A Origem da Ciência: Como os Filósofos do Mundo Medieval Lançaram os Fundamentos da Ciência Moderna

A Origem da Ciência: Como os Filósofos do Mundo Medieval Lançaram os Fundamentos da Ciência Moderna James Hannam




Resenhas - God's Philosophers


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Tiago 22/12/2023

Um passeio pela ciência e filosofia da idade média
Um livro muito interessante e que me ajudou a me informar a respeito do enorme "buraco" que é o ensino da história medieval. O autor ajuda a desmistificar a imagem de que a Idade Média foi a "idade das trevas" faz um tour pelos filósofos naturais que ajudaram a formar algumas bases para a ciência moderna. O livro cita nomes famosos como São Tomás de Aquino, Alberto Magno, William de Ockham e Roger Bacon mas a leitura fica mais enriquecida ao conhecer diversos personagens fascinantes como, por exemplo, Pedro Aberlado, Adelardo de Bath, os arcebispos de Canterbury Santo Anselmo e Thomas Bradwardine, o filósofo francês Jean Buridan e os filósofos árabes Averróis e Avicena.

O livro se sustenta na tese de que após a queda de Roma para os bárbaros no século V, o conhecimento ficou estagnado na Europa devido a uma barreira linguística. Todo o conhecimento em grego ficou para o lado do Imperio Bizantino, enquanto Roma e o ocidente europeu ficou com o latim e as inúmeras línguas dos povos bárbaros. Simplesmente não havia massa crítica para prosseguir. Os séculos foram passando e o conhecimento dos gregos e dos árabes (que tiveram papel importantíssimo) acabaram chegando ao ocidente através da expansão árabe do século VII-VIII. Os primeiros filósofos naturais medievais tiveram acesso a este material e começaram a recuperar o tempo perdido. Neste ponto, a Igreja também ajudou com a fundação das primeiras universidades na Europa e com a tradução e publicação de vários tratados.

O livro aponta que a imagem de vilã da Igreja Católica é mais uma obra da propaganda protestante após a Reforma com o objetivo de desgastar a igreja 'rival'. É claro que a Igreja Católica cometeu vários erros durante este período mas é muito interessante ver que desde Santo Agostinho já havia uma tentativa de conciliar o conhecimento da Grécia antiga (principalmente Aristóteles) com a Bíblia. Há uma clara tentativa de cristianizar a ciência de Grécia pagã.

O que achei mais interessante é que muita coisa que só ficou famosa com Copérnico, Kepler e Galileu já havia sido pensada séculos antes por muitos dos filósofos medievais que citei antes. Dois exemplos disso são o facto de já se saber que a terra se movia no espaço e de que a teoria de movimento de corpos de Aristóteles estava equivocada. A famosa frase de Newton "Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes." faz todo sentido quando vemos a teoria de Galileu e os vários indícios de que ele bebeu da fonte de conhecimento medieval.

Um outro aspecto fascinante do livro é como a Inquisição é vista. O autor diz que é inegável que houve tortura, erros e inflexibilidade. Por outro lado, a Inquisição pode ser vista como um protótipo do "estado de direito" uma vez que até a sua criação não havia a noção de julgamento justo ou de direito de defesa. Foi criada justamente para acabar com um certo barbarismo jurídico.

Como o livro cobre um período imenso e vários personagens, as vezes pode-se ter a sensação de que alguma parte pode ter ficado demasiado superficial. Felizmente o livro tem uma bibliografia e uma seção de notas riquíssima. Leitura recomendada.
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Filino 03/12/2018

Uma excelente ferramenta para descobrir o pensamento medieval
James Hannam escreveu uma obra maravilhosa. "God's philosophers" é extremamente agradável de se ler e através de seus 21 capítulos o leitor é apresentado, didaticamente, a personagens e situações que desconhecia. Ou, ainda, que acreditava conhecer e, ao ler o livro, viu que "as coisas não eram bem assim" como costumava ouvir e ler - principalmente nos bancos escolares.

O autor desmistifica a Idade Média como "idade das trevas", apontando inclusive o momento histórico quando surgiu denominações desse tipo, além de outras (como o vocábulo "cientista"). E ao retraçar o desenvolvimento das ideias que hoje tomamos como "óbvias" (a vastidão do Universo, a rotação e a translação da Terra, por exemplo), Hannam demonstra como concepções tidas como "novidades" em tempos posteriores (como no Humanismo e pouco depois, na Renascença, e sobretudo numa leitura bastante enviesada da História) já haviam sido ensaiadas, lá atrás, por pensadores cujos nomes não ficaram tão célebres como Copérnico e Galileu.

A obra é um excelente ponto de partida para qualquer um que se interesse por história da ciência, pensamento medieval, ou mesmo para quem pretende, simplesmente, investigar um pouco mais aquilo que tantos tomam como "verdades" preestabelecidas no estudo da História. É enriquecida com diversas sugestões bibliográficas, uma linha do tempo e um rol com os nomes dos autores tratados na obra. Imperdível.
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