tiagonbraz 17/01/2024
Do Amor aos Filhos, de Plutarco
"Em geral, o amor aos filhos torna corajosa a covardia, fácil a laboriosa, parcimoniosa a glutonaria; e, tal como a ave homérica carrega para seus filhotes o sustento, depois que o pega; por ele, ela passa mal; pois alimenta suas crias com sua própria fome."
Da Moralia, série de tratados de Plutarco sobre diversos temas morais e éticos, emerge Do Amor aos Filhos, uma reflexão de Plutarco sobre o tema paternidade e como se deve tratar os filhos. Algo que parece óbvio para o olhar moderno, na introdução descobrimos que as conclusões do autor são inovadoras para a época e até critica o modo pelo qual a sociedade na qual Plutarco estava inserido costumava lidar com a paternidade - viam os filhos de forma utilitária, como meros receptores da herança futura ou sucessores da profissão do pai.
Como de praxe, Plutarco cita constantemente autores importantes do teatro e da poesia grega, como Eurípides e Homero, além de fazer referências a mitos e heróis gregos e comparar diversas vezes, ao longo do livro, o comportamento animal e o humano, demonstrando que o amor aos filhos é natural ao ser humano e, por meio do carinho e do afeto, os pais mostram a sua humanidade, diferenciando-se dos animais: "os seios das mulheres nascem por cima, próximo à região do peito, para um recém-nascido ter um lugar cômodo para ser carregado, beijado e abraçado, porque há pelo dar à luz e criar um fim que não é a utilidade, mas o amor."
Não sou pai (ainda), mas a reflexão de Plutarco sobre a incongruência entre o trabalho árduo para criar os filhos, notadamente mais difícil entre os humanos pela total dependência dos pais por anos a fio - "Ou temor, ou dor é um filho ao pai durante muito tempo!" -, e a continuidade com a qual isso ocorre, mesmo entre casais que já os tiveram, mostra que há, sim, um porquê por trás. O porquê, conforme Plutarco, é o amor, sentimento que a Natureza provê aos pais em relação aos seus filhos. Não há exemplo mais claro do que no próprio parto, em que a mãe "ainda quente, dolorida e abalada pelas fadigas, não negligencia o recém-nascido, mas presta atenção nele, sorri para ele, e o carrega e o beija, não usufruindo de deleite nem de vantagem, mas recebendo pena e sofrimento, entre detritos, com as fraldas, confortando-o e limpando-o, fadiga após fadiga da noite alternando com a do dia".