Yamilla.Marazzi 20/05/2024
A força da bondade x a injustiça causada pelo mal social.
Comprei ?Os miseráveis? numa promoção da Amazon, sem data prevista para ler, porém ele foi escolhido fomo a leitura do mês, no clube do livro que eu participo, e assim eu embarquei na aventura de ler cerca de 1500 páginas, sem muito saber, apenas que se tratava de um clássico e que abordava questões políticas e sociais.
De longe não imaginava que seria um livro tão difícil e bom. Difícil devido a profundidade dos temas levantados, contextos históricos e diversos núcleos e personagem, sendo todos eles importantes para diversos desdobramentos; e bom devido aos mesmos motivos e a grande crítica e realismo presente, que me tocou, me deixou envolvida e no fim me fez chorar.
Me apeguei facilmente ao personagem principal, sua personalidade, sua bondade e sua benevolência, portanto sofri junto com ele as diversas injustiças, dúvidas, incertezas e tristezas, bem como sorri com seus poucos momentos de felicidade, sendo o ápice, quando ele passa a cuidar de Cosette.
O autor escreve muito bem e coloca com grande riqueza de detalhes seu ponto de vista sobre a França do século XIX. Ele facilmente insere o leitor na realidade do livro através do retrato da vida e dos pensamentos dos personagens e seus finais, tão únicos e reais, e o faz refletir sobre a ignorância, pobreza, classes sociais, julgamento, miséria e caráter do homem, e experimentar sentimentos como agonia, raiva, nojo, compaixão, tristeza, amor e empatia.
Com Gavroche e Cosette senti a mais profunda tristeza ao acompanhar a vida de uma criança, sua vulnerabilidade, inocência e desamparo. Com Fantine o desespero, que a levou a vender os cabelos e os dentes, a necessidade, a injustiça e a dificuldade e julgamentos sofridos por uma mulher. Com Marius a abnegação, o amor e o desespero. Com Javert a importância de refletir e rever nossas próprias crenças e acreditar na bondade do outro. E com Jean o incômodo da injustiça, a falta de empatia das pessoas, e a esperança de uma luz e benevolência de poucos.
Confesso que demorei para finalizar a leitura, e considero que o motivo principal é que a história não ?flui de uma vez?. Apesar do autor escrever muito bem e, com isso, eu embalar e ler páginas e mais páginas com uma vontade absurda de descobrir o que ia acontecer, ele mudava o ambiente e os personagens ?meio que do nada? e eu era obrigada a ?começar tudo de novo, em uma nova história", o que me fazia, por muitas vezes, arrastar a leitura para continuar o livro.
Quando me vi no final do livro, meu olhos estavam cheios de lágrimas de desespero, pois depois de tanta bondade genuína, por pouco Jean se vai sem o amor e luz de Cosette junto a ele, sendo que ela foi a única que, depois de ele passar uma vida sofrendo, o fez ver sentido em sua existência e felicidade plena.
De fato um livro intenso e admirável, que indico a qualquer um que se interesse pelas relações sociais e que tenha estômago para refletir sobre as amarguras e injustiças presentes desde sempre.