Julio Reny

Julio Reny Cristiano Bastos




Resenhas - Julio Reny


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Ana Seerig 30/10/2016

Desde que comprei Julio Reny: Histórias de amor & morte, assinado pelo Cristiano Bastos, mas narrado pelo próprio biografado, estava decidido que ia fazer um post aqui. Não apenas pra divulgar a iniciativa fabulosa do Bastos, mas especialmente pra divulgar as canções de Julio Reny. E eu decidi comprar o livro no momento em que me convidaram para curtir a recém-feita fanpage no Facebook (não posso provar, mas minha memória diz que não havia trinta curtidas quando cheguei lá) e anunciaram o projeto. Até hoje não sei como fui chegar lá, porém, acompanhei de perto e divulguei, na medida do possível, o livro que estava pra vir - além de ansiar por sua publicação. Enfim, o fato é que este post deveria ser uma resenha da biografia de um precursor do rock gaúcho, mas minha vontade, após criar coragem de terminar a leitura, é falar como fã e, diante de um livro tão íntimo, me dou o direito de misturar a fã com a resenhista.

Em algum momento da minha vida, me vi como fonte de consulta para dúvidas do rock gaúcho. Jamais me achei apta pra isso, mas aconteceu sem que eu quisesse ou percebesse. Numa dessas, uma amiga de Novo Hamburgo (que conheci através de um post sobre Graforreia Xilarmônica, aliás) disse que tinha ido a um festival lá pelas bandas da grande Porto Alegre e que alguém tinha feito um cover da qual ela tinha gostado muito, ela só não sabia quem cantava a música original e me pediu ajuda citando os versos que lembrava da canção. Fracassei. Ela buscou o set list do festival e acabou descobrindo o nome da canção e seu autor: Adeus companheiro, de Julio Reny. O nome não me era estranho e eu sabia de onde conhecia: Wander Wildner o cita na canção O reverendo rock gaúcho: "Julio Reny continua pelas ruas da cidade e tem um violão modelo Elvis Presley". Esses versos sempre me marcaram, não sei se por ser o nome menos conhecido por mim, mas provavelmente por ser a cena mais visual da letra, ao menos no meu imaginário. Foi assim que o universo me disse que, se eu não conhecia Reny, não conhecia nada de rock gaúcho. Foi assim que o universo me apresentou Julio Reny.


Confesso que não foi uma tarefa muito fácil saber mais dele, já que então, 2010, as informações não eram tantas na internet - ao menos não sobre ele. (Aliás, outra grande glória do Bastos: trazer o nome de Julio Reny para a virtualidade.) Não sei se descobri muita coisa, mas encontrei o CD Diários da chuva e, pela primeira vez, consegui entender o que as pessoas querem dizer com "álbum perfeito". De imediato me apaixonei por Reny e, de tempos em tempos, continuei catando o nome dele na internet.


O cosmos continuou conspirando a meu favor e um dia, assistindo um canal que NUNCA assisto, descobri que Julio Reny e Marcio Petracco iriam fazer, naquela noite, um show em Caxias. Eram 17h, eu tinha um ensaio de formatura às 19h e o show era umas 20h30, acho. Eu enlouqueci. Que se exploda formatura. E daí que eu sou da comissão? E daí que é o ensaio final? É o Julio Reny, poxa, o cara sobre o qual eu estava tentando descobrir tudo. Ele e o Marcio Petracco, que é um dos nomes que mais admiro na música gaúcha. Como não ir? Fui. Saí de casa trovando meu pai por uma carona mais tarde (da qual não precisei, o que o fez ficar ofendido), fui pra tal reunião, inventei uma história triste pro pessoal da organização, confessei pras amigas de show minha preocupação em perdê-lo por falta de ingresso, saí antes da hora da reunião, cheguei no local (que, felizmente, era perto) e quase fiz um buraco no chão de tanto andar de cá pra lá até liberarem a venda de ingressos, mas consegui.

