Tami
23/08/2012Resenha publicada em: http://gavetaabandonada.blogspot.com.br/2012/07/resenha-agua-para-elefantes.htmlLogo no prólogo somos apresentados ao Jacob novo, trabalhando no circo. Uma terrível confusão acontece com os animais e no meio disso ele presencia um assassinato - que acabou guardando apenas para si durante todo esse tempo. No primeiro capítulo já conhecemos Jacob velhinho, com 90 (ou 93?) anos, vivendo em um asilo. Rabugento e meio esquecido por sua família, ele não entende porque precisa ficar naquele lugar. A chegada de um circo na cidade o faz relembrar do período da sua vida em que trabalhou em um circo - e de segredos nunca revelados.
"Restaram apenas três pessoas sob o toldo vermelho e branco da espelunca: Grady, eu e o cozinheiro. Grady e eu nos sentamos a uma mesa de madeira muito antiga e gasta, cada um diante de um hambúrguer num prato de lata amassado. O cozinheiro estava atrás do balcão, raspando a grelha com uma espátula. Ele já tinha desligado a fritadeira havia algum tempo, mas o cheiro de gordura impregnava o ar." (primeiro parágrafo - prólogo)
É o primeiro livro com temática de circo que leio. E mesmo para quem conhece um pouco sobre os circos de hoje, esse livro vai além: nos apresenta a época em que os circos eram as grandes atrações, que faziam uma cidade inteira se movimentar para assistir aqueles grandes animais, acrobatas e palhaços. De certa forma, era algo com muito glamour - ao menos para quem assistia. O livro se passa na época da Grande Depressão - motivo pelo qual Jacob precisa se juntar ao circo após a morte de seus pais. Nas entrelinhas da história vemos o impacto disso nos circos - muitos acabando ou sem dinheiro para pagar seus funcionários. Tudo é contado pelo ponto de vista do próprio Jacob, e a narrativa se intercala com as memórias do circo e com o hoje, no asilo. Apesar disso, é simples de se acompanhar e em nenhum momento nos perdemos no que está sendo dito.
Jacob se junta ao circo dos Irmãos Benzini e lá conhece suas duas paixões: Marlena - esposa de August - e Rosie, a elefanta. De todos os personagens Rosie é, sem dúvida, a que mais me cativou. Conhecemos ainda o Tio Al, dono do circo, e August. É simplesmente impossível gostar de algum dos dois, são de uma frieza e maldade sem tamanho. E definitivamente prefiro o Jacob idoso - é um velho rabugento bem engraçado. Por mais que tenha boas histórias, ele novo não me chamou muita atenção. Idem para a Marlena, que poderia ser mais audaciosa, ou mais corajosa. Acho que foram dois personagens reais demais - daqueles que pensam muito antes de agir. Para livros, costumo gostar de personagens mais fortes.
"- Esse velho FDP me chamou de mentiroso. É isso que está acontecendo (...) E de velho gagá.
- Ah, eu tenho certeza de que não foi isso que o Sr. Jankowiski quis dizer - diz a garota de rosa.
- Claro que foi - afirmo. - É o que ele é. Hum... levava água para os elefantes, não é mesmo?! Vocês tem alguma ideia da quantidade de água que um elefante bebe?" (pág. 13)
Talvez por se passar apenas nesse ambiente de circo e de asilo, achei que não foi um livro com muita ação. Temos cenas memoráveis, de fazer rir ou chorar, mas também tem muitas partes onde apenas nos situamos como as coisas aconteciam nos circos. São informações interessantes, e ótimas para nos inserirem naquele ambiente, mas confesso que achei que o livro seria mais ágil.
O livro tem romance, mas não é o foco principal. Ele tem uma boa parte com Jacob no asilo, que muitas vezes nos faz refletir sobre a velhice e sobre como cuidar dos idosos. No resto, basicamente, se fala sobre o circo. Preconceitos, classes sociais, trato com animais e até mesmo alcoolismo. No final do livro temos uma nota da autora contando como pesquisou e no que se inspirou para escrever a história, e ali descobrimos que duas grandes cenas de Rosie são baseadas em fatos reais. Só não leia antes de terminar o livro, pois são cenas importantes e saber o desfecho seria um grande spoiler.
Falando nisso, essa é a grande jogada do livro: a reviravolta. Até o fim estava achando um livro bem mediano, mas o final salvou. Daqueles de fazer esquecer que o resto do livro não foi excelente. E foi por isso que gostei dele.
É um livro bonito, e deve ficar na memória por um tempo. Fiquei curiosa para ver o filme pois achei que seria melhor que o livro, mais ágil. Acabei vendo logo após terminar o livro e confesso que preferi o livro mesmo assim, acabaram trocando uma ou outra coisa que acabou com a graça - inclusive do final. Fala muito sobre o circo, então para quem quer conhecer um pouco sobre isso é interessante. Realmente ainda acho uma parte da história meio sem acontecimentos, algo muito sem nada, mas mesmo assim recomendo a leitura. Apenas não leia achando que será um livro muito rápido nos acontecimentos.
"Quando temos cinco anos, sabemos até os meses de nossa idade. Mesmo por volta dos 20 sabemos quantos anos temos. Tenho 23, dizemos, ou talvez 27. Mas quando chegamos aos 30, algo estranho começa a acontecer. A princípio é um mero sobressalto, um instante de hesitação. Quantos anos você tem? Ah, eu tenho - você começa confiante, mas depois para. Ia dizer 33, mas não é essa a sua idade. Você está com 35 anos. E isso o incomoda, pois você fica imaginando se não é o início do fim. Claro que é, mas ainda faltam décadas para você admitir isso." (pág. 9)
Recomendo: para quem quer conhecer um pouco sobre circos, gosta de drama/romance e de animais.