Bateau Mouche

Bateau Mouche Ivan Sant'Anna




Resenhas - Bateau Mouche


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Paulascrap 11/06/2018

Uma tragédia anunciada pela negligência e um relato sobre a impunidade Brasileira!.
Um relato de uma tragédia anunciada e cercada de negligência em diversos aspectos.📜O autor traz uma abordagem rápida sobre aquela fatídica noite. 📜Um barco de pesca com capacidade para no máximo 20 tripulantes se transformou em um iate de luxo comportando 153 pessoas. 📜Uma vistoria realizada pela Marinha não constatou o defeito da válvula do vaso que deveria impedir que a água do mar subisse e entrasse na embarcação quando acionasse a descarga, nem os seus furos no casco, duas fendas no trincamos e uma bomba de esgotamento velha e matracara. 📜Na reforma nao autorizada previamente pela capitania dos portos, a madeira do piso foi substituída por uma plataforma de concreto pesando quatro toneladas, escadas de acesso modificadas dificultando uma eventual evacuaçãode emergência e os móveis não presos no convés, ocasioanando a morte de passageiros durante o naufrágio com choque entre eles. 📜No embarque já poderia ser notada a superlotação muitos passageiros que pagaram caro pela noite já não tinham lugares para assento nas mesas disponíveis e começaram a se aglomerar nos corredores da embarcação. 📜A pedido do mestre o barco retornou ao ancoradouro, mas foi liberado em seguida , a propina nunca foi comprovada. 📜O Bateau Mouche não tinha liberação para navegar em mar turbulento , no entanto tal situação não foi observada. 📜Não havia colete de fácil acesso, nem instruções de uso, mas muito passageiros percebendo o caos da situação passaram a colocar coletes o que deixou em pânico os demais passageiros. 📜Muitas vítimas foram salvas por duas embarcações que avistaram a trágica situação, muitos morreram por não saber nadar, outros ficaram presos no barco ao virar, e alguns mesmo sabendo nadar foram derrubados por móveis e desmaiaram ao serem jogados no mar. O próprio iate clube negou ajuda ao ser informada do naufrágio e quando chegaram no local nada puderam fazer. 📜Ainda que pressionado pelo empregador o mestre -arrais tinha pleno conhecimento da falta de condições para navegar em mar aberto e turbulento naquela embarcação e levou seus passageiros para uma morte certa 📜Julgamento se arrastando, culpados sendo absolvidos, condenados fugindo para fora do país, relatos de sobreviventes ignorados, indenizações às famílias ?? Só para quem tinha bons e caros advogados enfim a impunidade que impera por aqui. 📜Mas ouvindo os relatos considero muita falta de bom senso dos passageiros, muitos pontos de falta de condições de prosseguir viagem não estavam tão escondidos assim, quem pagaria 📜uma fortuna para um jantar de réveillon e concordaria na paz em ficar em pé se apertando nos corredores da embarcação por falta de lugar pra sentar?? 📜Uma boa leitura sem novidades investigativas que não possam ser encontradas na internet , mas nos dá um bom resumo da tragédia com fotos para visualizarmos os fatos barrados ..
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LeandroBurla 02/10/2017

Ainda que em alto padrão, menos inspirado que o normal
Sou um fã do Ivan Sant'Anna, daqueles que compra a obra sabendo o que esperar: narrativa envolvente e bem desenvolvida, somada a um raciocínio lógico e analístico, devidamente suportado por fotos, gráficos e explicações de termos técnicos. Tudo embasado por um trabalho de pesquisas e entrevistas, que conferem um lastro indelével ao conteúdo.
Este livro não foi diferente, mas talvez por estar fora do seu elemento, não foi tão inspirado quanto os demais. Senti falta dos detalhes e minúcias das obras de desastres aéreos. Até mesmo a tradicional parte em que o autor relata as conversas com sobreviventes, parentes, pessoas envolvidas foi bem curta, assim como fotos e referências. Talvez por criar uma grande expectativa de minha parte? Não sei. Mas com certeza foi mais uma leitura ótima aos fãs do gênero.
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Luis 04/09/2016

