Patrick Rosário 15/06/2017
(Corujando nos Livros) Resenha: Café sobre tela
Café Sobre Tela é um romance histórico inspirado em uma história real, porém, com personagens, desenvolvimento de trama e detalhes fictícios, onde, de forma rica e profunda, te conduz à uma viagem pela história do nosso Brasil no período Império, especificamente, após a guerra do Paraguai.
Posso afirmar que é uma obra repleta das mais divergentes emoções; do sofrimento ao amor, caminhamos ao lado da protagonista e aprendemos que precisamos ter fé por vindouros dias de bondade, amor e liberdade.
Nesse período, a produção cafeeira superou a produção açucareira, tornando o café o principal produto de exportação do Império e, talvez por esse motivo, Catarina, em seus 12 anos de idade, é vítima de uma casamento arranjado por seu pai Pedro, proprietário de usinas de cana-de-açúcar em Campos, a Heitor, filho de um dos maiores produtores de café do Rio de Janeiro.
Sem a presença da mãe e filha de um pai repugnante e amargo, Catarina tem que lidar com a repentina mudança de vida sem instruções; a precoce vida de casada. E é nessa mudança para Serra Vermelha, como esposa de Heitor, que a leitura te prende assustadoramente.
"Conhecer Catarina e possuir tão agradável companhia parecia ser o maior presente que Heitor ganhara nos últimos anos. Pensara que uma mulher, em sua vida, traria mudanças de difícil adaptação, mas percebia, toda vez que a ouvia falar, que o medo que tinha do novo não justificava-se. Ao contrário, pela primeira vez, provava do mais doce néctar que pode-se extrair da relação interpessoal: a aprendizagem." Página 52.
Embora, naquela época, fosse comum as moças não escolherem os seus respectivos maridos, Catarina não foi desprovida de sorte, pois Heitor era um homem com características diferentes dos outros. O rapaz possuía uma sensibilidade palpável e um respeito admirável em oferecer todo o tempo preciso para Catarina se sentir à vontade para a sua primeira relação sexual. E o mais interessante é que sentimos a verdade vinda de Heitor e o seu prazer em ver a sua amada feliz, ensinado-a sobre a vida e aprendendo sobre a real essência do amor.
"A sinhá se sente culpada por 'tê' nascido de vossa cor e 'carregá' o peso do sofrimento de minha gente, mas a maldade não tem cor, não, sinhá. A maldade fica debaixo da pele, onde tudo é igual." Página 157.
Contrastando com o romantismo do livro, a autora retrata a árdua realidade dos escravos que serviam a esses barões, inclusive, cenas fortes de punições e mortes de inocentes crianças negras nos arrancam muitas lágrimas. Sem contar que é enfatizada a história da mucama Nana, escrava que era responsável por cuidar de Catarina na infância, que foi arrancada de sua família e de seu país africano para ser traficada como escrava no Brasil.
O livro é uma baita exortação em texto sobre respeitar o tempo do outro, por mais que as circunstâncias te empurrem à violá-las, e também sobre a importância de entendermos que o ser humano nasceu para ser amado e não para ser objeto que usamos, abusamos, enjoamos e nos desfazemos, sobretudo, te faz refletir sobre a liberdade de ir e vir, que é um assunto pertinente em combate aos relacionamentos abusivos e por ai prossegue.
Por fim, o embasamento histórico encontra-se presente no romance, causando uma paixão avassaladora por Café sobre Tela. Essa vivacidade nos acontecimentos, além de ampliar o nosso conhecimento histórico sobre o Brasil, nos fez atuar em cenários da época, e isso é extraordinário e enriquecedor em uma leitura. Adorei a questão de Catarina ser desprendida das riquezas e se importar com todos, independente de sua cor ou condição social. Incrível. Extremamente Incrível!
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