado, de Lux Lisbon: ambas andam arrastando os pés, fumam como chaminés aos 14 anos de idade, e mastigam chicletes de frutas cujo cheiro é sentido pelos que estão apaixonados por elas.

tri legal e super recomendado. quem gostou do Virgens não se decepcionará nesse
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Leandro Matos 02/06/2015

Middlesex – Ex Ovo Omnia
Como alguns devem saber, todo ser humano, independentemente do sexo de nascimento possui algumas características andróginas, pelo menos é assim do ponto de vista embrionário. Até a nona semana de gestação, o feto não possui um sexo definido. Nesse estágio, ficamos aguardando a liberação do hormônio que determinará nosso sexo (como gênero). Definido o sexo, nossos órgãos genitais são espelhos (côncavos e convexos) do sexo oposto. Depois disso é só recordar das aulas de biologia do ensino fundamental. Lembram? XX = nasce uma menina; XY= nasce um menino…

Até aí nada de novo.

Ocorre que se a dosagem desse hormônio não estiver calibrada, poderão ocorrer alguns “percalços”, que acabam por fim, desviando um pouco o curso dessa harmoniosa e complexa cadeia da origem da vida.

Agora imagina só a história de uma pessoa que “nasceu” duas vezes!? Nos anos 60, como uma menina e 14 anos depois, como um menino!? Essa é premissa inicial do fenomenal romance “Middlesex”, reeditado recentemente pela Companhia das Letras.

Logo após o destacado sucesso de “As Virgens Suicidas”, seu romance de estreia, Jeffrey Eugenides, se recolheu para a construção do viria a ser pelo menos para mim, o seu maior e melhor livro. O autor de ascendência grega e irlandesa tomou posse não só de aspectos biográficos e de familiares para encorpar o enredo do título. Durante essa reclusão, o autor ainda se mantinha ativo publicando algumas crônicas e contos em revistas dos EUA, mas foram necessários nove anos para construir e entregar a saga de Calíope Stephanides, uma garota (vou inicialmente tratá-la assim) de origem grega, que nos brinda com uma narração rica, plural e absurdamente envolvente sobre toda a sua vida e seus “nascimentos”. Indo desde a origem de tudo, quando seus avós em pleno deleite convenientemente carnal comentem incesto, até a jornada do gene remissivo que atravessa três gerações para por fim, escolher o quinto cromossomo de Callie, para transformar não só sua portadora, mas praticamente todos que lhe cercam.

Livros que seguem pelo estilo narrativo em primeira pessoa são mais atraentes e de fácil apreciação, mas daí cabe ao escritor ter habilidade e sutileza para incorporar veracidade ao relato e ao personagem. Afinal, temos a sensação que o narrador está nos contando diretamente àquela história. E é justamente aí, que Eugenides se sobressai, nos apresentando em mais de 500 páginas uma prosa elegante, intimista e muitas vezes poética sobre a tragicômica saga da família Stephanides, deixando o romance com o quê imediato de clássico.

Tudo isso claro, entrelaçado com fatos históricos, sociais e culturais de quase um século de história contemporânea. A invasão Turca, a ascensão de Detroit, os conflitos raciais dos anos 40, a formação da cultura americana em contraponto a perspectiva grega, tudo isso só enaltece o romance com propriedade e dinamismo.

Toda a transmutação de Calíope em Cal nos é apresentada paulatinamente. Para que não fique banal ou gratuito, Eugenides lapida todas as nuances da narrativa com um fluxo entre passado e presente tirando todo e qualquer vestígio de algo caricato. Longe de ser redundante, o título detalha os mais simples e importantes acontecimentos na vida de Cal de forma prazerosa, desde suas aventuras e amizades na terna infância às típicas descobertas da adolescência. E é nessa transformação que está a excelência do romance, pois apesar do invólucro externo feminino, sua personalidade sempre denota algo de viril, suas primeiras experiências sexuais e todo o seu questionamento pela opção sexual investida denotam claramente isso.

