Sheila 14/01/2012Fadas no Divã"Quem tem medo do lobo mau ..." quem não se lembra deste e de outros bordões pedidos (algumas vezes insistentemente) para serem repetidos ao pé da cama, enquanto o sono não vinha? E aos que já são pais, quantos não os vem repetindo, assim como um dia escutaram?
Os contos infantis da literatura clássica: este é o foco deste livro, escrito pelos psicanalistas Mario e Diana Corso, eles próprios impulsionados por estes insistentes pedidos quando se confrontam com a realidade de ser pais.
Já na introdução, eles nos explicam que o livro segue a linha do livro de Bruno Bettelheim "A psicanálise dos contos de fadas" com algumas diferenças: em primeiro lugar, revisitando o conceito "de fadas" utilizado por Bettelheim para excluir alguns dos contos que aqui figuram; em segundo, incluindo uma parte específicas aos contos de fadas "modernos". E neste parte figuram desde a turma da mônica e Harry Potter, até um conto familiar criado pelos autores junto com suas filhas.
Por mais que o livro envolva em alguns momentos elucidações do campo da teoria psicanalítica - logo utilizando-se de uma linguagem mais técnica - é uma leitura acessível, que pode orientar pais, professores, psicólogos, cuidadores no vasto campo do folclore e do fantástico como uma maneira de elaboração de conflitos, metáforas e explicações de estruturas inconscientes que se repetem nos seres humanos.
O que fica de um conto para uma criança é o que ele fez reverberar na sua subjetividade, aliado ao fato de como chegou até ela. Caso tenha vindo pela mão de um adulto, pode ser tomado pela criança como se ele tivesse tido a intenção de dizer algo através da escolha daquele trecho dramático específico. Por sua vez, a criança faz suas encomendas, quer escutar determinada história, pede que lhe alcancem certo livrinho, propõe que se brinque com ela considerando-a como se fosse uma personagem. Enfim, essas trocas entre o adulto e a criança, tendo os contos como intermediários, podem operar como uma espécie de diálogo inconsciente.
Interessante também é o resgate histórico da criação dos contos de fadas, que passam a ser "suavizados" e direcionados aos pequenos após a invenção do infantil. Quando criados, estes contos eram narrados em praças públicas e salões para o deleite dos adultos - apesar de as próprias crianças serem consideradas "adultos em miniatura" à essa época. Basta saber que o desfecho de "Chapeuzinho Vermelho" quando colhido da tradição oral na França poe Charles Perrault, no séc. XVII, era seu devoramento pelo lobo.
Utilizando-se de uma linguagem clara e acessível, os autores transformam a leitura deste livro um prazer, inclusive abrindo a possibilidade de que este seja lido de forma sistemática - acompanhando passo a passo o desenvolvimento humano e as terias infantis oriundas de cada fase - como também de forma aleatória, escolhendo um capítulo e seu conjunto de contos associados, sem perder em entendimento ou profundidade. Um dos livros que mudou meu entendimento sobre o atendimento com crianças, quando ainda estava em meio a formação acadêmica. Super recomendado!
Disponível em http://psicologias2011.blogspot.com/2012/01/fadas-no-diva-mario-e-diana-corso.html