aleitora 12/03/2018
Fábulas que numa linguagem adulta se mostram muito mais profundas do que eram no imaginário infantil.
Quem aqui ama revisitar leituras da infância? Eu adoro. E a resenha da vez é de uma coletânea de fábulas que com certeza vocês já leram ou conhecem ao menos uma. La Fontaine, o pai da fábula moderna, adorava mexer com nosso imaginário e nos passar lições através de fábulas envolvendo animais com características humanas, geralmente as piores, cobiça, inveja, preguiça, ódio, ganância, etc. Também há aquelas que nos lembram que sermos generosos e amigáveis quase sempre tem suas recompensas e as vezes só nos prejudica. Devido a linguagem simples e por retratar tão bem as “espertices” humanas através dos animais, o autor conquistou muitos leitores após sua primeira publicação, ainda em 1668.
Quem não conhece a história da cigarra que passou o verão cantando para, no inverno, pedir comida à formiga que, diferente dela, trabalhou noite e dia? Ou a história da lebre que menosprezou a tartaruga e foi vencida por ela, ou da raposa que desdenhou das uvas apenas porque não podia alcançá-las? São essas historinhas que tanto nos divertiram na infância que são recontadas aqui, mas numa linguagem mais adulta e na forma de versos.
Algumas fábulas são muito simples de entender outras não são tão fáceis e nos vemos voltando alguns versos para melhor compreendê-las, isso acabou atrapalhando um pouco a leitura, mas acredito que, ao traduzir os versos para o português, tentaram manter o mais próximo do original possível para não perder o tom poético da obra. O autor também escreveu fábulas usando pessoas para transmitir sua mensagem, mas nelas fica claro porque ele é conhecido pelas fábulas envolvendo animais, essas nos distanciam o suficiente daqueles sentimentos horríveis e por isso se tornam muito mais reflexivas.
A Cigarra e a Formiga – Tendo a cigarra, em cantigas, Folgado todo o verão, Achou-se em penúria extrema, Na tormentosa estação.Não lhe restando migalha Que trincasse, a tagarela Foi valer-se da formiga, Que morava perto dela.– Amiga – diz a cigarra – Prometo, à fé de animal, Pagar-vos, antes de Agosto, Os juros e o principal.A formiga nunca empresta, Nunca dá; por isso, junta. – No verão, em que lidavas? – À pedinte, ela pergunta.Responde a outra: – Eu cantava Noite e dia, a toda a hora. – Oh! Bravo! – torna a formiga – Cantavas? Pois dança agora!
Durante a leitura de suas fábulas encontramos várias referências e fábulas inspiradas em Esopo, considerado o precursor do estilo literário. Há também personagens que se repetem quase sempre com o mesmo dilema moral, como a raposa que está sempre tentando enganar ou o leão que é quase sempre retratado como sendo um rei benevolente ou o gato Rodilardo que aparece em ao menos três de suas fábulas como sendo um gato muito esperto e ágil, que causa pânico nos ratos por onde passa.
A diagramação dessa edição é a coisa mais linda, o livro está recheado de gravuras e a arte de capa tem um estilo muito moderno e contextual, e não vou nem falar nada da combinação de cores com o rosa pink tendo destaque, já estava cheia de expectativas por se tratar de um livro com obras que li e reli quando era criança, mas quando o recebi e vi a capa e todas as suas cores me apaixonei mais ainda por essa nova edição.
“Não julgues pela cara; Sim pelo coração.”
Apesar de certa dificuldade na leitura, esse é um livro que me trouxe boas recordações e gostei principalmente de conhecer as versões originais das fábulas que eu apenas conhecia nas versões romanceadas adaptadas para a leitura infantil. As lições de moral de cada fábula foram um prêmio à parte, afinal, estamos em um momento em que a moral humana anda tão em falta não é mesmo? Recomendo a leitura para que sirva de inspiração e lembrete de que “Nunca ninguém faça aos outros o que não quer que lhe façam.” Boa leitura!
“Porque às vezes no laço em que pretende ofender-me, também a si ofende.”
site: http://www.revelandosentimentos.com.br/2017/06/resenha-fabulas-de-la-fontaine.html