Michelle 12/05/2015
Comovente
Neve de Primavera, de Yukio Mishima, é o primeiro volume da tetralogia Mar de Fertilidade, considerada sua grande obra, além de sua última obra, pois o autor comete o Seppuku após escrevê-la, o suicídio ritual dos samurais, como uma forma de protesto pela perda dos valores tradicionais do Japão.
Este volume conta a história do jovem Kiyoaki, filho do marquês de Matsugae, cuja situação financeira era muito boa, mas de nobreza recente. Para ter uma educação digna de um nobre, Kiyoaki é educado junto à família do conde Ayakura, família em decadência, mas que gozava dos favores imperiais já há muitas gerações.
A história começa com Kiyoaki já com 18 anos, um rapaz extremamente belo, completamente consciente de sua beleza, e também muito melancólico. O eixo principal do livro é o romance entre Kiyoaki e Satoko, dois anos mais velha e filha do Conde Ayakura. No princípio da história, Kiyoaki exaspera-se com as atitudes de Satoko, dignas de uma irmã mais velha, mas ao longo do tempo vai descobrindo seus sentimentos por ela em uma trajetória de avanços e recuos alternados. Kiyokaki, inicialmente imaturo e mimado, vai se modificando à medida em que se torna mais certo de seus sentimentos por Satoko, plenamente correspondidos por ela. Como leitora, a princípio eu senti muita antipatia por ele, mas é incrível como o autor consegue operar uma mudança em seu protagonista ao longo da história, e como eu fui mudando minhas opiniões a medida em que Kiyoaki amadurece.
Envolvendo seu preceptor Iinuma, a criada de Satoko, Tadeshina, e, por último, seu melhor amigo, Honda, Kiyoaki e Satoko se enredam em um romance secreto, cujas dificuldades alcançam seu ápice quando o próprio marquês de Matsugae, sem tem certeza do envolvimento do jovem casal, arranja um noivado entre Satoko e um príncipe da família imperial. A partir de então, o relacionamento dos dois se torna uma ofensa pessoal ao imperador, e, apesar disso, talvez devido mesmo à sua proibição, o casal tem cada vez mais certeza do que sente um pelo outro.
Não apenas uma história sobre um casal, Neve de Primavera é um painel do Japão da época, mostrando as contradições entre a nova e antiga aristocracia, o conflito entre a ocidentalização e os valores tradicionais, a devoção e o respeito sem restrições devidos ao imperador etc. Além disso, o livro nos apresenta reflexões de cunho filosófico, como a doutrina de transmigração das almas.
Por tudo isso, recomendo a sua leitura. Com suas belíssimas descrições, tanto de paisagens, quanto dos momentos vividos pelo casal protagonista, essa leitura se torna altamente prazerosa e comovente.