thexanny 20/08/2022
Romeu e Julieta, Macbeth e Otelo, o Mouro de Veneza
Romeu e Julieta
Nota: ?????
Não leia Romeu e Julieta esperando uma história de amor. Essa história é sobre as consequências da imaturidade, de se deixar levar pelas emoções, de desobedecer seus pais, de pensar que ama alguém que nunca nem conversou.
Ela não pode ser vendida como "a maior história de amor", que amor? Um amor que começou em um domingo, sem nenhuma conversa. E que terminou na quinta, com o suicídio de ambos.
Para mim a maior mensagem dessa peça é mostrar que nossas escolhas têm consequências, e que pensar que sabemos de tudo é só uma prova de que não sabemos de nada.
É lindo o jeito que Romeu fala de Julieta, o jeito que Julieta olha para Romeu. Mas não é real. Romeu estava apaixonado por outra garota e só demorou um instante para amar Julieta, e esquecer Rosália.
O casamento deles com certeza não teria sido feliz, o final foi trágico, mas eu me pergunto se poderia ter acabado de outra forma. Acredito que uma hora ou outra eles teriam terminado, ou os dois seriam infelizes no casamento.
O pior é que Julieta não era burra, muito pelo contrário. Ela era determinada e muito mais madura que Romeu, tanto que quando Romeu começou a fazer juramentos de amor, ela o repreendeu. Disse a ele não prometer nada que não pudesse cumprir. Foi ela que propôs casamento, porque não queria só ficar de namorico. E quando ela se suicidou, não foi com um simples veneno e sim com uma adaga no peito. É uma pena ver que sua vida acabou de um jeito tão triste e, posso dizer? Trivial.
A briga entre as famílias Capuleto e Montéquio (que nunca chegamos a saber o motivo), é bem desgastante, não podiam estar no mesmo teto sem se cutucar. E acredito que Shakespeare queria deixar isso bem claro na peça, que eles nem sabiam porque estavam brigando, por isso nunca temos um motivo. O único motivo é a imaturidade, de não saber conversar e pensar que tem a verdade na palma da mão.
"Fale, anjo,outra vez, pois você brilha
Na glória desta noite, sobre minha cabeça,
Como um celeste mensageiro alado
Sobre os olhos mortais que, deslumbrados,
Se voltam para o alto, para olhá-lo,
Quando ele chega, cavalgando nas nuvens,
E vaga sobre o seio desse espaço"
A escrita é linda, não tem como não sair tocado. Mesmo eu sentindo raiva da escolha dos personagens, consegui me sentir comovida lendo em voz alta (até porquê para ler uma peça direito, você precisa ler em voz alta), consegui sentir a emoção que Shakespeare queria passar.
"Dramaturgos não são romancistas. Eles criam obras que precisam ser atuadas, interpretadas. Para serem reinterpretados através dos séculos. Graças à sua genialidade, Shakespeare nos deu um material tão cru que realmente pôde sobreviver através dos tempos, resistindo à miríade de reinterpretações que damos a ele. Porém, para apreciarmos Shakespeare de fato, para compreender por que ele sobreviveu ao tempo, devemos lê-lo em voz alto, ou melhor, ainda, vê-lo sendo interpretado, quer seja num traje de épica ou absolutamente nu, num prazer dúbio que tenha tido." Livros apenas um dia, pag.204
Após a leitura eu assisti uma adaptação lançada em 2013, me arrependi um pouco por tem começado por essa porquê ela não me tocou muito. E pelo que eu vi é uma das adaptações mais fracas em relação à atuação. Porém, eu achei o roteiro fiel, com uma mudança aqui e ali. Quero assistir outras por que só essa não me contentou.
Macbeth
Nota: ????
A história se desenrola na Escócia, no século XI. Os generais Macbeth e Banquo retornam vitoriosos de uma batalha. No caminho para casa, eles se deparam com três bruxas que fazem uma profecia: Macbeth se tornará barão e depois, rei. E os filhos de Banquo serão os próximos soberanos.
A peça mais curta de Shakespeare, mas uma das mais importantes. Macbeth vai nos falar sobre a ambição, o desejo e o destino inexorável.
Quando às três irmãs bruxas falam para Macbeth que ele será rei da Escócia, ele cria esperanças e um desejo de ter todo esse poder. E sua esposa, Lady Macbeth, uma mulher também muito ambiciosa, encoraja e, de certo modo, pressiona Macbeth para matar o Rei Duncan, de modo a se tornar rei o mais rápido possível.
E mesmo no começo Macbeth tendo dúvidas sobre o assunto, ele acaba cedendo, porque ele não consegue deixar de lado sua ambição, que é maior que qualquer outra coisa.
Macbeth poderia ter se tornado um grande Rei, humilde e amado por seu povo. Ele precisava apenas ter paciência, e deixar de lado seus desejos egoístas. Mas ele decidiu largar tudo, matar o Rei que jurou servir, matar um amigo que lutou ao seu lado em batalhas, matar crianças e mulheres. Tudo para alcançar o que tanto queria, e que quando teve se sentiu tão vazio e tão infeliz quanto antes. ?Nada se ganha, ao contrário, tudo se perde, quando nosso desejo se realiza sem satisfazer-nos. Mais vale ser a vítima do que viver com o crime numa alegria cheia de inquietudes. ? ( III- II )
Ate que ponto os nossos desejos podem ser levados adiante? A graça da vida é aprender a não ter tudo e assim se contentar, a ser grato, a não deixar se levar por promessas de: fama, luxuria e prazer. ?A vida é muito curta e ansiosa para aqueles que esquecem o passado, negligenciam o presente e temem o futuro.? ? Sêneca.
