Mateus 17/09/2016
As Pontes de Puzur (e o Espadachim de Carvão)
Existe um lugar-comum para as sagas (sejam cinematográficas ou literárias) que diz que os segundos volumes, ou os volumes intermediários, são sempre problemáticos do ponto de vista do ritmo da narrativa e do arco dramático. O Espadachim de Carvão e as Pontes de Puzur, infelizmente, cai nesse clichè.
O segundo livro da saga d'O Espadachim de Carvão, do escritor Affonso Solano, mantém os pontos altos vistos no primeiro volume da obra. Um mundo que combina criatividade com uma pretensão comedida, aliado à narrativa extremamente visual do autor, geram, novamente, um universo que lembra um Star Wars sumério. O texto é repleto de deliciosos clichès da narrativa do cinema dos anos 70 e 80, dando um ar de Spielberg e Lucas para a obra. Estes pontos, no entanto, parecem ser a única sustentação da obra em termos de qualidade.
Mais uma vez, Solano divide a narrativa em dois momentos que avançam concomitantemente; no entanto, nesse volume, o protagonista da saga fica limitado a apenas um dos arcos desenvolvidos. E que limitação! Adapak é, nesse volume, um personagem desinteressante, mal desenvolvido (se é que houve qualquer desenvolvimento)
e seus momentos servem apenas para pontuar o outro arco com informações convenientemente úteis, ainda que intrigantes. Sua relação com a companheira é insossa e o clímax de sua história é totalmente desanimador.
O outro arco da história é um tanto diferente. Puzur e Laudiara são personagens interessantes, e seu desenvolvimento segue uma trajetória simples mas agradável (mais uma vez remetendo às aventuras à lá Spielberg). O problema acontece, novamente, no clímax da aventura, onde as motivações dos personagens se tornam difusas e alguns dos preceitos são contraditos pelo autor, com um final repentino e não totalmente satisfatório.
A história de Puzur é muito mais poderosa e intrigante do que a de Adapak, e isso é mais problema do que solução - afinal do contas, não é a saga d'O Espadachim de Carvão que estamos acompanhando? Para piorar, a ligação entre os dois arcos é pífia e conveniente demais, deixando a impressão que o autor apenas tinha uma boa ideia para ambientar no seu cenário, mas foi incapaz de conectá-la ao corpo da história.
Affonso Solano não é um amador na escrita, e isso fica claro nas suas obras. No entanto, caso queira abandonar de vez a mediocridade, precisa investir tempo e esforço em aprimorar seu ritmo e o desenvolvimento de seus personagens; do contrário, todo o universo colorido que ele se esforça em fazer crível vira apenas mais uma ideia mal aproveitada.