Renata1004 22/07/2020
Um Livro Denso, Heterogênio e Singular
No livro de Eugène Ionesco, a história começa com um diálogo de dois amigos em um bar: Bérenger e Jean, os quais têm traços bem distintos de personalidade. Bérenger um homem desleixado e simplório, dado a bebidas, e Jean: um homem ponderado, sensato e civilizado.
Ambos presenciam em um dia de domingo, uma situação atípica: Um rinoceronte passando no meio da cidade. Após o ocorrido os dois começam a discutir a respeito da situação, Bérenger não demanda tanta atenção ao fato. Jean porém, se pergunta sobre a origem do rinoceronte em questão, e as pessoas e transeuntes começam a discutir sobre o acontecido.
Logo em seguida, os cidadãos da cidade vão tomando a forma de rinocerontes, e Bérenger fica pasmo com o ilógico fato. Nesta obra de Eugéne Ionesco: " O Rinoceronte", um livro em teatro, em que a história é exposta pelos Narradores-personagens. Ionesco utiliza do relato nonsense, em sua obra, inaugurando o conceito do absurdo e irrealismo nas peças da 5° arte. No entanto o absurdo retratado, não se configura apenas de acontecimentos desconexos ou sem sentido. Pelo contrário! Ao longo da história, na qual é contada pelos próprios sujeitos da narrativa, é possível perceber no diálogo dos personagens uma rica crítica a ideologias absolutistas. Discussões acerca da moral e do correto, e do questionamento: existe uma verdade universal?.
A partir desta premissa que os rinocerontes se justificam. Eles acreditam que a "humanidade" esteja ultrapassada, e que a 'rinoncerite", retratada em alguns momentos como doença ou crise de moral, pelos que ainda são humanos, seja algo passageiro, porém uma nova forma melhor, uma evolução. Muitos dos humanos que restaram, se perguntam se esta nova transformação, pode ser considerada como algo correto, visto que os rinocerontes se tornam seres: rudes; animalescos. Porém, aparentemente felizes. Essas características te lembram alguma coisa? Pois é... mas a crítica não é meramente relacionada a ignorância humana, ou pelo seu característico entusiasmo pelo novo, mesmo que este seja reprovável. Eugéne consegue abordar pontos de vista heterogêneos, em sua biografia, espreitando, a partir dos diálogos e acontecimentos narrados pelos próprios personagens, análises e julgamentos acerca das posições ideológicas. Sendo ilustrado por Bérenger, uma posição conservadora, e da liberdade de pensar. Logo, o evento em mutação de humanos a rinocerontes, é retratado como uma mudança de valores: éticos, morais, comportamentais, e da abdicação da razão, visto que tais optam por uma nova forma mórfica, mas que simboliza de forma pejorativa a ignorância, o individualismo e a força física, sendo que esta é representada pela não empatia.
Deste modo Ionesco apresenta estas duas posições: Um homem aflito e desesperado, isolado, por ainda pretender manter a sua humanidade e racionalidade. E do outro lado humanos que escolhem simplesmente se tornarem paquidermes: brutos, unilaterais em suas opiniões, e que além de não tolerar, manifestam sua insatisfação constante, pelos que os contrariam.
Eugéne Ionesco escreveu a obra "O Rinoceronte" em 1960, utilizando a obra como forma de apresentar ao teatro a nova concepção do absurdo, e nonsense.