Quando adulto já se faz homem e trabalha na embaixada dos EUA em Berlim, mas ainda assim é um ser fragmentado pela dualidade dos gêneros. Sua profissão lhe resguarda a segurança da despedida, pois a cada temporada, ele sabe que estará em outra localidade e toda e qualquer relação afetiva formada, logo se desfaz.

"Todos somos feitos de muitas partes, de outras metades. Não apenas eu."

Segundo o mito, Hermafrodito era filho de uma relação extraconjugal entre Hermes e Afrodite. Logo após o seu nascimento, Afrodite o entregou as ninfas do monte Ida. Durante a adolescência, Hermafrodito deixa o monte e segue andando a ermo pelos campos e encontra um lago límpido que o fascina. Acontece que o lago estava sob proteção de Salmácia, uma náiade que vivia ociosa e só se dava ao trabalho de exaltar a si mesma.

Quando a ninfa o viu, ficou extasiada com tamanha beleza e o cercou de todo jeito. Como ele não conhecia a lascívia e a insistência desses seres ele a rejeitou.

Então, passado um tempo e acreditando estar sozinho, Hermafrodito resolveu banhar-se no lago, porém quando Salmácia o viu nu, não resistiu à tentação e foi voluptuosa ao encontro do deus, que tentava a todo custo desvencilha-se dela. Em meio a esse jogo, a ninfa já enlaçada em Hermafrodito clamou aos deuses para nunca separá-los. E assim foi feito. Os dois seres se fundiram, se tornando nem homem nem mulher, mais os dois em um só. Que não tem um sexo, mas todos.

Cal é intersexual. Ou seja, no caso é biologicamente um homem, mas criado como uma mulher. Uma pseudo-hermafrodita. A origem para o livro veio da leitura das memórias de Herculine Barbin, uma hermafrodita francesa que teve sua vida contada por ninguém menos que Michel Foucault. Callie/Cal possui uma anomalia, uma “transmissão autossômica de características recessivas“, uma mutação genética 5-alfa-redutase que é esmiuçada de forma clara e até didática, que nada perde para livros de cunho científico. Todos os aspectos inerentes ao duo Callie/Cal estão presentes no livro desde o fisiológico ao social. Nada passou despercebido. Mais um ponto para o Eugenides.

Esse fascínio e oposição entre os gêneros já remetem e inspiram nas mais diversas formas. Em 2007, chegava a poucas salas de cinemas o filme brasileiro XXY, nos anos 70, David Bowie era Ziggy Stardust e bem antes disso, Tirésias passara sete anos transformado em mulher ao matar uma cobra fêmea durante uma cópula. Associações a parte, Homero no início do seu poema épico a Odisseia, pede inspiração as Musas, Eugenides segue o rito e homenageia Calíope como sua musa. Afinal, ela era a mais velha e mais sábia das nove e à ela é atribuída o dom da poesia épica, da ciência e da eloquência. Coincidência?

Não há sobreposição entre masculino e feminino na linguagem de Middlesex, o que há de fato é uma inteligente e bem construída oposição entre vozes. Assim como O Pintassilgo, Middlesex também foi agraciado com um Pulitzer, não que qualquer premiação seja um atestado de excelência, mas estes títulos são exemplos de uma narrativa intrincada, original e única na literatura.

Um enredo magistral que transita entre inúmeros sinônimos e antônimos. Arrojado e delicado, engraçado e comovente. Uma narrativa sofisticada que exemplifica aquela proposta mais simples que todo livro tem: contar uma história.

"É assim que as pessoas vivem… – à base de histórias. Qual é a primeira coisa que uma criança diz quando aprende a falar? “Me conta uma história.” É assim que compreendemos quem somos, de onde viemos. Histórias são tudo."
edu basílio 02/06/2015minha estante
parabéns por esta bela, precisa e sóbria resenha, leandro. minha vontade de ler esse livro, que já existia, só cresceu! :-)


Douglas P Da Silva 09/06/2015minha estante
Bela resenha!!Quero muito ler esse livro.




