Alexandre 11/04/2020
Brizola de Clóvis Brigagão
A história começa a partir de sua expulsão do Uruguai em 1977, quando Brizola residente há 13 anos no país, recebe uma intimação sem qualquer explicação dos motivos para tal.Não se trata portanto de uma biografia, mas de memórias e relatos nos cinco anos que se seguiram da expulsão do uruguai, visita aos estados unidos e europa, retorno ao Brasil em 1979 e pleito nas eleições para o governo do Rio de janeiro em 1982.
No primeiro capítulo, ao ser expulso do Uruguai, os autores contam que: “A inesperada e inusitada manobra de Brizola – recorrendo ao governo de Jimmy Carter para um novo asilo em terras americanas – foi um acontecimento político de inegável repercussão no Brasil e em círculos políticos internacionais” (p.15). Nos capítulos seguintes é explicado um pouco melhor como se deu a expulsão do uruguai e a procura pela embaixada americana. O seu apelo (por asilo político nos EUA) foi aceito porque “O governo Carter estava abandonando a postura norte-americana de estimular governos militares e ditatoriais – em sua fase mais aguda da Guerra Fria – para acercar-se de movimentos, partidos e futuros governos democráticos”(p.18)
Os militares uruguaios tinha lhe dado cinco dias, ou 120 horas, para abandonar o país, sem satisfação sobre os reais motivos. A intimação afirmava que ele havia desrespeitado as obrigações de sua condição de exilado (outorgada em 2 de julho de 1964, 13 anos antes).Brizola visitou a chancelaria, mas não obteve qualquer esclarecimento. Toda a situação foi estranha, pois ele já não estava envolvido em assuntos públicos, mas se dedicava apenas aos trabalhos de sua fazenda no Uruguai.
Ao chegar no EUA, deu entrevistas definindo-se como um social democrata dissidente do regime militar, o que divergia das acusações de ligação com o comunismo. Alguns dias apos sua chegada, recebeu o convite do primeiro ministro português, Mário Soares, para visitar Lisboa, como asilado político e com passaporte português, convite aceito prontamente
No capítulo “chapa quente”, é apresentado um diálogo (pelo telefone) entre Toufik Matta e Trajano Ribeiro, onde Matta não deixava dúvidas de que Brizola tinha que sair do Uruguai. E às pressas. Todavia, as razões não estavam claras. Nesse mesmo capítulo é lembrado sobre o último encontro entre Jango e Brizola, onde jango se revelou com poucas esperanças na atuação do MDB como intermediário deles e desejando o retorno ao Brasil. tambem é comentado sobre o emparelhamento das ditaduras no Chile,Uruguai e Brasil e suas operações em relação a líderes políticos exilados. A expulsão de brizola inclusive foi fruto dessas relações:” Nos bastidores, sabia-se que os militares uruguaios estavam fortemente ligados ao ministro do Exército brasileiro, Sylvio Frota, que os pressionara pela expulsão de Brizola”(p.29)
Também é apresentado o primeiro contato com Archie Cheek,encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA em Montevidéu, na ausência do embaixador que lhe disse: ‘Quando eu estava na universidade, nós tínhamos um clube latinoamericano. Naquele tempo, falava-se muito no senhor, que o senhor gostava de expropriar empresa americana.’
Com seu asilo nos EUA e Europa, Brizola retomou a vida política pois...“Nesse período teve início uma verdadeira romaria de políticos brasileiros buscando contatos, especialmente políticos do MDB gaúcho, com profundas raízes trabalhistas. O PTB fora a matriz originária do MDB gaúcho, à qual se agregaram, posteriormente, políticos de pensamento liberal oriundos, principalmente, do Partido Libertador (PL).
Esses quadros sentiam-se atraídos por sua liderança. Alguns dispostos a segui lo, fosse qual fosse o rumo que tomasse em termos partidários; outros mais cautelosos queriam ouvi-lo, gostavam da conversa, mas não chegavam a se comprometer com a causa de Brizola. Os mais novos sentiam-se inseguros em abandonar o MDB, com o predicado de ligação orgânica, embora o pai ou o avô tivessem pertencido ao PTB.” (p. 47)
Em “Cabildos Abiertos” fala dos reencontros, em Lisboa, dos velhos trabalhista em torno de Brizola, debatendo inúmeras pautas,mas principalmente sobre a necessidade de Anistia. Entendendo que “para Brizola e seu novo grupo, a anistia passava, necessariamente, pela recriação dos partidos políticos, e como o MDB era tão somente uma frente de vários segmentos políticos partidários, seria mais que natural que anistia e reorganização partidária marchassem juntas.”(p.66)
Em “Esquentando a chaleira do chimarrão”, é tratado das mobilizações políticas de Brizola visando seu retorno ao Brasil. No relatório a pedido de Brizola, é afirmado por Trajano “que o MDB se acomodava como partido consentido e se ocupava apenas com o dia a dia da política brasileira. À anistia o partido dava pouca ênfase, embora o tema fosse parte de seu programa. Como guarda-chuva da oposição, o MDB não tinha uma política que contemplasse as grandes questões das reformas nacionais. Concluía que não fazia parte de seu ideário o ressurgimento de partidos políticos definidos ideologicamente, como o PTB. ”
Faltou-lhe apenas aquilo que mais desejava ser: presidente da República Federativa do Brasil.(p.12)