Bruelds 25/02/2024
Uma coisa só tem validade depois que é dita em voz alta
A primeira coisa que passou na minha cabeça quando segurei esse livro pela primeira vez foi: que livro bobo.
Não no pior dos sentidos, achei que seria um livro fofo, daqueles que a gente pode indicar pros pré-adolescentes e etc. eu acreditei que seria, foi a primeira pisca que achei ter encontrado quando li o nome. Mosquitolândia.
O livro me surpreendeu a cada página, começando pela capa.
Posso começar dizendo que não é um livro bobo daqueles que eu indicaria para uma pré-adolescente, mas o livro me tocou em diversos aspectos desde os primeiros capítulos.
Quando comecei a ler eu acreditei estar lendo cartas de Mim Malone para sua tia (segundo erro), Mim Malone é uma adolescente que precisa lidar com mil emoções e com a vida num geral, ela sai em busca da mãe, mas acaba se tornando uma jornada para si.
O livro aborda questões sobre medicalização, depressão, esquizofrenia, amizade, autoestima, medo e amor num geral, nem sempre tudo é bem trabalhado já que estou lendo apenas a perspectiva de Malone sobre esses assuntos, mas a leitura é muito gostosa e pelo menos eu não conseguia parar, até porque essa leitura tinha um propósito específico para mim.
A coisa que mais me chamou atenção foi a importância que os personagens colocam na escrita enquanto maneira de validar os sentimentos e as coisas, e até mesmo falar essas coisas em voz alta. Porque é exatamente o que tenho feito comigo e as minhas próprias coisas e emoções (coisas da terapia). A importância de se conhecer, saber quem você é e as coisas que quer e principalmente as coisas que não quer.
Uma vez quando entrevistei um professor de ensino médio sobre as vivências dele com os adolescentes em tempo integral, a gente conversou bastante sobre as emoções e o quanto algumas delas são potencializadas naquele ambiente. O mesmo percebi em Mary, ela tinha muita coisa mal elaborada nela e enquanto a leitura fluía fui percebendo algumas coisas com relação a madrasta e o pai e mesmo assim entendendo a maneira como Mim Malone percebia o mundo a sua volta porque existiu toda uma construção ao redor dela e nela que contribuiu para isso.
Em uma das falas dela no início do livro ela fala: ?Ouvi mais ou menos o que disseram, pensei mais ou menos no assunto, processei mais ou menos a informação...?. Então já dava para ter uma noção da maneira como ela chegava as conclusões e posicionamentos que tinha, um dos maiores erros obviamente.
E meu deus, minha relação com ela não foi nada fácil, eu gostava e entendia, mas, muitas vezes tive raiva e vontade de tacar o livro nela e pedir para ela ser menos chata e hostil pela maneira como ela descrevia algumas pessoas e coisas.
Dos personagens que me apeguei, Arlene foi uma querida e eu a amei no pouco tempo em que foi citada. E Walt, meu deus, que personagem sensível e precioso para mim.
- O que você está fazendo, tipo, no mundo?
Dos personagens que mais odiei o Homem Do Poncho ocupou o número um e todo o gatilho gerado me fez precisar de tempo para assimilar as coisas que aconteceram naquele capítulo.
Gosto da relação que Mim Malone tem com a mãe, embora em diversos aspectos ache no mínimo preocupante pela fantasia excessiva de perfeição que ela emprega a ela, a ponto dela nem sequer se reconhecer enquanto pessoa sem a mãe, a vida dela é vista pelos olhos da mãe, pelos desejos, anseios e medos da mãe. E acho que a jornada de Malone na procura pela mãe serviu para que ela se responde: quem é Mary Iris Malone de verdade? Longe das vontades do pai, da madrasta e das idealizações dela em ser a ?pessoa? da mãe.
Fica claro a cada página o quanto ela estava cansada de ficar sozinha e até assustada com esse mundo enorme, mas com coragem de ir atrás do que realmente importava para ela.
Não quero me prolongar muito falando sobre Becker, mas ele foi adorável e a relação que eles vinham construindo no livro é fofa.
Malone mesmo faz uma reflexão consigo mesma sobre o como apesar de estar lidando com algumas coisas, algumas coisas que ela escolheu passar sozinha, ela sempre teve pessoas presentes por perto, querendo estar perto e se importando.
Essa foi a primeira vez que risquei um livro tanto com percepções, pensamentos, quanto com frases que gostei e achei interessante para passar para outra pessoa. (Espero que a senhorita leia).
No fim, acho que ela começou a perceber que não dá simplesmente para enquadrar todo mundo em vilão ou herói, no fim o pai tinha medo e a madrasta estava tentando deixar as coisas boas o suficiente para eles, mostrar que se importava com Mary mesmo não sendo a mãe dela.
A vida raramente é como você imagina e muitas vezes o riso acompanha lágrimas.
Em suma, fiquei fascinada com a leitura, embasbacada com o fato de o diário ter sido escrito para a irmã de Mary e radiante de felicidade com o capítulo 38, páginas 316, 317,320, 337 (sensível), sendo as que ais me emocionaram as páginas: 340, 341, 342 e 343nem de longe vou conseguir expressar agora tudo que senti enquanto estive lendo isso, mas foi importante demais para mim. E meus desejos sinceros são para que você também consiga (se) olhar por uma outra perspectiva e que você consiga dizer as coisas em voz alta (com ou sem a leitura desse livro). amei.