Resenhas - A Luta Corporal

João Pedro 19/08/2023

Um processo de desconstrução da linguagem
Os poemas do livro são bons, muitas vezes confusos (precisando de um esforço extra lendo duas, três vezes para entender), mas entendo que a sequência cada vez mais ?confusa? dos textos é devido ao processo de destruição da própria linguagem do Ferreira Gullar que era um parnasiano rígido e mudou para um estilo modernista, em um processo quase egoista de testar ao extremo os limites da linguagem, por isso para muitos pode parecer sem nexo. Em suma, esse não é meu livro preferido dele (prefiro os livros seguintes dele, quando ele finalmente encontra seu ?caminho? e ?estilo? sem essa busca egocêntrica de testar a língua). No geral, as obras possuem estrutura modernista, mas com temas quase parnasianos (galo, galinha, avenida?), por isso prefiro sua fase mais militante e engajado politicamente.

João Lagden 30/03/2021

Extremamente experimental, nunca na minha vida eu tinha lido um livro que parece estar literalmente fora de controle, esse livro parece estar fora de controle, como um trem saindo dos trilhos

Fabio Shiva 25/04/2011

Nada mais adequado que o título desse livro de poemas.
Pois não espere o leitor aquela poesia serena, inofensiva, imaculada na janela. A poesia do jovem Gullar (ele escreveu o livro dos 20 aos 23 anos) é tudo menos serena, inofensiva, imaculada. É uma poesia jiujiteira, que agarra o leitor pelo cangote e se embola com ele no tatame, obrigando-o a se embrenhar junto com o poeta no esforço físico de mergulhar no significado das palavras.

O livro retrata uma busca autêntica, inspirada, extremamente artística. Ao terminar de ler senti o zumbidinho gostoso que sinto quando sou exposto a uma grande obra de arte.

Achei interessante o livro começar com a estruturação formal de “Sete Poemas Portugueses” (que vão do 3 ao 9), e ir avançando em caos até agonia orgástica de “Roçzeiral”.

Coisa maravilhosa é a capacidade de Ferreira Gullar em forjar novas ligações entre as palavras. É um talento que nunca vi brilhar com tanta força como nesse autor. Senti a cabeça ecoando de tanto que novas sinapses foram criadas para acomodar tantas novas camadas de significação para as palavras! É um efeito curioso, quase musical! Vale a pena experimentar!

Colocando o livro no contexto, então, sabendo que foi publicado em 1954, o resultado é uma boca aberta de admiração e espanto. É raro ver poetas dessa estatura caminhando entre os homens mortais.

(23.04.11)



Comunidade Resenhas Literárias

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