Valéria Cristina 13/11/2023
Um dos 1001 Livros para Ler Antes de Morrer
Este livro está merecidamente na lista dos 1001 Livros para Ler Antes de Morrer e fazia um tempão que estava na minha lista pessoal.
Fazer sua leitura foi como adentrar em um filme noir, ambientado em uma sombria Los Angeles (LA) do final dos anos 1940. É tão bem escrito e a atmosfera é tão bem construída que podemos imaginar o narrador falando ao fundo enquanto as cenas se desenvolvem.
A história gira em torno da morte de Elisabeth Short, apelidada pelos jornais de Dália Negra. A brutalidade do crime põe em cena mais de duzentos policiais do Departamento de Polícia de LA. Embora todo esse aparato policial, dois anos após o fato, o homicídio continua sem solução, as pistas esfriam e o interesse da mídia e da polícia também.
Todavia, levado por diversas questões, principalmente sua obsessão pelo caso que vai se deslocando para a vítima, o policial Bleichert não desiste da investigação. Para tanto, ele busca reconstituir os últimos dias de vida de Beth e, assim, entramos em contato com a sociedade americana dessa década: machista, racista e mixógena. A corrupção e a extrema violência policial também ficam patentes e são bem exploradas pelo autor.
Atrelada à narrativa principal há outra história relativa à indústria da construção civil com destaque para a interferência política, os interesses escusos, a corrupção e a busca desenfreada por lucro. Ambas as narrativas convergem.
Ainda, o texto é recheado de termos atualmente considerados politicamente incorretos e esse fato o torna ainda mais importante, pois podemos perceber a visão daquela sociedade acerca de temas que hoje continuam relevantes: a prostituição, a violência contra a mulher, sua objetificação, os crimes de natureza sexual, o feminicidio, o fenômeno do julgamento que a coletividade faz da vítima quando esta não atende ao padrões julgados morais.
O desfecho da trama é surpreendente. Destaco, ainda, que o ritmo do livro não é alucinante. Não se trata de um thriller. É uma reflexão complexa sobre o voyeurismo e a obsessão sexual. É um livro para ser lido apreciando-se o clima de que ele inspira.
James Ellroy (Los Angeles, 4 de março de 1948) é um escritor e ensaísta estadunidense. Suas histórias são contadas em um estilo de narrativa de frases curtas, quase telegrafadas, impactantes e diretas.