Isso tras um discussão antiga, sobre o desejo. Na idade Média acreditava-se que só era homem quem ignorava seus desejos e seguia as regras. Hoje em dia, dissemos que só é homem quem tem a coragem de realizar o desejo. Mas a pergunta é: ir ou não ir atrás do desejo? Acredito que Macbeth, Romeu e Julieta, Otelo, o mouro de Veneza tem a resposta para essa pergunta.
Quando descobre a morte de sua amada esposa, Macbeth faz um discurso niilista sobre a morte. Ele perdeu o sentido da vida e não sabe para que lutou todo esse tempo, porque vê agora que nada valeu a pena. Comparando a vida com uma vela, que facilmente pode ser apagada. Uma vida sem significado e felicidade. Sua vida perdeu o sentido quando ele deixou seus valores para trás, pensando somente em si mesmo.
"Ela devia morrer um dia.
Haveria um tempo para essa palavra.
Amanhã... e amanhã... e amanhã...
Deslizam nesse pobre desenrolar
de dia a dia
até a última sílaba do registro dos tempos
e todos os nossos ontens iluminaram para os tolos
o caminho até o pó da morte.
Apaga-te... apaga-te breve vela!
A vida nada mais é que uma sombra que anda...
um pobre ator que se pavoneia e se agita durante sua hora no palco e depois não é mais ouvido.
É uma estória contada por um idiota cheia de som e fúria que nada significa.
Nada!"
A história de Macbeth me fez refletir sobre o que nós estamos lutando, quais são os nossos desejos? As pessoas, especialmente os jovens, parece que perderam o sentido da vida. Queremos tanto e queremos agora. Pensando somente no "eu", no momentâneo.
Eu adorei essa peça, foi a segunda que eu li do Shakespeare. Percebi certas semelhanças com Romeu e Julieta, como o autor não deixa nenhum personagem ileso, se alguém fez algo errado terá suas consequências. A peça teve várias cenas importantes, e muitas mensagens. Na resenha eu não comentei sobre o período histórico em que a peça foi escrita, mas vale a pena pesquisar pra entender algumas coisinhas na hora da leitura.
Otelo, o mouro de Veneza
Nota: ?????
Otelo, o mouro de Veneza é uma peça fenomenal que abre caminho para diversas discussões, sobre o ciúme, a confiança, e a importância que damos as aparências. Como qualquer obra antes de ler deve-se saber o ano em que a obra foi criada e seu período histórico, para que assim possamos ter a melhor experiência de leitura e também fazer criticas concretas. As obras do Shakespeare são difíceis de determinar uma data concreta, contudo presuma- se que foi escrita por volta de 1900, ela se passa durante a guerra otomano-veneziana.
É interessante notar que, apesar de Iago ter ajudado, Otelo já desconfiava de sua esposa. E eu acredito que, um dos principais motivos é que Otelo tinha uma autoestima baixa, por conta de sua origem e tudo o que ouviu dos outros. Ele não via seu próprio potencial, ele não via que ele era um homem que cumpria o seu dever. E ele não entendia o motivo de Desdêmona ama-lo e tê-lo escolhido como seu esposo e isso trazia a desconfiança de que, a qualquer momento ela podia troca-lo.
Um assunto importante também é sobre a confiança. Como Otelo poderia confiar em Desdêmona, e Desdêmona em Otelo, se eles nem se conheciam. Como tudo na vida, a confiança precisa ser adquirida e quando conhecemos pouco alguém, não temos ciência do que essa pessoa é capaz. Tanto que quando Desdêmona diz que nunca havia presenciado tal comportamento de seu marido. Emília responde: ?Não é em um ano, nem em dois, que se conhece um homem. Tudo que eles são é estomago, e nos não passamos de comida. [...]?
O professor José Garcez Ghirardi, no quadro literatura fundamental, fala sobre alguns pontos na peça de Otelo, e ele diz uma coisa que me chamou muito a atenção. No final das tragédias de Shakespeare, a ordem foi restaurada, mas essa ordem não serve para nada. O que adianta Iago ter sido punido, se Desdêmona morreu? O que adianta as famílias Motequio e Capuleto terem se entendido, se Romeu e Julieta morreram?
Como ele diz, essa é a essência das tragédias de Shakespeare. Que mostram essa contradição no tempo Elisabetano, ou seja, o que existia antes já não pode existir e aquilo que vai existir, ainda não pode existir. Essa é uma geração presa entre o que JÁ não é, e o que AINDA não é. Ele explica isso melhor no vídeo, quem quiser assistir, pesquise: ?Otelo, O mouro de Veneza ? José Garcez Ghirardi?.
Acredito, que a principal mensagem dessa peça é que precisamos ter cuidado com quem escolhemos confiar. Não se deixar levar pelo o que os outros dizem, e sim tirar conclusões a respeito dos fatos. Que nem sempre são fáceis de ver. Também ter comprometimento com aqueles que prometemos respeitar, se Otelo tivesse colocado a palavra de sua esposa em primeiro lugar, tudo teria sido diferente. Ele foi enganado e feito de bobo, não pela sua esposa, que ele tanto desconfiava. Mas por seu ?amigo?, que nunca lhe deu uma resposta certa, mas sim especulações que só um coração inseguro, ciumento e desconfiado poderia aceitar como prova.