Coruja 02/08/2019Fui atrás de O Mais Longo dos Dias logo após ter chegado de viagem ano passado - quando passei um dia perambulando pela Normandia, seus museus e memoriais da Segunda Guerra. As coisas que vi por lá fizeram com que eu me desse conta de quão pouco eu de fato sabia sobre o que tinha acontecido naquele 06 de junho de 1944. Houvera o desembarque, com dezenas de milhares de baixas dos dois lados e os acontecimentos daquele único dia definiram a Segunda Guerra. Mas o que viera antes? E as histórias pessoais dos que tinham estado lá? Porque, em fatos gerais, indivíduos viram apenas estatísticas, e é difícil você se sentir realmente emocionado só com números.
Talvez por isso eu tenha me impressionado tanto com o que vi por lá e o que li nesse livro: há uma preocupação em preservar as narrativas, as vidas e perdas do dia D (e da guerra como um todo). Estive em Omaha e Juno Beach, passei de ônibus pelos outros setores; visitei os ninhos de metralhadoras em Point du Hoc e o Cemitério Americano. Com a memória muito vívida de enfiar os pés nas areias daquelas praias, minha experiência de leitura de O Mais Longo dos Dias foi - se tenho de escolher um único adjetivo - ensurdecedora. A escolha dos verbos no presente para a narrativa dão uma impressão de imediatismo, de estar no meio da ação. Citações dadas como diálogo, pensamentos pessoais em cenas curtas e vívidas dão tom de romance à História. Ryan mistura relatos de oficiais graduados, soldados rasos e civis franceses (muitos da resistência), concede pequenos vislumbres dos acontecimentos futuros e se baseia em milhares de entrevistas com combatentes de ambos os lados da guerra.
O livro começa no dia 04 de junho, com a apresentação dos atores e a posição de cada um deles. São três partes: “a espera”, “a noite” e “o dia”, e cada uma delas traz uma riqueza de detalhes impressionante. Exemplo clássico de jornalismo literário, Cornelius Ryan consegue aqui unir o interesse humano - os relatos de veteranos que estiveram de fato lá - com a narrativa militar, os fatos notáveis que se sucederam. Tanto era assim que, a cada página que ia devorando, os reveses, as coincidências e as tragédias que se sucederam me angustiavam, como se o desfecho da história me fosse desconhecido - especialmente quando se percebe o quanto do sucesso da Operação Overlord se deu por pura sorte. Ainda me impressiona como praticamene todo o alto comando nazista da Normandia estava indisponível naquela noite e como demoraram para compreender que sim, o que estava acontecendo ali era, de fato, a invasão aliada e não um exercício para despistá-los.
Entre soldados desembarcando ao som de gaita de foles, paraquedistas sendo arremessados bem longe de seus alvos, oficiais que não se deixavam abater mesmo com pés quebrados, mil e um problemas de comunicação e cálculo; os aliados deram sua cota do dia em sangue (e em humor involuntário, diga-se de passagem…). Ryan consegue ser justo até com os alemães que conseguiram responder naquelas primeiras horas. Ele fez com que eu tivesse simpatia pelos atos de coragem, pela teimosia e pela inteligência de gente como Rommel (lugar errado na hora errada, mas tudo bem…), Priller e seus dois caças contra uma frota de milhares de navios, e o major Pluskat, arrastando-se por entre bases de comando em meio ao bombardeio, insistindo com o comando-geral que não, aquilo não era um ataque diversionista, estava acontecendo sim a invasão.
O Mais Longo dos Dias é um relato épico e muito humano de um dos momentos mais importantes da nossa História. São muitos nomes, muitas ações e muitos detalhes anotados por Ryan, mas a forma como ele estruturou a narrativa consegue prender o leitor, cativá-lo até. Para o volume de informação apresentado, é uma leitura rápida e dinâmica, que merece a classificação de clássico e é uma ótima pedida para entender mais sobre os acontecimentos daquele 06 de junho de 1944.
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