Canto de Muro

Canto de Muro Luís da Câmara Cascudo




Resenhas - Canto de Muro


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Marcos.Rodrigues 16/08/2021

Sobre o que nos cerca
"Canto de Muro" é o título de um dos livros do célebre folclorista Luís da Câmara Cascudo #camaracascudo e deveria ser leitura obrigatória para naturalistas (profissionais ou amadores) e de todo aquele que se preocupa com meio ambiente. Foi publicado pela primeira vez em 1957 e reeditado pela Global Editora em 2006. Eu mesmo só conheci o livro agora graças a dica de leitura do professor Paulo Franchetti.

Nele, Cascudo descreve a vida dos vários animais que frequentam o 'canto de muro' do seu sítio no Rio Grande do Norte. Cascudo era um naturalista de mãos cheia. Conhecia os clássicos (Cuvier, Buffon, Fabre, Darwin) com quem chega a dialogar nestas páginas deliciosamente escritas em tom informal, mas cheias de informações valiosas.

O livro é dividido em 25 capítulos não numerados, sendo o primeiro uma introdução ao local onde todas as observações (ou a maioria delas) foram realizadas. O último capítulo é um depoimento de como o livro foi escrito e em que circunstâncias.

O tom é às vezes, irônico, sarcástico e com ótimo humor, e cada capítulo descreve a vida de um animal habitante daquele canto. Veja alguns exemplos:

Sobre o escorpião (apelidado de Titius)

"Ninguém o olhou sem o arrepio do medo e o enfrentou sem receio. Titius conserva a fidelidade obstinada e cega à ferocidade instintiva e bruta dos animais primários. Não tem aliados, amigos, companheiros. Na vastidão da terra inteira só enxerga adversos a combater. Os da própria espécie, do mesmo tipo, são seus contrários. Encontrando-os, batalha! Lembra aqueles hussardos de Napoleão que só sabiam dizer: - Nous batre! Nous batre!..."

Sobre a ratazana, natural da Ásia, mas introduzido acidentalmente em várias partes do mundo:



"Suporta e sobrevive intacto aos calores da Pérsia, gelos da rússia, invernos da Europa Central e do Leste, travessias oceânicas, rigores de Londres, verões tropicais do Continente Americano, clima de Nova Iorque e de Punta Areña, sertão do Nordeste, planície amazônica, alagados de Marajó, docas do Rio de Janeiro e de Santos, cais de Buenos Aires."

Sobre o bacurau (apelidado de Niti):

"Niti está caçando insetos e o fará, com maior ou menor entusiasmo, até o clarear do dia. De papo abastecido por algumas horas, volta ao seu pouso ocasional porque independe, bicho feliz, de possuir domicílio certo até a postura dos dois ovos brancos, com pintinhas violetas... Niti é conhecido por curiango e também bacurau. Teodoro Sampaio informou que bacurau é voz onomatopaica mas Rodolfo Garcia disse que talvez fosse originária de mbaê, coisa, bicho, e curau, que-solta-a-língua, o maldizente. Essa habilidade humaníssima do bacurau ser falador, mexeriqueiro, enredador, creio justa para ave de tão composto e sisudo porte."

Ainda há capítulos sobre o canto dos Xexéus e dos canários, o veneno da cobra-coral, o aparente dolce far niente do sapo cururu, as brigas territoriais das aranhas, a sociedade perfeita das formigas-saúva e um capítulo especial sobre a inacreditável vida dos besouros rola-bosta. O livro é um manancial de informação de história natural recheado de citações literárias, históricas e mitológicas além daquelas dos naturalistas já mencionados acima.

Só lendo-o inteiro mesmo, cheio de observações minuciosas típica de um grande naturalista. Eu recomendo já sua leitura no ensino médio, pois acredito que sirva como um despertar às ciências biológicas.
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