Entre uma música e outra, Reny e Petracco contavam suas histórias de batalhadores de rock gaúcho. Foi uma aula. Saí de alma lavada. Sem exageros. Eu não estava numa das minhas melhores fases e assistir aquela dupla me fez um bem danado. Infelizmente, o público ficou devendo. Não sei se havia 20 pessoas naquele espaço que cabiam centenas. Poucos prestigiaram um dos shows mais bonitos que vi nessa cidade. Uma verdadeira pena. No ano seguinte, eu entrevistaria o Petracco sobre a banda Cowboys Espirituais (cujos membros originais eram ele, Reny e Frank Jorge - outro dos caras que admiro imensamente) para divulgar no jornal em que eu trabalhava o show que eles fariam na cidade. Lembro de ter dado pulos sozinha (literalmente) quando soube dessa apresentação. Ninguém na redação conhecia a banda, fora um cara, que não estava presente no momento exato da minha descoberta - mas que depois me fez mais feliz ao chegar, dizer que conhecia a banda e pedir a data do show. E entrevistar o Petracco, bom, foi outra aula. Ainda sonho com as cartas que ele me disse ter guardadas e que certamente registram boa parte da cena musical dos anos 80. O show, de novo não teve o público que mereceria, mas foi fantástico. De alguma forma, adivinhei umas duas ou três vezes a música que eles iriam tocar a seguir, a ponto de me perguntarem se eu tinha visto o set list - coisa que não vi.

No fim de 2013, quando estava no meu angustiante fim de intercâmbio na Alemanha, a página no facebook me presenteou com um link para a discografia de Julio Reny. Foi aliviador. E, apesar do receio com as normas alemãs de download, baixei os álbuns que me faltavam. Mais uma vez o universo conspirava a meu favor. Registro tudo isso porque ler a biografia de Reny me fez pensar em tudo isso, me fez lembrar dos detalhes de certos momentos e entender melhor meu apego às suas canções. A melhor explicação para isso talvez tenha sido dada por Carlos Eduardo Miranda, em seu depoimento a Bastos: Julio Reny vive em seu mundo de sonhos. Se assim for, talvez compartilhemos os mesmos sonhos, ou pelo menos as mesmas influências. Meu fascínio por Agatha Christie, por exemplo, sempre me fez adorar a ideia de haver uma banda chamada Expresso Oriente. Pois bem, descobri, pelo livro, que a inspiração do Julio veio daí mesmo, da Agatha. Soube que a sugestão de colocar no repertório do segundo álbum dos Cowboys Espirituais "Vá embora, tristeza", de José Mendes, o primeiro músico nativista a me chamar atenção, foi do Reny. E, como se não bastasse isso, a letra de Não chores, Lola, uma das minhas favoritas, surgiu por completo enquanto ele assistia o filme da Christiane F*. no cinema.

Aliás, ler Julio Reny: Histórias de amor & morte me deu a mesma sensação de ler Christiane F.. Não tive pressa. Degustei aos poucos. Não tive coragem de terminar logo, me senti em casa. Não sei definir um momento significativo da narrativa. E, provavelmente, vez e outra vou me pegar ao acaso remoendo uma situação. Quando estava pra encarar o último capítulo, meu rádio mental tocou Ficou o filme e, pra minha surpresa, foi justamente a música citada nas últimas folhas de um livro com mais de 300 páginas; me descobri uma boa fã durante a leitura, já que a menção de um título ou um verso me faziam cantarolar mentalmente, ou seja, por duas semanas só soube cantar, ouvir e compartilhar Reny. Foi fantástico. Porém, não, o livro não é só para fãs.

O livro é para pessoas que gostem de saber sobre pessoas; que gostam de histórias sinceras e reais; que não esperam o "felizes para sempre", mas que gostam de lembrar que a vida é feita de um dia por vez e que muitas vezes eles não são perfeitos. É um livro sem época, sem idade, sem regionalismos. É a história de qualquer um e de todo mundo. Podia ser o desconhecido ao lado ou seu melhor amigo. Aliás, no fim das contas é essa a imagem que se forma de Julio Reny: ele é aquele garoto na rua que bate em todo mundo para mostrar que é forte e é o cara que busca nas drogas o alívio para mil questões, mas ao mesmo tempo é o cara que abre as portas da sua casa para ajudar os amigos e que, também, jamais esquece quando eles o ajudam. Enfim, a história de Reny é intensa e, portanto, impressionante e irresistível.

site: http://www.oquetemnanossaestante.com.br/2016/10/julio-reny-historias-de-amor-morte.html
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