Fernanda631 05/01/2023
Água para Elefantes
Água para Elefantes foi escrito por Sara Gruen e foi publicado em 1 janeiro 2007.
Através da memória de Jacob, somos levados de volta ao verão de 1931, quando ele viu sua vida mudar completamente. Jacob passa de um estudante universitário prestes a se formar como veterinário e com um futuro já planejado, a condição de órfão, desprovido de herança e sem lugar para ir. Desnorteado, o rapaz foge durante os exames finais e anda sem rumo pela mata, acompanhando a linha férrea, até deparar-se com um trem em movimento no qual embarca. Para sua surpresa, ele não havia embarcado em qualquer trem, mas estava a bordo do Circo.
Jacob Jankowski é um jovem de 23 anos que era um dedicado estudante de veterinária que larga seus estudos quando recebeu a notícia do falecimento dos seus pais, em um acidente de carro, Jacob, fica desorientado e falido. Jacob, sem ter dinheiro e nem para aonde ir, resolve pegar um trem sem nem saber para aonde vai e descobre que aquele trem é de um circo. O circo "Esquadrão Voador do Circo Irmãos Benzini - O Maior Espetáculo da Terra". Sem ter talento circense, Jacob acaba virando veterinário, mesmo tendo abandonado a faculdade no dia da prova final.
Jacob logo passa a ser reconhecido por “ser” um veterinário e começa andar com os administradores do circo e é quando conhece Marlena. Uma artista jovem e bela, mas casada com August, o rapaz responsável por sua entrada no circo. E é assim que começa a jornada turbulenta de Jacob em salvar os animais e buscar o amor de Marlena. Trabalhando como veterinário, ele vai conhecer trabalhadores violentos, a mão dura do chefe, e uma artista encantadora. Ele é aceito para cuidar dos animais, onde é submetido a humilhações e sofrimentos constantes.
As melhores partes são quando tem o espetáculo com os animais que é muito real e do velho Jacob contando sua história. O livro é narrado pelo Jacob só que depois de velho. Ele com 93 anos em uma casa de repouso lembrando-se de seus tempos áureos. Ranzinza e já com a memória falha, ele conta como a tragédia com sua família o transformou num jovem sozinho e sem rumo, no meio da crise que abalava os EUA nos anos 30.
Me deu pena dele. E como eu disse antes, as partes dos animais me pareceram as mais reais e no final do livro eu me deparo com a nota da autora dizendo que foi inspirado em fatos.
No circo ele se depara com outros trabalhadores em situação de miséria e muitas vezes sem opção de saírem dali com vida. Seu único amigo é o anão Walter, um homem leal que não medirá esforços em ajudá-lo quando ele precisar. Seu amor por Marlena será o estopim para um conflito direto com o temeroso August.
Vários circos fecharam as portas por causa da crise financeira de 1929 – ano em que se passa a história – então Tio Al, dono do circo, resolve adquirir uma elefanta para fazer parte da trupe e que deveria ser a ultima tentativa de salvação para o circo, porém ela parece ser um animal inútil, já que aparentemente não consegue fazer nenhum truque. Com isso, Jacob e Rosie – a elefanta – criam um grande laço de amor e amizade, onde ele está disposto a tudo para defendê-la.
August é paranóico em relação à Marlena (sua mulher) e tem o humor instável. Tio Al vive em função do dinheiro e não se importa com ninguém além de si mesmo. Marlena, apesar de ser a estrela do circo, não é feliz. Os animais recebem alimentos em péssima qualidade e sofrem nas mãos de August. Os trabalhadores não recebem se o circo não lucra e trabalham como escravos. Desaparecimentos de pessoas no trem ocorrem durante o percurso de uma cidade a outra. Jacob está apaixonado por Marlena e Rosie, uma elefanta que é muito inteligente, apesar de se fazer de burra para algumas pessoas.
A elefanta que inspira o título aparece do meio para o final. Chama-se Rosie e é uma graça de animal, e talvez por isso sofra tanto nas mãos de August. Ela será um elo forte na relação entre Marlena e Jacob, aproximando-os e dando força para que eles enfrentem os perigos que rodeiam o circo. Ainda assim, achei a narrativa um pouco fraca em termos dramáticos.
Jacob se vê arrebatado pelas lembranças quando um circo chega à cidade. A história de sua vida, que foi sempre guardada a sete chaves, parece exigir ser contada. A partir daí, é inevitável que ele se recorde de como teve de abandonar o curso de veterinária quando perdeu os pais, da forma como chegou ao Circo Irmãos Benzini e, principalmente, de como se apaixonou por Marlena, a estrela do número com cavalos, e por Rosie, a elefanta que apareceu de repente no circo. Ao fim deste fascinante livro percebi que, assim como sua capa destaca, ‘a vida é o maior espetáculo da Terra’.
