Hospício é Deus / O Sofredor do Ver

Hospício é Deus / O Sofredor do Ver Maura Lopes Cançado




Resenhas - Hospício é Deus: Diário I / O Sofredor do Ver


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Letícia 31/01/2021

Complexa, humana, contraditória
Maura Lopes Cançado precisa ser mais conhecida por nós brasileiros. Essa edição é maravilhosa por reunir suas duas únicas obras lançadas. Tão avassaladora quanto única, Maura era incompreendida por viver numa época de tamanho estigma com doenças mentais, onde os considerados "loucos" passavam por eletrochoques e condições desumanas em hospícios. Seu Diário I é impactante por, além de revelar todo o contexto e a situação daquele momento, mostra uma mulher de personalidade marcante e forte, mas que no seu âmago só queria o que todos nós queremos: sentir-se amada e acolhida. Extremamente complexo e humano, o Diário I (infelizmente o II se perdeu) vale muito a pena ser lido, pois marca uma situação histórica e é indispensável para que entendamos melhor a importância da luta antimanicomial. O livro de contos revela também uma escritora impecável. Sua obra e história de vida despertou-me várias emoções distintas; não é fácil, nada é fácil, nada é preto no branco.
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Ana Aymoré 08/05/2019

Quem é essa mulher?
Maura Lopes Cançado nasceu em 1929, descendente de uma velha linhagem de ricos fazendeiros de Minas. Segundo relata em Hospício é Deus, aos cinco anos foi molestada sexualmente. Aos sete, começou a sofrer crises convulsivas, mesma época em que, traumatizada pela morte do padrinho, passou a ter violentos ataques de pânico. Aos doze sentiu-se atraída pelo ideário nazista. Aos catorze começou a ter aulas num aeroclube, tornando-se célebre na região como a menina que pilotava aviões - e conheceu Jair Praxedes, com quem teve um precoce e brevíssimo casamento, desfeito logo após o nascimento de seu único filho. Aos dezenove, partiu para a capital mineira para estudar mas, lançada numa rede cotidiana de frustrações e incomunicabilidades - daí em diante ela sempre irá dizer que sentia um "vidro espesso" a separá-la das outras pessoas - internou-se voluntariamente numa clínica para doentes mentais, onde foi diagnosticada com psicopatia e esquizofrenia. Durante os anos seguintes, tentou a vida no Rio, gastou toda sua herança, trabalhou com Reynaldo Jardim na redação do Jornal do Brasil, teve novos surtos e passou por vários períodos de internação em institutos psiquiátricos, de onde escreveu sua esparsa obra, o diário Hospício é Deus e os contos reunidos no volume O sofredor do ver. Aos quarenta e três anos, durante um surto psicótico enquanto estava interna na clínica Dr. Eiras, matou outra residente. Considerada criminalmente incapaz, passou oito anos em manicômios judiciários, até obter a liberdade vigiada. Morreu sem nunca mais ter escrito um livro.
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A assombrosa biografia de Maura ombreia-se ao caráter de seu breve, mas intenso, legado escrito. Se em Hospício é Deus, somos apresentados às diversas facetas da personalidade complexa, que por vezes antecipam a espiral vertiginosa e trágica de sua vida, os contos d'O sofredor do ver nos revelam a necessidade de se resgatar sua obra ficcional: sua escrita única, da qual dificilmente saímos ilesos, cuja densidade se apresenta desde os títulos dos volumes e da maioria dos contos, a meu ver, magníficos.
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karinna adad 22/03/2016

Lindo, lúcido e lírico
Um diário-literário, por assim dizer, lindo, lúcido e lírico, não apenas sobre o período vivido por Maura no sanatório ou sobre sanatório em si, ainda que haja espaço para isso. Antes de tudo, um conto, uma fábula, um sonho, uma verdade sobre uma vida doente (ou que não se encaixou nos padrões sociais ou no que esperava a sociedade ou ainda espera). É um livro de pessoas sensíveis demais que de tamanha sensibilidade tornaram-se loucas.
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Adriana Scarpin 18/01/2016

Hospício é Deus não é apenas imprescindível para os amantes de boa literatura, mas também para qualquer pessoa interessada em psicologia. Redigido por Cançado durante uma de suas estadias no Hospital Gustavo Riedel do Engenho de Dentro, retrata o tratamento violento que era dado às internas da ala feminina naquela época ainda fazendo usos de eletrochoques e lobotomia e mesmo assim Cançado insistia em se auto internar, porque aparentemente era o único lugar em que conseguia ser ela mesma sem o julgamento social e a própria autoflagelação marcarem seu comportamento autodestrutivo e suicida.

Apenas com O Sofredor do Ver pode-se considerar Cançado uma das mais bem dotadas contistas brasileiras, apesar de oscilar entre obras primas (a primeira metade do livro) e contos meramente bons (a segunda metade), a seleção em geral é apresentada como a mais fina prosa.
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