O Sorriso do Flamingo

O Sorriso do Flamingo Stephen Jay Gould




Resenhas - O Sorriso do Flamingo


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guibre 28/04/2019

O livro é uma compilação de ensaios escritos há cerca de trinta e cinco anos, o que talvez torne o livro antiquado para especialistas nos assuntos abordados.
Feita tal ressalva, é preciso reconhecer que a obra contém divulgação científica acessível, mas sem simplificações excessivas. Em alguns textos, para além de desfazer mitos, o autor explica o método científico através do relato de episódios da história da ciência, não raro demonstrando bom humor (como quando afirma que livros didáticos são uma forma de literatura). Em várias ocasiões não se furta a assumir posições, sempre justificadas, ressaltando o equívoco de postular alinhamentos aos extremos diante de praticamente qualquer questão.
O livro surpreendeu as expectativas, indubitavelmente. Fortemente recomendado para quem queira compreender mais, dentre outros assuntos, sobre a história e metodologia da ciência, a teoria da evolução e o inverno nuclear.
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AleixoItalo 19/04/2024

A divulgação científica é uma arte por si só! Durante minha graduação em Biologia, não foram poucas as vezes que eu ouvi de meus professores, que muito do sucesso estrondoso da Teoria da Evolução se deu graças a Thomas Huxley, o "buldogue de Darwin"! Já que Darwin deveria ser uma pessoa pacata e reclusa, coube a Huxley o papel de difundir e debater a nova teoria, em palestras e debates com autoridades religiosas da época. Uma vez que a produção científica precisa ser debatida pelos pares, não é de se estranhar que sua linguagem seja voltada à eles, isolando esse conhecimento em bolhas intelectuais apartadas da sociedade. Espalhar esse conhecimento ao "publico leigo" é essencial para o avanço científico e alguns dos grandes nomes da ciência entraram para história, não tanto pelas descobertas que eles próprios fizeram, mas pela capacidade que tinham de comunicar e de produzir conhecimento a partir do conhecimento pré-existente. Assim foram imortalizados Thomas Huxley, Carl Sagan, Richard Dawkins e claro Stephen Jay Gould!

Além de dezenas de publicações sobre paleontologia revisadas pelos pares, Stephen Jay Gould também produziu centenas de pequenos ensaios de divulgação científica. No próprio Prólogo de O Sorriso do Flamingo, Gould enaltece a comunicação científica como uma atividade executada à tempos por grandes intelectuais da ciência e deixa claro que é influenciado por esse estilo clássico, em contraste às simplistas abordagens contemporâneas. Fugindo do conceito básico de apenas explicar por explicar, Gould usa esse conhecimento para fazer ponderações intelectuais a respeito de literatura, tendências científicas e sociais, tecer críticas e claro, para mostrar como ocorre o desenvolvimento científico, normalmente narrado com muita pompa, mas na maioria das vezes um avanço atarracado e não linear.

O Sorriso do Flamingo é uma coletânea de 30 ensaios onde o autor discute com muita sagacidade os mais variados assuntos. No ensaio que nomeia o livro, Gould usa o bico do flamingo como seu foco de argumentação, para creditar à Lamarck o princípio funcionalista — atribuído quase que exclusivamente à seleção natural: os organismos devem primeiro adotar um comportamento para só depois a terem sua forma alterada — os estruturalistas acreditavam que a forma do organismo deveria mudar primeiro, para só depois se adaptar à uma nova função. Ele também discute como as metáforas são essenciais para os modelos científicos, em Na falta de uma metáfora, Pierre-Louis Moreau de Maupertuis rebatia a ideia do pré-formacionismo — que propunha que todos os organismos vivos já estavam formados dentro dos seus progenitores — ao entender que a prole herda características mistas dos pais, mas não conseguia determinar os mecanismos pelos quais isso ocorria. E em Falsa Premissa, Boa Ciência vemos como Lord Kelvin estimou a idade da Terra em apenas algumas dezenas de milhares de anos usando premissas simples da termodinâmica e calculando a quantidade de tempo que levaria para um corpo, do tamanho de nosso planeta, se resfriar. Acontece que nos tempos de Maupertuis ou Kelvin, modos de pensar que resolviam essas questões sequer existiam, Maupertuis jamais viu alguma máquina que funcionasse com informação programadas, que só viriam a surgir a partir do século XIX e Kelvin não tinha conhecimento de elementos capazes de criar calor por conta própria, já que os elementos radioativos só seriam descobertos no século XX. Esses e outros ensaios mostram que o conhecimento científico depende não só dos dados levantados, mas também das formas de pensar específicas para interpretar esses dados. Gould também discute como a vida é, na sua essência, um gradiente contínuo: de vespas e WASPs, discute a problemática de tentar categorizar o comportamento sexual humano, e Convivendo com ligações e Um paradoxo muito engenhoso, discutem respectivamente, onde termina e começa um indivíduo, tanto em gêmeos siameses como em animais coloniais, como os cnidários. Num dos ensaios mais interessantes dessa coletânea, Perdendo a forma, Gould dá uma aula estatística usando com leveza a história do beisebol, onde joga por terra o saudosismos dos torcedores, ao mostrar que o aumento ou a queda das médias, pode se dar na verdade pela simples alteração na variação dos dados, dessa forma os rebatedores lendários do passado, teriam deixado de existir, graças à uma simples nivelação do nível dos jogadores.

