spoiler visualizarMagda14 29/08/2021
Gótico Feminuno
Ann Radcliffe foi a musa do romance em sua época, servindo de inspiração para escritores futuros, como: as irmãs Brontë, Mary Shelley, Edgar Allan Poe e Charles Dickens (por exemplo). Obra prima da autora, "Os Mistérios de Udolpho" foram publicados originalmente em quatro volumes (nesse "volume I" da editora Pedrazul estão os dois primeiros volumes originais), tendo feito tanto sucesso a ponto de terem feito de sua autora a primeira escritora a poder viver exclusivamente de sua obra, fato que era quase um milagre, considerando o momento em que o romance foi escrito (século XVIII).
A história narra as vicissitudes sofridas por Emily Saint-Aubert após a morte de seu pai e ter sido entregue aos "cuidados" de sua tia e de seu marido, a madame e o signor Montoni, além do afastamento da mocinha daquele que era o amor de sua vida, o jovem Valancourt. Ela é retirada de sua terra Natal, Languedoc, e levada a viver, inicialmente, em Veneza e, posteriormente, no castelo de Udolpho, onde vivencia acontecimentos terríveis.
Comecei a ler o livro com muita expectativa, mas, à medida que fui lendo, achei a história um pouco monótona. As coisas só começam a acontecer de fato na metade do volume 2, quando Emily se muda com a família para Udolpho. Até antes disso, a narrativa exagera na descrição das paisagens francesas e italianas, além de terem um foco maior na relação de Emily e Valancourt. E mesmo depois que ela se muda para o castelo, as coisas demoram a acontecer. Isso foi fator primordial na minha demora em terminar de ler o livro (comecei no final de maio e terminei no final de agosto). Ou seja: é um enredo beeeeem arrastado.
Contudo, há um fator positivo. Por se tratar de uma história gótica, a gente fica esperando alguma coisa que nos assuste ou nos leve a um nível de apreensão muito grande. Bom, as ocorrências sobrenaturais são explicadas, o que considero um ponto positivo, já que o simples aparecimento de um fantasma me parece algo chato. Mas, mesmo quando não há essa explicação, como na parte do quadro atrás do véu, Radcliffe consegue manter a atenção do leitor, e volta e meia ela retoma esse ponto no decorrer da narrativa, mas tudo sem revelar o que há de verdade naquela imagem. Sabemos que é algo terrível, mas não se sabe exatamente o quê. E isso eu acho fantástico, pois suspense é justamente a capacidade do leitor imaginar a possibilidades para o terrível.
E Montoni, tio de Emily, é um vilão que realmente causa repulsa. Que homem cruel! Só por ele eu daria nota máxima na avaliação desse livro. Não dou justamente pela história ser arrastada demais. No entanto, a forma como o volume 2 de Radcliffe termina, me deu vontade de continuar e ler os volumes 3 e 4 (o 2, na edição Pedrazul).