Pri Paiva 19/10/2015(RESENHA) BROCHADAS - JACQUES FUX
‘Brochadas’ é aquele tipo de livro feito para você rir.
Entramos na intimidade de um homem que confessa suas angústias e decepções amorosas e nos divertimos com isso. Tudo bem que, pra mim que sou mulher, é mais divertido do que dramático, mas acredito que os homens também achem cômicas as situações descritas pelo autor.
Fux se reinventa em um personagem interpretado por ele mesmo, e nos mostra como ocorreram as brochadas de sua vida através de capítulos destinados a cada uma de suas namoradas, amantes, casos etc.
Ele desabafa de forma clara e objetiva contando, simplesmente, tudo. Desde como a conheceu até a forma como se relacionavam sexualmente, com os cheiros, toques, envolvimento amoroso e dedicação ao outro. Muitas vezes a sintonia era perfeita, mas mesmo assim, ao final do relacionamento vinha a temida brochada.
O autor explica que muitas brochadas ocorreram por diversos motivos, inclusive decepção, pressão, tristeza, cansaço, desgaste do relacionamento, drama cotidiano etc. Já em algumas situações, só no primeiro contato com a pele e/ou cheiros já foram o suficientes, pois não rolava aquela química e com isso o “Jacozinho” (nome que ele deu ao seu órgão sexual masculino) não subia de jeito nenhum. É muito engraçado ver seu desespero em meio a um momento que geralmente traz uma pressão em não falhar, e ver forma como ele teve de lidar com aquela situação.
“A gente se acostuma a tudo, exceto à fedentina. Será? Acho que sim. O mundo dos odores é muito mais rico que o mundo das imagens.”
“Ele, não eu, é que foi capaz de se enrijecer. Eu brochei com a dor da impotência diante do amor perdido. Do desencontro total das almas.”
Mas o divertido de todo esse desabafo é que o autor manda um e-mail a cada ex namorada, com o capítulo destinado a elas anexado, perguntando se em algum momento elas também brocharam com ele. E as respostas destas mulheres, que foram expostas as confissões do autor, são hilárias. Algumas se sentem ofendidíssimas e com razão, pois precisam aceitar que sua intimidade estará exposta em um livro para todo mundo ler.
“Eu já tinha lhe dito o quão importante você foi na minha vida, tanto que despertou em mim os mais belos desejos e os mais terríveis sofrimentos.”
Mas aí vem a dúvida do leitor, será que tudo isso descrito é real ou é invenção? Pois o autor fez questão de deixar escrito na primeira página do livro a seguinte epígrafe: “Tudo aqui é verdade, exceto o que não invento”.
Pontos que considero QUASE negativos durante a leitura:
* Apesar de alguns trechos engraçados, e a busca do autoconhecimento e dramas vividos pelo autor, ‘Brochadas’ parece querer ser um livro masculino. Pois algumas passagens são um tanto quanto ofensiva ao universo feminino. Nada muito pesado, diga-se de passagem, mas ainda assim um tanto quanto machista em algumas situações.
*Um dos pontos QUASE negativos da leitura é essa “história” de que o autor se recria como um personagem ficcional e com isso o leitor não sabe o que é real do que é inventado. As peripécias do Jacques são muito divertidas, mas de alguma forma me incomodou não saber se realmente aconteceu como ele contou, ou se foi tudo inventado. Imagino que essa seja a intenção do autor, que no fundo deve se divertir ao brincar com a mente de seus leitores ao descrever algo que supostamente ocorreu e que no fundo é pura ficção, ou o inverso. Vai saber….rs.
“É necessário sempre desconfiar desse esforço em fazer da literatura (ou do escritor) uma espécie de gênio revelador, capaz de descobrir as muitas “verdades” sobre o personagem. Não é função da literatura fazer (ou não fazer) confiar no autor, muito menos fazer confiar na pesquisa histórica ao se trabalhar com a ficção.”
Enfim, mesmo com toda a dúvida o livro é engraçado e um tanto quanto dramático até certo ponto. Durante a leitura é possível notar as referências históricas, na qual o autor tenta explicar e filosofar sobre as brochadas como algo que acontece desde os primórdios dos tempos. Lógico que ele viaja um pouquinho na maionese, e cria ou supõe casos e descasos que não existiram, mas que podiam ser interpretados de forma diferente, e fariam todo o sentido.
“Tenho certeza absoluta de que Hitler era brocha (e pior, não circuncidado).”
Sobre o autor
Jacques Fux nasceu em Belo Horizonte em 1977. Com profícua vida acadêmica, Jacques é graduado em matemática e mestre em ciência da computação pela UFMG, doutor e pós-doutor em literatura pela UFMG, pela Universidade de Lille 3 (França) e pela Unicamp, além de pesquisador visitante na Universidade de Harvard. Sua tese de doutorado Literatura e Matemática: Jorge Luis Borges, Georges Perec e o OULIPO (Tradição Planalto, 2011) recebeu em 2011 o Prêmio CAPES de melhor tese de Letras/Linguística do Brasil. Antiterapias (Scriptum, 2012), seu romance de estreia, venceu o Prêmio São Paulo de Literatura 2013 e o manuscrito do próximo livro, Brochadas: confissões sexuais de um jovem escritor (Rocco, 2015, prelo), recebeu Menção Honrosa no Prêmio Cidade de Belo Horizonte.
site:
www.delirioselivros.com.br