spoiler visualizarPriscila Bennati Santana 15/03/2021
#livros2021
Acabei de finalizar a leitura de Bateau Mouche: Uma Tragédia Brasileira, de Ivan Sant'Anna. Um livro que estava na minha lista há bastante tempo, desde que assisti o Arquivo N sobre o caso, com cenas do Linha Direta Justiça.
No final dos anos 80, entre os diversos passeios turísticos na cidade do Rio de Janeiro, um dos mais populares era o passeio em um dos barcos Bateau Mouche, que saíam do píer do restaurante Sol e Mar, dono das embarcações. Seus sócios, criaram o passeio pelo mar, com opção de um almoço de frios e logo virou sensação. Juntou-se ao primeiro, o Bateau Mouche II, mas a procura era tanta, que os dois foram vendidos e adquiriram-se duas novas embarcações, o III e IV. O Bateau Mouche IV era na verdade um pequeno barco pesqueiro, batizado originalmente de Kamaloka. Para acomodar um número maior de pessoas, foi construído um andar superior e colocadas 2 caixas d'água. Uma mudança que acrescentava 4 toneladas de peso ao projeto inicial. O passeio se tornou cada vez mais popular e virou uma opção para as festas de Ano Novo. A embarcação saía da Praia de Botafogo, o jantar era servido durante a viagem, e seguia até a praia de Copacabana para assistirem à queima de fogos. No réveillon de 1988-99, aproximadamente, 142 pessoas embarcaram no Bateau Mouche IV para esse aguardado passeio. O que eles não poderiam imaginar é que ao invés de uma viagem luxuosa, iriam encontrar um barquinho que parecia pouco seguro e super lotado, além de problemas sérios estruturais que os passageiros desconheciam: escotilha com defeito na vedação, furos no casco, fenda no trincaniz e uma falha na válvula de descarga, que fazia a água do mar entrar a cada vez que era acionada. Nesta noite, o mar estava batido, havia chovido e o capitão Faro tinha que tomar uma decisão: permanecer na baía, o que significaria que os passageiros iriam perder os fogos ou se arriscar e ir até Copacabana. Mas com o Bateau III já seguindo, seria difícil justificar porque ele não tinha ido para seus empregadores.
Logo na saída, surgiu uma esperança no horizonte, o barco foi abordado por uma lancha da Marinha e Faro disse que suspeitava de superlotação. Nesse caso, teriam que retornar para a baía, realizar a contagem e desembarcar os passageiros em excesso. Foi o que foi feito. Mas ao chegarem ao píer, uma conversa ocorreu entre os sócios do restaurante e os integrantes da Marinha e o barco foi liberado, depois de uma parca contagem rápida. Muito se falou sobre suborno e os oficiais receberam uma condenação da Marinha posteriormente (que foi suspensa), mas não foram condenados na justiça comum.
A viagem estava de volta e o Bateau seguiu. Ao entrar no mar agitado, aproximadamente 4 toneladas de água haviam entrado no andar inferior, devido aos danos na embarcação. O que criou um movimento de pêndulo, que inclinava cada vez mais o barco, até que o mesmo virou.
Mesas, cadeiras, nada estava fixado ao chão como deveriam e logo se tornaram em armas mortais, impossibilitando muitas vidas de se salvarem.
Nenhum treinamento de emergência havia sido dado, antes ou durante a viagem, e os coletes salva-vidas estavam presos uns aos outros para evitarem roubos.
55 pessoas morreram no naufrágio, entre elas a premiada atriz Yara Amaral. O número teria sido muito maior se não fosse o socorro prestado por uma pequena traineira chamada Evelyn e Maurício e o iate Casablanca, que deram tudo o que tinham para salvar o máximo de pessoas que pudessem alcançar.
Os acusados, sócios dos restaurantes, foram absolvidos em primeira instância. Recaindo a culpa na tripulação, que havia morrido no naufrágio. Ao serem condenados em segunda instância, aproveitaram-se do direito de só dormirem na prisão, para fugirem do país. Um dos sócios era de Portugal, que não extradita, e os outros dois espanhóis, que também nunca foram obrigados a retornar. Os processos de indenização ainda corre na justiça, sem previsão para que um dia os familiares das vítimas sejam finalmente amparados.