Israel145 10/10/2018O terceiro e último volume dos contos completos de Tólstoi marca o final da carreira do escritor (falecido em 2010). Os contos aqui superam e muito os do segundo volume, que são basicamente cartilhas de leitura russa e alguns embutidos de um irritante conteúdo mísitico/religioso, e chegam sem dúvida a equiparar-se ou até a superar os contos da primeira fase do autor contidos no 1º volume.
Os holofotes aqui vão para as classes sociais menos favorecidas e a aristocracia russa, tão bem retratada pelo autor nos clássicos Anna Karênina e Guerra e Paz, passa longe das histórias da escória que se arrasta pelo melhor da literatura russa: mujiques, presos políticos, mendigos, revolucionários, suicidas, condenados, etc.
As histórias de execução, trabalhos forçados, surras em corredor polonês, sofrimento, pobreza e toda sorte de infelicidade das classes desfavorecidas marca o leitor de forma profunda e incrusta na sua alma o gosto amargo da literatura russa que foi tão bem retratada com os magníficos contos de Tchekhov e os romances de Dostoiévski. Contos, por sinal, que se igualam à qualidade dos contos de Tchekhov quando este abordou tais temas.
Um dos contos finais deste volume mostra um pouco do dia a dia do autor, já nas proximidades de sua morte, ele escreve em 1910 o conto Iasnáia Poliana (o nome de sua propriedade) onde retrata em algumas páginas 3 dias de sua vida onde atende mujiques, acompanha um médico e transita pela sua propriedade e no final faz um desabafo amargo sobre o povo russo.
Obra espetacular que deve ser lida, apreciada, relida e repassada de geração em geração para honrar a memória desse grande autor da literatura universal.