O Feiticeiro e a Sombra

O Feiticeiro e a Sombra Ursula K. Le Guin
Ursula K. Le Guin
Ursula K. Le Guin




Resenhas - O Feiticeiro e a Sombra


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Jessica 12/08/2020

Sensacional
Tomado de orgulho Gued aceita o desafio de um colega esnobe de invocar o espírito de um morto. Mas Gued acaba por invocar algo que não pertence ao mundo dos vivos, nem ao mundo dos mortos. Agora ele precisa encontrar uma maneira de desfazer o seu erro.
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M@g@ 12/12/2019

Muito bom
Tem aquele toque leve de senhor dos anéis, é um livro bem leve e agradável.
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Kaiame 18/03/2018

Me surpreendi...
Um sopro de ar livre.

Posso dizer que e um livro fantástico, pois, apresentado um personagem que se vê muito especial e por causa dessa visão ele acaba desenvolvendo um orgulho e arrogância enorme, pois, se considera muito especial e esta destinado à grandeza e gloria. Mas por causa dessa mesma arrogância e orgulho acabamos começando a desenvolver uma antipatia pelo personagem.

Conforme vai seguindo a história o Gued que esta cada vez mais orgulhoso e arrogante, achando-se superior e melhor que todos, e por causa disso acaba tendo que pagar um preço enorme.

O primeiro livro nos mostra principalmente o que acontece quando à nossa expectativa são muito grandes e o orgulho com a arrogância faz com que não escutemos conselhos e avisos de quem só nos quer bem, e quando vemos o preço que pagamos e que descobrimos o quão tolo e ignorantes fomos.

Passa uma ideia brilhante para um livro tao antigo e com uma otima moral na história.

"Volto para unto de ti tal como parti, um tolo - disse o jovem, vaz rouca e empastada." O Feiticeiro e a Sombra, de Ursula K. Le Guin
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Cristina Henriques 06/10/2016

“Olhou para baixo, para os braços magros, molhados com a umidade fria do nevoeiro e sentiu-se tomado de raiva contra a sua fraqueza, porque conhecia a sua força. Havia poder nele, assim soubesse como usá-lo, e buscou entre todos os encantamentos que conhecia, na esperança de encontrar algum expediente que pudesse dar, a si e aos seus companheiros, uma vantagem ou, pelo menos, uma possibilidade. Mas a necessidade, só por si, não é suficiente para desencadear o poder. É preciso também conhecimento.”

“Porque manter na obscuridade a mente daquele que já nasceu mago é coisa muito perigosa.”

“— Senhor, o meu aprendizado quando começa?
— Já começou — retorquiu Óguion.
Fez-se um silêncio, como se Gued estivesse a conter palavras que precisava de pronunciar. E por fim disse-as:
— Mas se até agora ainda não aprendi nada!
— Porque ainda não descobriste o que te estou a ensinar.”

“— Quando conheceres o quadrifólio em todas as suas estações, a sua raiz, folha e flores, pela vista, pelo aroma e pela semente, então poderás aprender o seu nome-verdadeiro, conhecendo o seu ser. E esse é bem mais que a sua utilidade. Ao fim e ao cabo, que utilidade tens tu? Ou eu? A Montanha de Gont é útil, ou o Alto-Mar?”

“Para ouvir, temos de estar em silêncio.”

“Nunca pensaste que o perigo rodeia forçosamente o poder, tal como a sombra rodeia a luz?”

“Antes de falares ou agires, tens de saber qual o preço a pagar!”

“— O sábio não precisa de perguntar, o tolo pergunta em vão — após o que seguiu o seu caminho.”

“— Serão as roupas que fazem o mago?
— Não — retorquiu o rapaz mais velho. — Embora eu já tenha ouvido dizer que são as maneiras que fazem o homem...”