Gould mistura em seu texto, curiosidades sobre os seres vivos com conceitos e teorias ecológicas e dessa sopa resgata nomes e eventos que ficaram obscurecidos nas prateleiras do conhecimento. Gould ainda dá um passo além e elabora a partir desses ensaios, divagações e debates, hora criticando modos de pensar retrógrados e apontando onde eles erravam, hora produzindo pensamento completamente novo. O que nós encontramos na escrita de Stephen Jay Gould é mais puro prazer pelo conhecimento, o amor de alguém que escreve pelo simples prazer de desnovelar o saber, como afirma o próprio autor:

"Escrevo esses ensaios sobretudo para auxiliar meu propósito de aprender e compreender o mais possível sobre a natureza no pouco tempo que me cabe."
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Jota 17/11/2020

Stephen Jay Gould, sem sombra de dúvidas, é um dos maiores biólogos que já existiram. Não somente pela sua contribuição na sua área profissão, mas também por levar a divulgação científica a outro patamar. Seus ensaios são incríveis, a narrativa fluida, a criatividade e o humor são as marcas deles, sempre trazendo aspectos de outras áreas, isto porque o Gould era um erudito. O sorriso do flamingo traz vários ensaios únicos, discutindo, principalmente, a ideia de gradualismo, tão presente ainda na teoria evolutiva contemporânea, na qual acredita que os indivíduos evoluem de maneira gradual. Contudo, Gould contra-argumenta essa ideia trazendo exemplos que não se encaixam nessas premissa, mostrando que os indivíduos podem evoluir no que chama de equilíbrio-pontuado, o que concedeu a ele o apelido de “o discípulo rebelde de darwin”. Além disso, Gould traz exemplos de como a biologia foi usada como ideologia em séculos passados, principalmente para justificar preconceitos, como a eugenia. Gould rebate todas essas ideias de maneira fugaz, com argumentos que não deixam espaço. Ele reinterpreta fatos e dados nos levando a outras interpretações sobre. Mostra também que, assim como quase tudo, a ciência é produto do meio histórico-cultural na qual ela se desenvolve e que, teorias que nós consideramos tão dignas hoje em dia, no futuro, podem cair no esquecimento. Um dos ensaios que mais gostei é chamado “A igualdade humana é um fato contingente da história”, na qual ele argumenta que o Homo sapiens ainda é uma espécie jovem e que ainda não teve tempo suficiente para a evolução de diferenças consideráveis, mas que, se tivesse ocorrido outras coisas e que se essa diferença dentro do Homo sapiens fosse mais acentuada, será que usaríamos isso para justificar preconceitos?! Gould argumenta que não, pois a variação é um dos, quiçá o mais, fatos mais importantes dentro da Evolução. Para os leigos que gostam de ler sobre biologia, recomendo muito o Gould, com toda certeza você poderia dividir sua vida pré-Gould e pós-Gould.
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Lis 13/08/2009

Importantes ensaios sobre temas relacionados à biologia, como evolução e paleontologia. Essencial para qualquer biólogo que se preze a tentar começar entender a complexidade da vida.
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