Raphael 04/03/2015Breve comentário sobre a experiência de leitura...Vou me limitar a um breve comentário sobre a minha experiência de leitura.
Ricardo foi uma leitura chatésima - tipo, muito chata mesmo - embora enriquecedora. Em diálogo com grandes nomes da Economia Política como Adam Smith, Jean-Baptiste Say e Thomas Malthus, serviu para me dar uma boa base de entendimento da escola clássica, além de ter lançado luz sobre aspectos fundamentais da crítica marxiana da Economia Política - sobretudo a parte inicial do livro, na qual Ricardo estabelece os axiomas da teoria do valor-trabalho. Aliás, foi essa a minha motivação principal para enfrentar esse autor. Tendo sido um interlocutor importante para Marx, queria passar por ele antes de seguir para a leitura do primeiro volume d'O Capital.
Texto truncado, conduzido através de uma profusão de exemplos e, sendo leigo, confesso que em alguns momentos tive dificuldade de entender algumas ilações feitas pelo autor.
É especialmente interessante sua teoria sobre a renda diferencial da terra, na qual o autor postula que, diante de um dado aumento populacional, criaria-se uma demanda crescente por gêneros de primeira necessidade, o que levaria à ocupação de faixas de terras menos férteis - sendo que a faixa de terra menos fértil ocupada não pagaria renda e regularia o preço de tais gêneros fundamentais, a exemplo do trigo. O mesmo modelo é mobilizado pelo autor, analogicamente, para pensar a produção mineral.
Além disso, merece especial atenção a sua teoria das vantagens comparativas, desenvolvida fundamentalmente no capítulo dedicado ao comércio exterior, com ecos nos capítulo sobre o comércio colonial. Tal teoria consiste na defesa da especialização produtiva - isto é, um país se especializaria na produção daquele bem no qual possui maiores vantagens relativas, passando a importar aqueles bens que, embora tivesse condições de produzir, o faria de maneira menos eficiente. O exemplo clássico, mobilizado pelo autor, são as relações comerciais entre Inglaterra e Portugal - isto é, a troca de tecidos ingleses por vinhos portugueses. Naturalmente, por detrás dessa teoria, estava a defesa do livre mercado e a crítica a medidas protecionistas do governo inglês, a exemplo das Corn Laws.
Essa discussão me remeteu ao discurso anti-industrialista de alguns liberais brasileiros, como Eugênio Gudin, sobre a nossa famigerada vocação agrícola.