Paulo Silas 26/12/2022Fruto dos seminários ocorridos nos anos de 1955 e 1956, o 'livro 3' de "O Seminário" traz em seu título 'as psicoses' por ser o eixo central (ou um dos eixos) que estabelece as abordagens realizadas por Lacan. Partindo do escritos de Freud sobre o tema, mais precisamente a partir da leitura freudiana do caso Schreber, Lacan estabelece aqui uma análise pormenorizada sobre o fenômeno da psicose, propondo não uma teoria continuada do pai da psicanálise, mas sim um novo olhar cuja perspectiva propositiva se ampara em Freud como ponto de partida ao mesmo tempo em que avança significativamente para algo que pode se dizer novo - ou pelo menos com uma nova roupagem.
Os 25 capítulos (ou seções - ou ainda seminários) que compõem a obra são divididos em 4 partes - contando ainda com um destacado que traz uma conferência sobre Freud no século (tendo em vista o centenário do nascimento de Freud). Na primeira parte há uma "Introdução à questão das psicoses", na qual é abordada a dignificação do delírio e o "funcionamento" do Outro na psicose. Na segunda é trabalhada a "Temática e estrutura do fenômeno psicótico", discorrendo-se sobre questões como a dissolução imaginária e o mecanismo de funcionamento da psicose. Na terceira parte se analisa com bastante atenção as noções "Do significante e do significado", onde também os conceitos de metáfora e metonímia são bem explorados. Por fim, na última parte se tem a investigação sobre "As imediações do buraco", na qual a estruturação do sujeito pela linguagem é um dos pontos trabalhados.
A obra é um importante marco para a compreensão psicanalítica da psicose, cuja tratativa temática realizada pelo autor é densa, complexa e de difícil leitura - como costumam ser seus escritos. Para além do tema título, há um notório detalhamento e aprofundamento a respeito do funcionamento do significante na perspectiva lacaniana - e sua relação com o significado -, o que leva a corroborar com a noção de que o inconsciente é estruturado como linguagem, sendo essa obra aquela em que Lacan evidencia o funcionamento da linguagem na constituição (estruturante) do sujeito.