“— Isto é uma pedra. Tolk na Língua Verdadeira — disse ele, olhando suavemente para Gued. — Um pedaço da pedra de que é feita a Ilha de Roke, um pouco da terra firme em que vivem os homens. É ela própria. Faz parte do mundo. Através da Ilusão-Mudança podes fazer com que pareça um diamante... ou uma flor, uma mosca, um olho, uma labareda... — E a pedra ia mudando de forma para forma, à medida que ele as nomeava, até ser de novo pedra. — Mas isto é mera aparência. A ilusão engana os sentidos do observador, fazendo com que ele veja, ouça e sinta que a coisa mudou. Mas isso não muda a coisa. Para transformares esta pedra num diamante, terás de mudar o seu nome-verdadeiro. E fazer isso, meu filho, mesmo a uma tão ínfima migalha do mundo, significa mudar o mundo. Pode ser feito. Sem dúvida que pode ser feito. Essa é a arte do Mestre da Mudança e há de vir a aprendê-la, quando estiveres pronto a aprendê-la. Mas não deverás mudar uma coisa, seja ela um seixo ou um grão de areia, antes de saberes o bem e o mal que esse ato irá acarretar. O mundo está em harmonia, em Equilíbrio. O poder de Mudar e de Invocar de um feiticeiro pode abalar a harmonia do mundo. E é perigoso, esse poder. É terrivelmente perigoso. Tem de se submeter ao saber e servir a necessidade. Acender uma vela é lançar uma sombra...
Voltou a olhar para o seixo e, falando agora com menos gravidade, acrescentou:
— Uma pedra é também uma coisa boa, sabes? Se as Ilhas de Terramar fossem todas feitas de diamante, bem dura seria a nossa vida aqui. Diverte-te com as ilusões, rapaz, e deixa que as pedras sejam pedras.”

“— Estou farto de malabarismos, farto destes truques de ilusão, que só servem para divertir senhores ociosos nos seus castelos e domínios. A única verdadeira magia que até agora me ensinaram aqui em Roke foi fazer fogos-fátuos e algum trabalho com o tempo. O resto não passa de tontice.
— Mas até a tontice é perigosa — retorquiu Jaspe —, nas mãos de um tonto.”

“Gued suspirava por vezes, mas nunca se queixava. Via que, naquela poeirenta e infindável questão de aprender o nome-verdadeiro de cada local, coisa e pessoa, se açoitava o poder a que ele aspirava, como uma pedra preciosa no fundo de um poço seco. Porque é nisso que consiste a verdadeira magia, o dar o verdadeiro nome a cada coisa.”

“Deste modo, é precisamente aquilo que nos confere o poder para operar a magia que estabelece os limites desse poder. Um mago só pode controlar o que lhe está próximo, o que ele pode nomear exata e completamente. E é bom que assim seja. Se assim não fora, a maldade dos poderosos ou a loucura dos sábios já há muito teria tentado mudar o que não pode ser mudado, e a Harmonia perder-se-ia. O mar, sem equilíbrio, devastaria as ilhas onde nós tão perigosamente habitamos e, no velho silêncio, todas as vozes e todos os nomes se perderiam.”

“(...) a majestade da tarefa não era suficiente para tornar menos árduo e árido o trabalho”

“— Costuma dizer-se, Gavião, que aquele a quem um animal selvagem se afeiçoa é um homem para o qual os Velhos Poderes da pedra e da nascente falarão com voz humana.”

“Dizia para si próprio que esses momentos de temor e escuridão mais não eram que as meras sombras da sua ignorância. Quanto mais aprendesse, menos teria a temer, até que, finalmente, investido de todo o seu poder como Feiticeiro, já nada precisaria de temer no mundo, absolutamente nada.”