Sob as águas
Ainda que por caminhos diversos, Ivan Sant`Anna vem honrando a tradição familiar de grandes escritores. O aviador e ex-executivo do mercado financeiro, que largou tudo para viver da escrita, começou explorando a ficção, terreno dominado pelo irmão, o genial Sérgio Sant`Anna e pelo sobrinho André. Publicou “Rapina” (1996) e “Os Mercados da Noite” (1997) histórias movimentadas e que seguiam a cartilha algo fácil dos best sellers. Sem escrúpulo algum, pode-se dizer que havia muito pouco de literatura ali.
Em 2000, o autor dá uma guinada em direção à não ficção com o excelente “Caixa Preta”, que conta a história dos (até então) três maiores acidentes da história da aviação brasileira. A partir daí, Ivan virou uma espécie de historiador de grandes tragédias, voltando a se debruçar sobre desastres de avião (“Perda Total”), atentados terroristas (“Plano de Ataque”, sobre o 11 de setembro) e, ampliando o leque, relatou o assassinato do brasileiro Jean Charles em Londres (“Em nome de sua Majestade”), o crash da bolsa de Nova York (“1929”) e, agora, volta-se sobre um dos acontecimentos mais traumáticos da nossa história recente : o naufrágio do Bateau Mouche.
Para se ter uma ideia do impacto dessa tragédia, basta citar, entre os tantos mencionados por Ivan, o depoimento pungente de Bernardo, filho da atriz Yara Amaral, a mais célebre vítima daquela noite : “Ela não é mais a atriz de três Moliére, ela não é mais a atriz de 28 novelas, ela não é mais a atriz que fez cinquenta peças, não é. É a atriz que morreu no Bateau Mouche”.
Tudo aconteceu na noite do réveillon de 1988. Pertencente ao mesmo grupo proprietário do restaurante Sol e Mar, em Botafogo, o Bateau Mouche IV, assim como seu “irmão”, o III, foram alugados pela empresa Itatiaia Turismo para um passeio, com direito à ceia a bordo, saindo da sede do restaurante e indo até Copacabana para assistir à queima de fogos mais famosa do Brasil. Os ingressos foram totalmente vendidos, alguns, poucas horas antes da saída, marcada para as nove da noite.
“Bateau Mouche- Uma tragédia brasileira” (Objetiva, 2015) detalha também todas as modificações por qual passou o barco, projetado 16 anos antes para acomodar no máximo 20 pessoas. Os donos do Sol e Mar já eram os terceiros proprietários da embarcação, que foi comprada em 1980, reformada e rebatizada com o nome que já era utilizado nos outros barcos do grupo (Por ocasião do naufrágio , os Bateaus 1 e 2 já tinham sido desativados). A capacidade foi ampliada para 153 ocupantes.
A reforma, apesar de alterar drasticamente o projeto original, não impediu que o estado de conservação do barco se deteriorasse agudamente, fato que a decoração “festiva” da virada do ano tentava disfarçar. O autor conta que existiam vários furos no casco, pontos de ferrugem e dois problemas que seriam cruciais para o acidente, se é que pode ser assim chamado : o defeito em uma das escotilhas que a impedia de fechar adequadamente e a quebra da válvula do vaso sanitário. Esses dois “detalhes” permitiriam que, em meio à agitação do mar, cerca de quatro toneladas de água entrassem por baixo do Bateau Mouche, desestabilizando-o totalmente.
Um dos aspectos que fazem a diferença nos livros de Ivan Sant`Anna é que, ao mesmo tempo que se esmera para explicar tecnicamente as causas de cada fato, ele joga luz sobre a dimensão humana das tragédias, conduzindo a narrativa através dos vários personagens, sobreviventes ou não, que a protagonizaram. Essa preocupação é tão latente que a edição, logo no início, mostra um índice com todos que são citados ao longo do texto.
Um dos exemplos foi o mestre arrais do Bateau, Camilo Faro da Costa. Com 51 anos de idade e 25 de profissão, Camilo já vinha se queixando com a família das condições do barco que comandava. Por vezes, falava em abandonar o emprego antes que um acidente acontecesse, mas, acossado pela terrível crise econômica que o país vivia, seguia trabalhando. As seis da tarde, já que passaria a noite no leme do Bateau, ligou para casa e desejou feliz ano novo. Foi sua despedida.
A já citada Yara Amaral vivia um ótimo momento profissional. Pouco tempo antes foi encerrada com grande sucesso a novela “Fera Radical”, em que ela vivia a antagonista da mocinha interpretada por Malu Mader. A atriz tinha medo do mar e explicou isso em uma conversa com os filhos uma semana antes do naufrágio, o que não a impediu de aceitar o convite de um casal de amigos e levar junto sua mãe para celebrar o réveillon.