Mari 19/04/2015

Se o ano terminasse amanhã...
Middlesex, de Jeffrey Eugenides, seria o melhor livro do ano. Muitos diriam: mas é apenas Janeiro. Well, indeed. Porém, algo me diz que este livro ficará na minha lista de melhores até o fim do ano. Em uma das minhas ressacas literárias – a qual eu mergulho após ler um livro estupidamente bom – estou tentando lendo vários livros, tudo para me desapegar de Middlesex. Digo isto apenas para vocês terem uma ideia do poder narrativo de Jeffrey.
E olha que este livro teve uma história complicada comigo, antes mesmo de eu tê-lo lido. Aqui, na minha humilde Porto Alegre, parece que todos os Middlesex estão esgotados. Por fim, achei um exemplar na livraria Cultura: com capa rudemente amassada e num precinho antipático.
Comprei o livro, movida pela minha crescente curiosidade referente ao trabalho de Jeffrey: Middlesex figurou em várias listas de melhores do ano, por leitores que respeito e admiro. Engoli o ressentimento pela linda capa amassada e o li. Foram dias mal dormidos, madrugadas em que utilizei uma lanterna para poder ler cada linha, com fome de literatura. Fome que, digo honestamente, poucos livros me despertam. Aqueles que leem tanto como eu sabem que livros estupendos surgem aqui ou ali, quando uma rotina corrida e a vontade de ler tudo também trazem algumas decepções e livros amenos.
A história de Cal Stephanides, o hermafrodita, veio como um tsunami: arrastou-me para dentro do submundo da literatura, quando a rotina da vida real é apenas uma luz que atrapalha o fluxo. Este é o segundo livro de Jeffrey. O primeiro, As Virgens Suicidas, entrou para a minha lista de querências. (Muitos aludem ao livro como o melhor de Eugenides, apesar de eu achar difícil algo do tamanho de Middlesex). Para aqueles que não leram o livro, só digo que:
“Nasci duas vezes: primeiro como uma bebezinha, em janeiro de 1960, num dia notável pela ausência de poluição no ar de Detroit; e de novo como um menino adolescente, numa sala de emergências nas proximidades de Petoskey, Michigan, em agosto de 1974.”
Além da poesia, da musicalidade, da forma, da estrutura, da beleza, temos o cerne da ficção: a incitação do escritor, a venda de uma ideia. Este começo, copiado a cima, é puramente a arte milenar do autor que enfeitiça. E feitiço é a palavra para descrever a construção do narrador Cal, homem de seus quarenta anos, que resolve contar a sua vida como o resultado de um gene recessivo 5-alfa-redutase. Um hermafrodito, fruto de uma história de incesto e exílio, de guerras e depressões. Sim, Middesex é um épico moderno, a saga de uma família grega.
O livro abre com o capítulo “A Colher de Prata”, no qual a yia yia Desdêmona usa uma colher para adivinhar o sexo do próximo bebê de Tessie – mãe de Cal. Usando da mitologia de suas terras montanhosas, Desdêmona continua presa às suas origens gregas. Porém, a ciência fala mais alto: Milton e Tessie sabem que esperam uma menina. A colher de Desdêmona, por outro lado, diz o contrário. O cerne de Cal, Calíope, ou de toda a família Stephanides está no embate do passado (e as consequências de um crime), na Esmirna invadida pelos turcos e o exílio forçado de Desdêmona e Esquerdinha (avô de Cal) para a terra do futuro, a América.
Comentei sobre Middlesex ser um épico. No começo do livro, quando o narrador apresenta a si e sua família – sua vida atual em Berlim e a sua própria concepção - ele diz ao leitor que precisa retornar ao antes, à origem do personagem principal: o gene recessivo 5-alfa-redutase. Como um filme, ele rebobina a história para narrar a convivência de Desdêmona, pacata grega que cultiva bichos de seda, e Esquerdinha, apaixonado pela irmã. Sozinhos, com a morte dos pais e a guerra brutal, eles precisam ir ao encontro dos familiares em Detroit.
Não vou falar mais, acho que já mencionei o necessário. Jeffrey faz uma saga americana, com suas quedas e levantares. Enquanto a história se foca na complicada adaptação de Desdêmona, de longe a personagem mais interessante do livro (e olha a competição!), temos um livro irretocável. Acompanhamos a cultura grega e seus mitos, a culpa do relacionamento incestuoso com o irmão, o nascimento de seus dois filhos (e o medo de que nasçam monstros) e sua perturbada velhice. Quando Eugenides narra, finalmente, a adolescência de Calíope e suas descobertas amorosas e sexuais, têm-se uma pequena queda.
Deixe-me explicar melhor. Comparado com o começo e seus personagens marcantes, Middlesex peca por, no final, ficar apenas em Cal, deixando os interessantes membros familiares (um pouco) de lado. Porém, vemos que isto não é um equívoco, pois o narrador é o mais importante, sua história move o resto. Sendo um período solitário e narcisista, a adolescência de Calíope é sobre ela: as suas dúvidas e descobertas. A partir daí, não se tem muito espaço para o desenvolvimento do resto da família Stephanides. É compreensível a escolha de Jeffrey, mas que prejudica a perfeição do começo e metade da obra.
Depois de quase seiscentas páginas, com o ápice no começo e um belo fim justo, Middlesex é ótimo. Mais que ótimo, é uma leitura prazerosa. Sendo um pouquinho maldosa, o “épico” 1Q84, de Murakami, não faz fumaça perto do épico (aí sim, sem aspas) de Eugenides.
Middlesex não se trata apenas de uma mera saga familiar e a descoberta do hermafroditismo. Eugenides faz poesia da história de milhares exilados que tiveram que labutar na Detroit poluída e capitalista, que lutaram para a sobrevivência de sua cultura nativa. É, no crescimento de Calíope na América dos anos setenta, a imagem da pequenez da própria tentativa de narração. As histórias familiares são únicas, mas com laços invisíveis que as unem... E quando Middlesex termina, sentimos um aperto: infelizmente, tudo o que é bom tem de acabar.
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VinAcius49 30/06/2022