“Agora que estavam ali, sobre o Cabeço de Roke, o ódio e a raiva tinham-se dissipado, substituídos pela mais absoluta certeza. Não precisava já de invejar fosse quem fosse. Sabia que o seu poder, nessa noite, naquele escuro solo encantado, era maior do que alguma vez fora, preenchendo-o até o fazer vibrar com a sensação de uma força dificilmente mantida sob controlo. Sabia agora que Jaspe estava muito abaixo dele, que fora talvez enviado apenas para o trazer ali naquela noite, já não um rival mas um mero servo do destino de Gued. Sob os seus pés sentia as raízes da colina estendendo-se cada vez mais fundo para o seio da escuridão, sobre a sua cabeça via o fogo seco e longínquo das estrelas. Entre uma coisa e outra, todas as coisas eram suas para as determinar, para as comandar. Encontrava-se no centro do mundo.”

“Há em ti um grande poder que nasceu contigo, e usaste esse poder erradamente ao teceres um encantamento sobre a qual não tinhas controle, e sem saberes como esse encantamento afeta o equilíbrio entre luz e sombra, vida e morte, bem e mal. E foste levado a fazê-lo por orgulho e ódio. Será de admirar que o resultado tenha sido ruinoso?”

“Por um momento, Gued quedou-se imóvel, como alguém que acabou de receber importantes notícias e tem de abrir o espírito para melhor as acolher.”

“Quem sabe o nome de um homem tem a vida desse homem a seu cuidado. Assim, a Gued, que perdera a fé em si próprio, Vetch fizera essa oferta que só um amigo pode fazer, a prova de uma confiança inabalada e inabalável.”

“E finalmente, após aquele longo, amargo e desperdiçado tempo, soube uma vez mais quem era e onde estava.”

“Dessa sombra apenas sei isto: que só um grande poder poderia ter invocado semelhante coisa, talvez mesmo só um único poder, uma única voz, a tua. Mas o que, por sua vez, isso significa, não sei. Descobri-lo-ás. Tens de o descobrir ou morrer, ou pior que morrer... O Mestre falava suavemente e os seus olhos estavam sombrios ao fitar Gued. — Em rapaz, pensaste que um mago é alguém que pode fazer toda e qualquer coisa. Também eu assim pensei, em tempos. E a verdade é que, à medida que o poder real de um homem aumenta e se alarga o seu conhecimento, tanto mais se vai estreitando o caminho que lhe é possível seguir. Até que, finalmente, ele nada escolhe, mas faz apenas, e na sua totalidade, o que tem de fazer.”

“Invocando todo o seu poder num só instante e sem pensar em si próprio, enviou o seu espírito atrás do espírito da criança para o trazer de volta a casa. E chamou-a pelo nome: «Aioeth!» Julgando ter ouvido fracamente uma resposta no seu ouvido interior, prosseguiu, chamando uma vez mais. Viu então o rapazinho a correr, longe e rápido, por uma escura encosta abaixo, no flanco de algum vasto monte. Não havia som. As estrelas por sobre o monte não eram estrelas que os seus olhos alguma vez tivessem visto. E, no entanto, sabia o nome das constelações: o Feixe, a Porta, Aquela Que Gira, a Árvore. Eram aquelas estrelas que nunca se põem, que não empalidecem com o nascer de dia algum. Seguira longe de mais a criança moribunda.”

“Passo a passo avançou, cada passo um esforço da sua vontade e cada um mais difícil que o anterior.”

“Enquanto escutava, a esperança e a desconfiança lutavam no espírito de Gued. Um homem versado em feitiçaria em breve aprende que, na verdade, muito poucos dos seus encontros são por acaso, seja isso para bem ou para mal.”

“As roupas principescas que envergava eram-lhe estranhas, as pedras sobre as quais se erguia não eram familiares e estrangeiro era o próprio ar que respirava. Não era ele próprio, não era o ser que fora.”

“— Não sei o que sou. Tive poder, em tempos. Perdi-o, penso”

“Afinal, um mau caminho pode conduzir a bom fim.”

“Viera até esta torre-fortaleza por acaso e, no entanto, todo o acaso era desígnio. Ou viera por desígnio e, contudo, todo o desígnio apenas se devera ao acaso.”

“. Aquilo que não se conhece, teme-se.”

