gabrieus 15/07/2023
Um símbolo
Carpeaux conta em História da Literatura Ocidental que quando uma personagem de Ésquilo está falando, não é um indivíduo, e sim céus e infernos, raças e eras. Após essa apresentação, é impossível não sentir um desejo ardente de ler uma das peças do autor que eu nunca tinha lido antes e que o mesmo Carpeaux denomina como o grande autor do teatro grego.
Na minha leitura eu pude ver uma personagem punida por algo que não se arrepende, por um Deus tirânico que tinha ajudado no passado, revoltado com a sua impotência e com seu castigo injusto, utilizando a minha única arma a disposição: as palavras. E é gritando, amaldiçoando e fazendo vaticínios sobre o dia em que esse mesmo Deus poderoso e inclemente será destronado, que Prometeu revida e consegue ter sucesso.
Corajoso (até insensato), Prometeu simboliza a raça humano sob as maldições de Zeus, dos deuses ou dos males do destino, como preferir. Ele é alguém que se recusa subjugar-se ou bajular o poderoso, a confortar-se com seu destino, com sua punição. Prometeu é um espírito independente, criativo e bondoso, sabendo encontrar empatia para IO - mais uma vítima dos caprichos dos deuses - até nos seus momentos mais dolorosos.
É impressionante que Ésquilo tenha tido a audácia de escrever um texto assim. Equiparável à Divina Comédia de Dante, Prometeu Acorrentado apresenta-se como uma das obras mais icônicas de Ésquilo e do Teatro Grego.