Eu apenas estava ocupado, não (me) preparando (para) algo grandioso ?
Se você leu a sinopse, inicialmente, você vai ficar, sim, revoltado do porquê o Cal pouquíssimo aparecer como protagonista da história e além da conta como narrador para a de duas gerações passadas. Esse fator, provavelmente, dará a sensação de um enredo que se estendeu demais, mas não tão breve você perceberá que houve um cuidado todo especial com o roteiro.
E quando entrar em sintonia com o desenvolvimento, você vai querer saber de Desdemona até o fim (terá uma pegadinha aqui ?), fazer um carinho na Tessie (?), saber o nome de Um-Sete-Um (?), vai detestar o Milt, achar a prima Lina e a tia Zo o máximo, e sempre saber que o Mike é um ***** ** ****... Você vai sentir muito, muitas coisas, a respeito de muitos, muitas vezes.
Afinal, são gerações de histórias em uma história.
DANILÃO1505 30/06/2022minha estante
Parabéns, ótimo livro

Livro de Artista

Resenha de Artista!




Vanessa Vieira 18/07/2015

Middlesex - Jeffrey Eugenides
O livro Middlesex - romance vencedor do prêmio Pulitzer - do autor Jeffrey Eugenides, nos traz uma história original, polêmica e criativa sobre um hermafrodita do século XX. Escrito de forma contundente e norteado por um leve toque de ironia, o livro se mostrou uma verdadeira obra-prima, abordando não só a sexualidade e suas vertentes, como também alguns fatos históricos mundiais.

Calíope Stephanides foi criado como a menina Callie durante a sua infância, mas, ao completar seus catorze anos, decidiu se tornar o jovem Cal. Vivendo em Berlim - cidade que foi palco de vários conflitos durante décadas - ele revela sua trajetória e sua batalha interna para aceitar o próprio corpo e suas limitações.

