otxjunior 30/06/2020Olhos Vendados, Faye KellermanFoi com curiosidade que li ano passado o 19º livro da série Peter Decker/Rina Lazarus, Carrasco, de Faye Kellerman. O sobrenome era conhecido, já havia lido dois romances de seu marido e mais celebrado escritor policial, Jonathan. Fama que pra mim, até aquele momento, era desmerecida. O livro de Kaye me entreteu muito mais, principalmente num nível emocional das relações entre os personagens, que se não são totalmente bem desenvolvidos, parecem tridimensionais próximos aos protagonistas dos best-sellers assinados por seu cônjuge.
Em Olhos Vendados, voltamos ao convívio dos Deckers, família judia ortodoxa, encabeçada por um tenente da divisão de homicídios da polícia de Los Angeles e sua esposa, que parecem saídos de um comercial de margarina, sem sal, diga-se, dos anos 50. Não sei se por influência religiosa, mas a submissão feminina e a condescendência machista estão presentes no cotidiano do casal aparentemente perfeito (demais!). E se ainda não cheguei ao crime, é que a parte policial da trama também não se destaca.
Quase todo mundo aqui é baleado em algum momento. São muitas vítimas e o dobro de suspeitos. E não ajuda quando a maioria é composta de homens hispânicos, tatuados, que vivem/estudaram/trabalham no mesmo lugar (muitos até dividem o mesmo sobrenome!). Kaye, inclusive, os destrincha quase em todos estes aspectos, com repetições e diálogos em excesso, para que os confusos leitores identifiquem personagens quase impossíveis de se distinguir.
Por outro lado, ao final a autora parece perder o nível de detalhamento. A solução consiste em alguns parágrafos para encerrar tudo vários meses após o período dos assassinatos e investigações. Sobre fins, os dos capítulos, são sempre falas constrangedoras, que beiram o risível, não variam em tom por personagem, de uma generalidade dolorosa. É triste constatar que diverti-me menos com a narrativa do que ao imaginar o quanto o casal fictício reflete o casal de escritores da vida real.