O barco zarpou às 21:15 e as condições do mar, embora ainda estivessem na calma baia de Guanabara, não estavam lá muito favoráveis. À medida que avançava rem direção ao Pão de açúcar para contorná-lo e adentrar em mar aberto para Copacabana, a embarcação “jogava” cada vez mais perigosamente, o que levou inclusive à uma mudança nos planos com relação à ceia, que foi antecipada, mas que estava programada para quando passassem próximos à praia vermelha, onde o mar já estava bem mais agitado.
Nesse momento, aconteceu um episódio que foi por muitos interpretado como um sinal que poderia ter mudado o destino daquela noite, mas que acabou entrando para o rol das decisões erradas que levou à tragédia. O barco foi interceptado por uma lancha da Capitania dos Portos que faziam vistoria nas embarcações que iam para Copacabana. Ao entrarem no Bateau e se reunirem com a tripulação, o próprio Mestre Camilo declarou que suspeitava que havia superlotação. Os oficiais da capitania determinaram então que o barco voltasse para a sede do restaurante a fim de que fosse feita uma recontagem.
Os passageiros começaram a perceber que algo estava errado, pois o barco voltava e ninguém dava uma informação mais precisa sobre de fato o que estava acontecendo. Ao chegar no Sol e Mar, os donos da Itatiaia questionaram os membros da capitania e foram feitas pelo menos duas recontagens. Não houve uma vistoria mais apurada no barco. Segundo alguns, aconteceu uma discussão entre os oficiais, o armador gerente do Bateau Mouche, Mário Triller, que estava no barco e os donos da Itatiaia. Naquele instante, a capitania tinha poderes para interromper o passeio, mas não foi o que aconteceu. Em decisão polêmica e obscura, uns falam em “carteirada” dos donos da Itatiaia, que conheciam o então governador Moreira Franco, outros apontaram para um suposto suborno, o Bateau Mouche IV foi liberado para a sua última viagem.
Camilo Faro seguiu então a todo vapor para Copacabana, pois a volta não prevista ao cais, havia atrasado muito a programação. Faltava pouco para a meia noite. O mar seguia ainda mais agitado e quando chegasse à ponta da barra, Faro teria que tomar a decisão crucial de seguir em mar aberto ou voltar para as águas seguras da Baia de Guanabara. O barco continuava adernando muito para a direita. O desconforto dos passageiros já dava lugar ao medo. Pratos e copos se espatifavam sob o balanço cada vez mais furioso da embarcação. Chegaram à ponta da barra, logo depois do costão do Pão de Açúcar, já não havia mais como voltar, mas dava para mudar a rota e, em vez de seguir adiante para Copacabana, entrar na praia Vermelha. Eles perderiam a queima de fogos, porêm a situação voltaria a estar sob controle, mas Camilo resolveu seguir em frente selando a sorte de todos.
Faltando 15 minutos para a meia noite, o Bateau passava na altura da ilha de Contunduba, último ponto antes do mar aberto, quando a água que invadia o fundo do barco, tanto pela válvula do vaso, como pela escotilha e os furos do casco, atingiu a casa de máquinas paralisando o motor. O barco ficou à deriva e, precisamente às 23:50, foi atingido por uma onda mais forte que dessa vez o fez virar. Estava consumado o naufrágio.
Cinquenta e cinco pessoas morreram. A tragédia só não foi maior, porque outras duas embarcações, que também se dirigiam na última hora para Copacabana, testemunharam tudo e socorreram boa parte dos passageiros. O Iate Casablanca, que saíra do iate clube com seu proprietário Oscar Gabriel e a traineira Evelyn & Maurício, pilotada pelo dono, o pescador Jorge Vianna que vinha de Niterói com a família e amigos para ver a queima de fogos. Alguns dos momentos mais comoventes do livro abordam o heroísmo, principalmente de Jorge, que colocou a sua própria segurança em risco para salvar os ocupantes do Bateau.
Passados quase 28 anos, como infelizmente é comum no Brasil, muitos ainda lutam na justiça por reparação. Os donos da Itatiaia e da Sol e Mar, a princípio colocados como culpados, apelaram para o fato de que, tecnicamente falando, os responsáveis por assegurar as condições da embarcação naquela noite eram o gerente Mário Triller e o mestre Camilo Faro. Ambos mortos no naufrágio. O imbróglio segue.
O que não teve seguimento foi a vida das 55 pessoas que em uma festa de celebração da vida, a entrada de um novo ciclo, foram arrastadas para o fundo do oceano, sucumbindo junto com o velho ano.
O Bateau Mouche foi içado do mar nos primeiros dias de janeiro de 89 e vistoriado para o processo que se iniciava, por conta disso, e pelo fato da questão judicial se arrastar até hoje, o barco não pode ser desmontado. Segundo Ivan, ele segue ancorado em local ignorado, provavelmente se desfazendo em meio à ferrugem como uma espécie de monumento macabro àquela noite trágica.
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