Ao contar sua história, Cal nos revela os pormenores da trajetória de seus antepassados, nos mostrando como fatos do passado contribuíram para tudo aquilo que ele vivencia no presente. Durante o seu relato, ele nos fala sobre a invasão turca à Grécia, da fuga dos seus avós para Detroit, bem como sobre a expansão da Ford Motors e acontecimentos como a Lei Seca e a Depressão de 1929. A família Stephanides viveu em meio a esse panorama histórico e devido a laços consanguíneos, acabou semeando uma mutação genética por entre suas gerações.

Middlesex é uma obra tocante, bem escrita e, acima de tudo, original. Eugenides nos mostra uma sensibilidade surpreendente ao tecer sua trama, composta por uma densidade incrível e audaciosa. O enredo é atual, intenso e possui uma beleza peculiar, nos mostrando toda a ambiguidade que há por detrás do ser humano, bem como a diferença entre gêneros e até mesmo o incesto. Narrado em primeira pessoa por Cal, de uma forma objetiva e até mesmo palpável, o livro se mostrou uma obra memorável e impactante.

"Sou a oração subordinada de uma longa sentença que começa há muito tempo, em outra língua, e vocês precisarão lê-la desde o início para chegar ao fim, que é quando entro na história".

Cal não foi diagnosticado como hermafrodita quando nasceu. Isto porque o médico da família, já muito idoso, não se atentou como deveria ao sexo do bebê. Quando chega na puberdade, os seios de Callie não se desenvolvem e a sua menstruação não acontece, como seria normal para as meninas de sua idade. E, de certa forma, ela não consegue se sentir atraída pelos garotos, principalmente quando passa pela sua primeira experiência sexual. Durante um acidente, é constatada a ambiguidade de seu sexo. Seus pais querem uma doce e delicada menina, mas Cal resolve seguir seus instintos masculinos, pois é onde julga estar sua verdadeira identidade. Tal escolha acaba provocando uma certa ruptura familiar, fazendo com que o jovem siga para Berlim e busque sua independência, de maneiras nada fáceis.

"Emoções, pela minha experiência, não cabem numa única palavra. Não acredito em 'tristeza', 'alegria' ou 'remorso'. Talvez a maior prova de que a língua é patriarcal seja o fato de que simplifica abusivamente os sentimentos. Gostaria de ter à minha disposição palavras-comboio, tipo as do alemão, para emoções complicadas e híbridas, como, digamos, 'a felicidade que vem com a tragédia'. Ou: 'a decepção de ir para a cama com uma fantasia'. Gostaria de mostrar a ligação que há entre 'as emanações da mortalidade trazidas pelo envelhecimento de familiares' e 'o ódio a espelhos que começa na meia-idade'. Gostaria de ter uma palavra para 'a tristeza inspirada por restaurantes à beira da falência', assim como para 'a empolgação de entrar num quarto com frigobar'. Nunca achei as palavras certas para descrever minha vida, e agora, quando começo a contar minha própria história, preciso delas mais do que nunca."

A trajetória dos antepassados de Cal é a válvula propulsora do enredo. Através de suas jornadas, descobertas e escolhas é que a trama é tecida. Seus pais eram primos que se apaixonaram e tiveram dois filhos, mas, antes deles, uma outra história de amor se mostrou ainda mais arrebatadora e polêmica, vivida pela sua avó, Desdêmona, uma das personagens mais intrigantes do livro.

Em síntese, Middlesex é um livro original, polêmico e atual, com uma história que, à primeira vista, parece tratar-se de um drama mas que acaba se mostrando um romance denso, levemente irônico e com uma conotação um tanto quanto poética. A narrativa de Eugenides foi construída com maestria e precisão, detalhes estes que salientam porque o autor é conhecido como um dos maiores símbolos cult da literatura. A capa sintetiza bem a essência do enredo, tendo como ilustração a estátua de Afrodite e a diagramação está ótima, com fonte em bom tamanho e revisão de qualidade. Recomendo ☺

site: http://www.newsnessa.com/2015/07/resenha-middlesex-jeffrey-eugenides.html
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LUNII 27/11/2022

Uma das melhores leituras desse ano.