“De tudo isto, tanto ou tão pouco que queiras é teu.”

“— A luz é que derrota as trevas — disse, com a voz presa —, a luz.”

“Quase cedera, mas, por pouco, não chegara a ceder. Ele não aquiescera. E é muito difícil para o mal apoderar-se da alma que não aquiesce.”

“Tens de buscar o que te busca. Tens de caçar o caçador.”

“Um homem deveria saber a que fim se destina, mas nunca o saberá se não voltar atrás, regressando ao seu início e guardando esse início no seu ser. Se não quiser ser como um madeiro mergulhado e arrastado na corrente, terá de ser a própria corrente, toda ela, desde a nascente até mergulhar no mar.”

“— Os feiticeiros não se encontram por acaso, rapaz — disse Vetch. — E afinal, como há pouco disseste, eu estava contigo no princípio da tua jornada. Está, pois, certo que a acompanhe até ao final.”

“Esse é um pensamento soturno e, espero bem, falso. Julgo, pelo contrário, que aquilo que vi começar, posso ver acabar. De alguma maneira, aprenderás a sua natureza, o seu ser, o que aquilo é, e assim o chegarás a agarrar, a sujeitar, a vencer.”

“Penso que, quando deixei de fugir e me voltei contra ela, essa ação da minha vontade sobre ela deu-lhe forma, embora essa mesma ação a impedisse de se apoderar da minha força. Todas as minhas ações encontram eco nela. É a minha criatura.”

“Invocar uma coisa que não se encontra de modo algum ali, chamá-la dizendo o seu nome-verdadeiro, isso é grande mestria e não se usa levianamente.”

“— Diz-me só uma coisa, se não for um segredo. Que outros grandes poderes existem, além da luz?
— Não é segredo. Todo o poder é apenas um na sua fonte e no seu final, creio eu. Anos e distâncias, estrelas e candeias, água e vento e feitiçaria, a perícia na mão de um homem e a sabedoria na raiz de uma árvore, todos surgem em conjunto. O meu nome, o teu e o nome verdadeiro do Sol, ou uma nascente de água, ou unia criança que não nasceu ainda, tudo são sílabas da grande palavra que está a ser muito lentamente pronunciada pelo brilho das estrelas. Não há outro poder. Não há outro nome.”

“Porto de abrigo, cais, paz, segurança, tudo isso ficara para trás. Tinham-lhe voltado as costas. Seguiam agora uma via em que todos os acontecimentos eram perigosos e nenhum ato era destituído de significado. Na rota que tinham tomado, pronunciar a menor dos encantamentos poderia mudar o acaso, abalar o equilíbrio do poder e dos fados, pois dirigiam-se agora para o próprio centro desse equilíbrio, para o lugar onde luz e treva se encontram. E aqueles que assim viajam não pronunciam uma única palavra imponderadamente.”

“Tive demasiada pressa, agora já não me resta tempo. Troquei toda a luz do Sol e as cidades e as terras distantes por uma mão-cheia de poder, por uma sombra, pela treva.”

“Alta e claramente, quebrando aquele velho silêncio, Gued pronunciou o nome da sombra e, nesse mesmo momento, a sombra falou sem lábios nem voz, dizendo a mesma palavra: «Gued.» E as duas vozes eram uma única voz.
Gued estendeu os braços, deixando cair o bordão, e apoderou-se da sua sombra, daquele seu outro e negro eu que se estendia para ele. Luz e treva encontraram-se, uniram-se e tornaram-se um.”

“E começou a aperceber-se da verdade, que Gued não saíra derrotado nem vitorioso, mas, ao dar à sombra da sua morte o seu próprio nome, tornara-se inteiro, um homem. Alguém que, conhecendo a totalidade do seu ser verdadeiro, não pode ser usado nem possuído por qualquer outro poder senão ele próprio, cuja vida é pois vivida por amor da vida e nunca ao serviço da ruína, da dor, do ódio ou da treva.”




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