Fefa 20/08/2018
Quem está realmente satisfeito com a própria vida?
Talvez, inevitavelmente, aconteça a todo mundo, em alguma altura da vida, um dia se apaixonar. E mais pra frente, por urgência ou auto preservação, seja preciso superar um grande amor. E depois seguir.
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Ocorreu a Sara, nossa protagonista, assim como a milhares de pessoas reais, que viajar poderia ser a resposta, mesmo que a pergunta ainda não estivesse clara. Como sem nada a perder, ela apenas vai.
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A cultura do país vizinho, os trejeitos de uma nova realidade, as pessoas que passam por seu caminho, sua relação com cada lugar e, claro, todas as memórias que culminam no seu presente apontam também para uma lógica distinta: você vai crescer. Com essas experiências, Sara é exposta, então, às suas próprias feridas e tem a oportunidade de expurgar seus medos.
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A dor que ela carrega é uma bagagem pesada que vai sendo esvaziada à medida que dá sentido a um passado ainda muito recente. Já suas reflexões são sagazes e abissais, tornando os acontecimentos um tanto secundários, em uma obra bastante introspectiva.
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Nós lemos sobre a busca de identidade, solidão, amor, felicidade e auto descoberta. Em tom melancólico, Sara não expressa somente os próprios anseios e expectativas, ela é a voz de uma geração, um tanto perdida, mas com imensa urgência de se encontrar em si mesma.
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E eu não poderia deixar de falar da parte em que a narrativa, escrita em primeira pessoa, passa a ser escrita em segunda, como numa breve carta, um pedido de desculpa meio escondido nas entrelinhas. Fiquei sem fôlego, o estômago revirado e um nó na garganta.
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É deslumbrante como, com uma fórmula simples, a Julia Dantas desenvolve o enredo de Ruína Y Leveza e brinca com todos os clichês possíveis, sem entrar em limites previsíveis e com tal sensibilidade que você pode querer marcar todos os parágrafos do livro só por poesia.
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❝Eu tinha desejado muitas coisas ao longo da vida e as tinha tido às vezes, a maioria não, como acontece a todo mundo. Mas agora eu estava ali e não desejava nada. Era como ter tudo.
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