Comecei a ler por ser do mesmo escritor de As Virgens Suicidas e queria me aprofundar mais no trabalho dele. E posso dizer que gostei muito igualmente.

O livro conta a história de uma pessoa hermafrodita, isso já é bem diferente. Eu pensei que seria focado mais no momento do descobrimento e etc, mas é quase uma biografia sobre ele e sua família. O que não é um fator ruim, é muito interessante na verdade.

Eu gostei dessa narrativa de aprofundar na vida dos avós, depois dos pais e por fim, os filhos. Mas eu queria que algumas coisas tivessem tido de menos. O livro relata muito sobre a cidade de Detroid e seus momentos históricos, eu achei isso muito legal, mas as vezes queria saber de alguma outra coisa da história e o escritor ficava focado em algum plot familiar não tão interessante.
Mas isso não deixa a história ruim e cansativa. Alem disso,ele discute muito sobre relações familiares, sobre responsabilidade afetiva de pai e mãe, sobre relações humanas no geral. Eu recomendo bastante pra quem quer ler algo com personagens diferentes e reais.

Apesar de tudo, eu queria mais aprofundamento no personagem principal.
E fiquei muito curiosa pra saber sobre a base de pesquisa do escritor, esse assunto é muito complicado e pouco abordado.
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Marcela Bianchini 28/03/2021

Despretensiosamente entrou pra minha lista de favoritos da vida. A eloquência do narrador é uma coisa única na literatura.
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Gley 03/11/2015

Sexo, gênero, genética e comportamento numa linda saga de três gerações.
Que dizer? Middlesex tem tudo que espero de um livro: uma ficção que chega ao real quase palpável. Um romance que cada parágrafo parece um poema, que cada passagem é descrita como em câmera lenta. Uma saga em que conta por si só várias estórias, e ao mesmo tempo, o resultado de todas elas. Um tema atualíssimo e que ronda, em nossas fantasias, com todos os seus preconceitos. E numerosos dados reais que sedimentam e tão o mote do porquê da sensação de tão próximo e tão rico é o personagem central para quem lê.
Se vc quer ler um livro sobre sexo e gênero, de como isso se mistura a genética e ao comportamento, mas sem ter que adentrar nos estudos técnicos e sim mergulhar nos sentimentos, emoções, olhares e ações de quem vive, dentro de si, essas questões biológicas e psíquicas, te recomendo esse livro.
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26/01/2021

Inesperado e surpreendente
Não sei nem o que falar deste livro incrível. História interessante que aborda um tema tabu de forma leve, entrelaçando fatos e nos apresentando personagens cativantes e únicos.
Pra quem tbm ama a escrita de Eugenides, eu garanto q a leitura vai entrar pra sua lista de favoritos.
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Gláucia 14/01/2015

Middlesex - Jeffrey Eugenides
O romance é narrado por Calliope Stephanides, jovem pseudo-hermafrodita por uma doença genética rara caracterizada por deficiência da 5-alfa-redutase. Sua anomalia não foi detectada ao nascimento o que o levou a ser criado como menina. Aos 14 anos seu problema é diagnosticado e a partir daí terá que se confrontar com sua ambiguidade genital e tentar descobrir sua verdadeira identidade de gênero.
Gostei de ver um tema tão inusitado ser abordado na literatura, o autor tem uma narrativa bem humorada que em nenhum momento tende para o dramalhão apesar dos assuntos abordados. O livro é muito rico por oferecer ao leitor o panorama de uma comunidade grega acossada por conflitos com os turcos, fuga para o país da liberdade e a adaptação aos diferentes costumes, relações familiares, conflitos raciais nos EUA, um pouquinho de política estadunidense, guerra do Vietnan, sexualidade. Meu problema com a leitura foi o fato do excesso de detalhes tendo como foco os avós de Callie/Call, sua história propriamente dita pareceu ficar em segundo plano e demorou a acontecer. Isso fez com que lá pela página 350 já tinha ficado um pouco enfastiada com a leitura. Mas gostei da forma como o autor soube narrar uma história tão dramática com um senso de humor bem sutil e inteligente.
Marcia Cogitare 15/01/2015minha estante
Concordamos com o tom do livro, apesar que gera uma dúvida no leitor sobre o que se trata de fato o livro, porque o lugar onde eles moram se chama Middlesex , uma dualidade


