Deyse M. 16/11/2015
Uma grata surpresa
Fiquei curiosa quando vi este livro em um site sobre literatura. A sinopse me pareceu interessante e deu a impressão de uma leitura mais leve e divertida, justamente o que eu estava procurando no momento, mas não havia uma resenha sequer sobre ele ou sobre sua autora. Procurei informações pela internet e para meu espanto também não consegui encontrar nada. Mesmo assim, decidi arriscar.
Concluí o livro em apenas um dia – um domingo chuvoso que me deu mesmo vontade de ficar em casa, e "O Duque e a Fugitiva" superou minhas expectativas! A leitura flui, é ágil e nunca tediosa e a história de Annette e o Duque de Mallory é simplesmente deliciosa e divertida.
Os acontecimentos se passam por volta de 1890 em uma época em que a aristocracia inglesa se preocupava mais com status e eventos sociais do que com a situação política do país, repleto de pessoas pobres que eram ignoradas por todos, principalmente pelos políticos.
Annette é a protagonista que foge do colégio interno para conhecer o mundo e viver novas aventuras. Sua cena inicial – a fuga do colégio, é impagável, assim como a sua habilidade com as palavras: ela tem uma resposta pronta para tudo, é esperta, inteligente e destemida. De início, tive a impressão de que ela seria aquele tipo de personagem feminina "à frente de seu tempo" (desculpem pelo chavão!), que desafia os costumes da sociedade querendo chocar a todos por exigir igualdade de tratamento entre homens e mulheres, etc. Nada contra esta premissa, mas ela já está um tanto gasta. Talvez Annette, do alto de seus 18 anos, dê mesmo esta impressão no começo. Mas à medida que avançamos na leitura, percebemos que ela é muito mais do que um estereótipo. As várias confusões que ela apronta não têm como objetivo chamar atenção para si. Seu forte senso de justiça e bom coração fazem com que ela não meça esforços para ajudar aqueles que precisam. Ela se arrisca, traça estratégias e é capaz de elaborar os planos mais astutos e às vezes arriscados para conseguir socorrer aqueles com quem se importa.
Percebi que faltam protagonistas assim atualmente. Apesar de espevitada e faladeira, Annette tem compaixão pelo próximo, é leal, meiga e amorosa. Uma das passagens mais comoventes do livro é aquela em que ela, pela primeira vez, vê o estado de miséria em que a população vivia – crianças sem pai e mulheres muito jovens que já são mães e se prostituem pelas ruas de Londres, e decide doar parte de sua fortuna para ajudá-los.
Também gostei muito do duque de Mallory. Foi nomeado tutor de Annette pelo pai dela antes do falecimento deste. Ele tem 33 anos, é um homem honesto e responsável, um cavalheiro cujo único defeito são suas histórias amorosas mal resolvidas com as mulheres da aristocracia. Annette o confronta o tempo todo, mas de um jeito muito engraçado, que inicialmente o deixa bastante zangado, mas que acaba por diverti-lo no final. E ele também é tão espirituoso quanto Annette, tem senso de humor e às vezes responde aos desafios de sua querida pupila com o mesmo sarcasmo que ela lhe dispensa. Mas cenas mais engraçadas são justamente aquelas em que ele descobre as trapalhadas de Annette e fica furioso para depois chegar a conclusão de que, no fim das contas, ela tinha toda razão. O seu forte instinto de proteção para com sua pupila, que se desenvolve com a convivência entre ambos, já é um indício de que, de alguma forma, ela conseguiu tocar seu coração como nenhuma outra mulher fora capaz antes.
A narrativa, em 3ª pessoa, me pareceu um pouco datada, como se o livro tivesse sido escrito e/ou traduzido nos anos 50 ou 60. Há alguns termos que já não se usam mais, tais como "levada da breca" (este me fez rir!). Mas isso não atrapalha a leitura, pois o texto é bem escrito, não há erros de português ou de pontuação e os personagens evoluem muito bem ao longo da trama, que transcorre sem que dê a impressão de mudanças bruscas nos acontecimentos.
Gostei bastante do livro, recomendo a leitura e, como disse antes, fiquei muito curiosa para saber mais sobre a autora e sobre seus demais trabalhos.