Em Água para Elefantes o único ponto que prende é a vilania de August, o cuidador de animais cínico, cruel e mau caráter, casado com Marlena, a artista do número com os cavalos e a donzela a ser resgatada pelo herói Jacob. Mas esses dois formam um casal tão seco e sem vida que penso ser August um antagonista bom até demais.
Os capítulos no tempo presente não servem para outra coisa senão mostrar que Jacob se tornou um velho sozinho que espera ansiosamente pela ida ao circo no fim de semana. Digo, achei um desperdício não esticar mais a narrativa do seu romance com Marlena em vez de expor a rotina de alguém numa casa de repouso discutindo com os colegas e as enfermeiras.
Sara Gruen nos leva ao maravilhoso e assustador mundo do circo. Um lugar onde adultos e crianças buscam alegria e diversão, mas que esconde em seus bastidores as duras histórias de vida daqueles responsáveis por manter a magia do picadeiro. Do trabalho extenuante de montagem das tendas à hierarquia que separa os trabalhadores, artistas e chefes e a consequente distribuição desigual de privilégios, somos apresentados a um mundo completamente diferente daquilo que o público vê.
O Circo dos Irmãos Benzini é um espetáculo que sobrevive sob suas próprias leis. Trabalhadores braçais e animais são vítimas de exploração e maus tratos em um cenário que se agrava à medida que a situação financeira do mesmo piora, em parte pelo período da Grande Depressão Americana em que a narrativa se insere, mas principalmente pela péssima administração dos responsáveis.
Aceito graças à Universidade de renome que frequentava, Jacob se vê dividido entre o mundo dos trabalhadores e artistas, sem pertencer exatamente a nenhum dos dois. É nessa situação de incerteza que será introduzido àquelas que se tornarão os dois amores de sua vida: Marlena, a estrela do circo e casada com o desequilibrado August; e Rosie, uma elefanta comilona e aparentemente burra que Jacob treina e protege de maneira a torná-la o novo grande número do picadeiro.
No livro “Água Para Elefantes”, Sara se utiliza de uma ampla pesquisa e anedotas comuns na realidade circense para dar vida à narrativa. As crueldades infringidas aos trabalhadores, as peripécias e castigos relacionados aos animais estão em questão. Conhecida por retratar a vida animal em seus livros, a própria autora admite ter tido a intenção de demonstrar o tratamento dispensado aos elefantes durante aquele período histórico.
O resultado de tudo é uma história cativante que se utiliza de uma linguagem clara, até mesmo bruta em alguns momentos, para descrever a vida sob a grande tenda, não deixando que seja omitido um detalhe sequer. Os espetáculos na tenda principal, os que acontecem na tenda secundária, as festas glamorosas nos vagões dos artistas, as farras e bebedeiras dos empregados, bem como suas conseqüências. A narrativa tem, inclusive, um número razoável de reviravoltas que consegue manter o leitor interessado até o final.
Outro aspecto positivo é que o livro consegue abordar o romance entre Jacob e Marlena sem parecer exagerado ou mesmo extremo, contudo ainda é fraco. O desenvolvimento da relação dos dois é descrita de maneira convincente e sem muitos floreios, jamais ganhando mais espaço do que o necessário, só que sendo necessário ser mais abordado de forma mais relevante.
A parte mais emocional da narrativa, porém, são os momentos em que somos trazidos de volta a realidade e novamente nos encontramos na companhia do idoso Jacob Jankowski. Difícil não se identificar com a nostalgia com a qual ele se lembra daquele que foi o período que definiu o resto de sua vida, assim como a maneira como ele tenta desesperadamente afastar-se do rótulo lhe conferido pela idade avançada e se apegar desesperadamente aos pequenos detalhes que fazem dele simplesmente um ser humano que viveu mais do que a maioria dos outros.
Nesse romance que cativa Sara Gruen transformou não apenas o circo, mas a vida, através das lembranças de Jacob, no maior espetáculo da Terra.
O romance proibido de Jacob e Marlena ganha destaca ao longo da narrativa, mas quem realmente chama atenção é Rosie – a elefanta. Rosie é determinada, sabe distinguir entre o que é bom ou ruim, sofre, ama e, acima de tudo, é fiel. Um animal que se torna humano diante de tantas características.