Felipe Novaes 16/08/2016Lendo as obras de Sir Arthur Conan Doyle vemos aquele homem jovem, de mente poderosa, corpo vigoroso e incansável na resolução dos mais instigantes mistérios. Assistimos ao seu sumiço e ao seu retorno.
Um personagem literário e tanto. Feito para refletir o homem ideal dos tempos em que o racionalismo moderno estava a todo vapor.
Bom, e se Sherlock Holmes realmente existisse e essas obras fossem escritas por Watson, seu fiel companheiro e admirador. E se essas obras fossem seus relatos romanceados das proezas do famoso detetive? E se Holmes nem mesmo fumasse cachimbo ou usasse aquele chapéu estranho de caçado de quadrúpedes cornudos (veados, alces, sei lá)?
É esse universo que Mitch Cullin nos apresenta. Nele, vemos um Sherlock Holmes idosos, centenário praticamente, com um intelecto poderoso ainda, mas afetado por uma recente e natural perda de memória.
O homem troca a Baker Street em Londres por uma fazendinha no interior de Sussex, onde se dedica à apicultura e à pesquisa autodidata de abelhas.
Eu sempre costumo pensar que nosso corpo (e a beleza) tem uma data de validade muito mais curta e certa do que o intelecto. O livro nos mostra um exemplo claro de que é isso é no mínimo, 1/3 da verdade. Na verdade, dependendo de como vivemos nossos tempos de potência, nosso intelecto pode também dizer adeus. Mas, mesmo se você fizer tudo certo, ele também pode falhar.
Sendo assim, em parte, o fio condutor de Holmes é sua busca por atividades que deixem vivas as memórias de quem ele é (ou já foi), o que também é capaz de explicar o porquê de seu retiro para o bucolismo Sussex.
Sr. Holmes não é só uma despedida de um dos meus personagens favoritos (afinal, ele teria já quase um século de existência), é também um romance sobre um ser humano extremamente peculiar e original, que viveu arcando com as limitações impostas a uma mente extraordinária num mundo de intelectos banais.