Carol Cristina | @blogacdh 15/11/2015Recebido em parceria com Única Editora, Madrugadas de Desejo da autora inglesa Jayne Fresina, é um romance de época inteligente, com uma protagonista instigante e bem distante do senso comum. Os romances de época me acompanharam durante toda a minha vida de leitora, e posso garantir que nunca li nada parecido com “Madrugadas de Desejo”, o que definitivamente, me deixou satisfeita.
[...] Nenhum homem que pretendesse ter Ellie Vyne deveria deixá-la fora de vista por muito tempo. Ninguém podia saber o que ela poderia fazer em seguida.
Mariella (Ellie) Vyne era filha de uma moça americana que havia se casado com um almirante inglês, com quem teve mais duas filhas. Desde a morte da mãe, Ellie é a única com responsabilidade suficiente para tomar conta das finanças da família. Ela vem se disfarçando em meio a sociedade inglesa como o Conde de Bonneville, jogando e ganhando dinheiro da elite, para continuar sustentando os caprichos do padrasto e das irmãs. “[...] Ela nunca havia sido salva de nada; era ela que geralmente salvava os outros.”
Mas o mesmo não acontece quando o assunto é seu inevitável futuro casamento. Com 27 anos de idade, uma reputação duvidosa e vários noivados rompidos, suas irmãs mais novas começam a pressioná-la nesse sentido; porém Ellie, com sua independência e personalidade forte, tem plena convicção de que casar seria sua ruína.
Até que o libertino James Hartley, seu inimigo declarado (pessoalmente e familiarmente falando), lhe propõe um casamento vantajoso para os dois lados, já que está cansado de todas as mulheres no seu pé e seus joguinhos. O pretexto? "É melhor o diabo que conhecemos..."
Só que a história não segue esse rumo. Na verdade, Ellie faz uma contra-proposta: James deve passar cinco noites com ela no interior, e se Ellie engravidar, eles levam o casamento de fachada adiante. Apesar de ser aversa a casamentos, tinha o sonho de ter um filho, e não podia correr o risco de casar com alguém que não pudesse lhe dar um (ou dar a satisfação de James Hartley conseguir exatamente o que queria...).
O que se deveria fazer com uma mulher como Ellie Vyne? Casar-se com ela, claro, e salvar o restante da raça masculina dessa encrenca ímpar. Tudo fazia parte de seu empenho de mudança. Ele estava se tornando um filantropo e tanto.
De forma divertida, e ao mesmo tempo intensa e sexy; a autora conseguiu fazer, como bem dito na capa, uma trama agitada, muito bem escrita e com um enredo central bem original (essa tem futuro, estamos de olho!). Então, não espere a mocinha inocente ou aquele tipo de romance “água com açúcar”, sem fundamento e cheio de rodeios...
Com a narrativa em terceira pessoa, o livro traz a visão da Ellie e do James em momentos alternados. O ritmo de leitura é muito bom, e te envolve: consegui me imaginar nos bailes de Brighton e na vila de Sydney Dovedalle *-* Sem contar que logo me vi preocupada e torcendo pelos rumos da história.
Os personagens do livro são impecavelmente bem construídos, do menor ao maior. Cada um, com seus ideais e experiências, têm algo a ensinar (o que dá a história uma porção de quotes reflexivos também). Eu adorei o "escandaloso" casal principal, que mais brigou/trollou/implicou um com o outro do que qualquer outra coisa kkk.
A Ellie foi uma graça, rs. Totalmente imprevisível e fora do comum, como disse lá em cima. Adorei o fato de ela ser "atrapalhada": sempre sujar seus vestidos, esquecer as luvas em todo o lugar... Ah, e o sonho dela gente, super me identifiquei, quem precisa de homem quando tem isso, hahaha: “- Quero um quartinho repleto de livros. Deve ter uma lareira e um cachorro velho dormindo em um cesto, logo ao lado. Algumas poltronas confortáveis com muitas almofadas. Tudo com vista para um belo jardim. Um lugarzinho só meu, onde ninguém nunca me incomode. Só isso.”
O James, mesmo sendo um libertino (em processo de redenção), ainda consegue ser mais sensato que Ellie. Apesar da criação rígida e aristocrática que teve, se mostrou uma pessoa diferente de suas origens, preocupado com o próximo e bom ouvinte. Os dois juntos formam o par perfeito!
- O que você está aprontando com essa moça? - Muitas coisas - respondeu James. – Todas extremamente escandalosas. Nenhuma delas é de sua conta. Ellie conteve uma risada, contraindo os lábios. James era um misto de garotinho travesso e rabugento, velho dando sermão, mas quando seu senso de humor malicioso irrompia, em meio à formalidade, ele era uma companhia quase tolerável. Para um Hartley.
O mordomo de James, Grieves, também roubou a cena com seus sábios comentários: “[...] O amor é algo muito estranho e desafiador, senhor. Fui covarde demais para aceitá-lo pelo que ele é.”
Esse livro tem um outro aspecto, que é o tom de erotismo. Livros que focam 100% nisso me incomodam; e o modo como o autor narra os pensamentos e as cenas, também faz toda a diferença nas minhas leituras.
Em Madrugadas de Desejo, a linguagem na narração dessas cenas não me agradou tanto. Já o equilíbrio entre elas e o resto do enredo estava indo bem no começo do livro, mas em certa altura o foco fica cada vez mais na atração entre os dois protagonistas (o que eu já devia esperar, tendo em vista o nome do livro, rs). E aí quando comecei a achar que a autora havia se perdido na história, ela voltou lindamente ao fio da meada. O que na verdade, deixa o livro bem agradável, pra quem procura cenas mais quentes, mas não dispensa a construção de uma boa história por trás.
- São quinze botões de rosa de seda em miniatura costurados ao redor do meu decote, Hartley. Vejo que você está interessado na contagem, já que os observou diretamente pelos últimos cinco minutos. Está realmente pretendendo criar um escândalo esta noite. Claro, eles causavam uma boa consternação só por dançarem juntos [...] Aos olhos do mundo, eles eram dois personagens notórios com pouca esperança de redenção. Também eram duas pessoas que não precisavam fingir uma para a outra. Ela conhecia todos os seus piores traços e ele os dela.
A edição está igualmente agradável e caprichosa, como sempre; a capa do livro é bonita e chama a atenção. Durante a leitura, percebi sutilmente o que não sei dizer se eram erros de tradução ou revisão...
Enfim, pelo conjunto da obra, deu pra entender porque a Única quis publicá-lo... Só acho que podiam ter dado outro título para o livro, pois as "madrugadas de desejo" são uma parte muito mínima do que ele realmente é.
Acredito também que a autora poderia ter explorado melhor alguns elementos que rapidamente foram deixados de lado, e tornado o enredo ainda mais rico.
Pra concluir, o que me incomodou no livro foram questões básicas de gosto, que não ofuscaram seu brilho. Então, minha avaliação é de 4,5.
E que fique a dica: leitura obrigatória pra quem gosta do gênero!
[...] Ele sabia bem da encrenca na qual eles estavam se metendo e não podia evitar, da mesma maneira que ela. Eles eram casos perdidos. Esse desejo proibido tinha crescido dentro de ambos e só havia uma forma de dominá-lo.
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