Loops 04/01/2018
Resenha: Wicked por Degradê Invisível
"Quanto mais civilizados nos tornamos, mais terríveis são os nossos entretenimentos."
Como já diz a sinopse, Wicked nos traz o outro lado de O Mágico de Oz - o lado da Bruxa Má do Oeste. Enquanto Gregory Maguire recria o mundo de Oz, Elphaba, a bruxa da pele verde, ganha voz ao contar sua própria história e colocar os pingos nos is do clássico.
Contada sempre em terceira pessoa, a história é dividida em cinco partes, pendendo a cada momento para diferentes pontos de vista.
A primeira parte, intitulada "Munchkinlanders" ("Os Munchkins", em tradução livre") pode ser considerada uma espécie de introdução, um prólogo, uma vez que conta detalhes de antes do nascimento da Elphaba, focando em seus pais, Frex, ministro etinerante e Melena, a neta do Eminent Thropp de Munchkinland (uma espécie de Rei) e sua relação com o nascimento de Elphaba, que para eles parecia um pequeno monstro.
Desde o nascimento, Elphaba mostra-se diferente dos outros bebês. Não apenas pela cor de sua pele (verde), mas por suas atitudes, inesperadas para alguém de sua tenra idade.
Na segunda parte, chamada "Gillikin", Elphaba já mais velha, recém-saída da puberdade, é levada para Shiz, onde estuda. O grande cerne da trama se inicia nessa parte e acompanhará a mocinha-vilã, mesmo através do ponto de vista dos outros personagens. A trama de Wicked é marcada por uma visão política, social e ética sobre a natureza do bem e do mal.
Elphaba é uma moça mal compreendida que, por sua própria percepção de si, envolve-se na luta pelos direitos dos Animais, que antes tinham direitos iguais aos "humanos", mas os estavam perdendo. Ao entrar nesse universo, Elphaba acaba se envolvendo em uma briga política por poder, enquanto parece notar que é somente uma marionete do destino.
Um fato: sou louca por musicais. Outro fato: sou apaixonada por Wicked. Assisti pela primeira vez uma versão da Broadway gravada por um espectador através do bom e velho Youtube. Eu sei, não me orgulho. Mas já conhecia a trilha sonora e queria porque queria assistir.
A vida me levou a Londres em 2014, quando pude assistir ao vivo a versão britânica, e depois disso, meu amor apenas cresceu e, no auge da minha paixão, pedi que minha mãe trouxesse o livro quando ela teve a oportunidade assisti-lo em Nova York (inveja).
Comprei e não li.
O musical veio para o Brasil em 2016 e ele ainda estava no final da minha lista de leitura.
No ano passado, eu finalmente comecei a lê-lo e, para minha surpresa, não consegui terminá-lo. O histórico do meu skoob deixa bem claro: eu o comecei em junho de 2017 e somente agora, em janeiro de 2018, eu o terminei e explico o porquê...
Gregory Maguire teve uma ideia brilhante. Decidiu contar o outro lado da antiga história sobre o Mágico de Oz e sua premissa era muito promissora. No entanto, meu sentimento pessoal é que ele começou a ter tantas ideias que não soube trabalhar todas.
O livro tem um começo muito bom. A primeira parte, que mostra a família de Elphaba, tem um quê de mistério e um ar de que algo está vindo, algo vai acontecer, que cativa e que coloca dúvidas na cabeça, gerando uma vontade de conhecer, de entender o que vai acontecer.
Mas a partir da segunda parte, todo esse sentimento se esvanece: em parte porque as coisas demoram a acontecer - por ser um jogo poder que é construído por anos - e em parte porque a escrita de Maguire é um pouco enfadonha. É muita descrição, muita argumentação, para pouca história.
Méritos do autor que conseguiu construir quase que todos os personagens, mesmo os "terciários", de forma bem consistente. Mas essa consistência foi levada a um extremo que deixou a leitura um pouco cansada - o que, no meu caso, ainda foi piorado pelo fato de eu o ter lido em inglês (e eu estou acostumada a leitura em inglês).
Além disso, algo que me incomodou bastante foi o fato de as partes pularem no tempo sem aviso. Não há qualquer indicação que já se passou algum tempo - você continua lendo a história, achando que é uma sequência próxima, mas descobre algumas páginas depois, que tudo que foi lido ocorrera depois de um intervalo de anos.
Em resumo, o livro teve alguns pontos bem baixos - devo dizer da segunda parte até a metade da quarta parte. Só já quase na parte final que o gás retomou, talvez porque eu estava determinada a terminar de ler. Parte do final é esperado (quero dizer, ele não mudou os fatos originais), mas o que leva a cena final me pegou de surpresa de certa forma.
Wicked foi um misto de decepção por um lado e surpresa por outro. Teve como ponto forte a trama, que eu achei que conhecia, por causa do musical, mas não conhecia; mas teve como ponto fraco a escrita em si. De qualquer forma, a Elphaba da primeira parte, a bebê verde, é tão encantadora, que não consigo dizer que o livro é ruim. Acho que vale a pena a leitura.
site: http://www.degradeinvisivel.com.br/2018/01/resenha-wicked-gregory-maguire.html