Erika 25/01/2015minha estante
Disseste verdades em tua resenha. Gostei!


Henrique_ 15/03/2018minha estante
Tive a mesma impressão, Gláucia.




Pedro Bastos 02/10/2012

Middlesex, literalmente
O título do segundo livro de Jeffrey Eugenides é Middlesex. Como diria o personagem do Marcelo Adnet no extinto seriado Cilada, do Multishow, "meu... super bem bolado!". Não só é nome de uma avenida de um subúrbio de Detroit, onde se passa grande parte da trama, como também faz referência à anomalia de Calliope Stephanides, a protagonista, que é hermafrodita - um estado intermediário entre o macho e a fêmea, o que não é segredo muito menos spoiler para quem ainda não tenha lido.

Eugenides só lançou três livros em toda sua carreira, dos quais já tive a oportunidade de ler dois; esse e o recente A Trama do Casamento. O que pude constatar é que em ambos o autor é dono de uma sofisticação incrível para contar uma estória que poderia receber um tom meio de drama, de degradação humana, típico dos casos de desgraça retratados pela Sônia Abrão ou pelo Gugu em seus programas de TV. Middlesex passa longe disso. A protagonista (ou o protagonista, como preferir) só começa a figurar ativamente lá pela metade do livro, que conta com mais de 500 páginas recheadas de letras miúdas e margens menos espaçadas do que o padrão. Apesar disso, Calliope é a narradora, encarregando-se de contar a história da sua família a partir do seus avós, refugiados da Grécia Antiga para os Estados Unidos no início do século XX. O relato desta saga familiar é a provável justificativa para o seu "problema", uma disfunção genética.

Middlesex se aprofunda não só no lado psicológico dos personagens bem como nos problemas que os circundam. A descrição das cenas e dos conflitos étnicos tanto na Ásia Menor da década de 20 quanto no Detroit dos anos 50, ou até mesmo na "liberal" São Francisco dos anos 70, é realizado de maneira literária e histórica. O próprio problema de Calliope é esmiuçado de maneira científica, com a adoção de termos técnicos e de pareceres médicos reais. São muitas informações verídicas encaixadas na trama, o que injeta um certo ar de realismo a tudo o que se lê. O mais interessante é que Eugenides não faz isso de forma didática; pelo contrário, pressupõe-se que o leitor já conheça tudo o que se está comentando ali, mesmo que tal conhecimento (ou ignorância) não interfira na sua compreensão do eixo central da trama, que é o caso extraordinário de Calliope Stephanides.

Graças às abundantes páginas de Middlesex, os conflitos, tensões e alegrias das três gerações da família Stephanides são contados em detalhes, sem preocupações quanto à brevidade, o que foi um fator positivo. Porém, na minha opinião, considerei a transformação de Calliope em Cal um pouco rápida demais. Não chega a ser culpa do autor (ou seria da maturidade da própria personagem?), mas senti que o acompanhamento psicológico e o impacto da notícia quando Calliope finalmente descobre a verdade sobre a sua natureza ficou um pouco deixado de lado. Pareceu-me que Calliope aceitou muito rapidamente a ideia de que era um homem, mesmo que sentisse sinais de "vazio" quanto ao fato de ser uma "menina". Esse foi o único ponto negativo, mas que não chegou a abalar nem um pouco minha admiração e respeito por essa bela obra.


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