Don Giuliano 16/09/2017
Dando a real sobre os EUA...
Excelente!
Como já descrito em algumas críticas e resenhas, espanta o estereótipo dos livros chatos de história, se é que se pode simplesmente considerá-lo como um mero livro de história.
A obra consegue, de forma magistral, compilar 100 anos de história dos EUA num calhamaço de 354 páginas. Nenhum capítulo, página ou parágrafo é chato ou enfadonho de se ler. É uma linguagem direta e objetiva. O que o torna um pouco cansativo é o excesso de informação: muita coisa para se absorver e se refletir em poucas páginas para o tamanho e complexidade do assunto.
Todavia, imperdível para quem curte história e quer entender a situação geopolítica mundial.
Isso porque, todo o mundo sabe, a atual ordem mundial é o que é hoje devido ao protagonismo americano. Sem a compreensão de sua história, fica difícil entender tudo o que se está acontecendo entorno do mundo, embora isso seja uma pretensão.
Partindo do pressuposto que o livro é assinado por Oliver Stone e Peter Kuznick, já se tem o tom das dissertações quando se apresenta uma critica auto-reflexiva de americanos para com seu país, seu povo e como seu governo o conduz e o manipula com base nos interesses de grupos financeiros poderosos daquele país e através dos instrumentos midiáticos nada imparciais segundo os próprios autores.
Oliver Stone já é conhecido por muitos, em especial por sua cinematografia, rica em filmes críticos aos desígnios históricos americanos. Filmes como: "Platton", "Nascido em 4 de Julho", "Wall Street" e "JFK" desnudam os mitos sobre a defesa irredutível da liberdade, da democracia e dos demais valores americanos pelo governo daquele país. Associado a Peter Kuznick, PHD em história e renomado questionador das versões oficiais da história americana, produz esta obra surpreendente e quase inimaginável quando se remete ao fato de que os autores são americanos.
Dito isso, certamente que tenho uma grande curiosidade sobre a aceitação desta obra no território americano, visto que coloca em xeque toda a moral pregada pelos líderes americanos ao patrocinarem guerras e intervenções ao redor do globo, revelando a hipocrisia daquele governo ao longo das décadas do sec. XX e início do sec. XXI quando tentam apresentar uma outra roupagem aos seus interesses imperialistas tentando vender a imagem de polícia do mundo. A obra apresenta fatos levantados través de profundas pesquisas a respeito da presunção de vários governos americanos em considerarem os EUA, sem pudores, o real império dominante atual como se isso fosse uma missão divina dada a eles. Mesmo que, para isso, fosse necessário relevar-se a necessidade de se desdenhar iniciativas de paz de supostos inimigos, como a antiga URSS, ou mesmo lançar mão de brutalidades, como o uso da bomba atomica em Hiroshima e Nagasaki sem necessidade ou a manipulação fraudulenta e inescrupulosa de informações falsas para justificar invasões como no Iraque e Afeganistão.
O livro detona governos americanos, como o de Truman, Reagan e W. Bush, ao passo que lamenta a não continuidade do altruísmo pregado por Roosevelt e Kennedy, bem como o fracasso do inicialmente superestimado governo Obama.
Por fim, ao concluir a leitura desse livro, me deparei em uma reflexão: o quanto manipulável é uma sociedade, mesmo que a americana, considerada avançada cultural e intelectualmente, em prol de interesses de poderosos que ditam a ordem mundial. Paro também para pensar e fazer um paralelo sobre a situação do poder no Brasil: se hoje ficamos de cabelo em pé pelo que vemos nos meios de comunicação sobre o que acontece na política nacional, difícil fica tentarmos imaginar tamanho poder que cercam os destinos de uma nação como os EUA.
Vale muito a pena este livro.