Meu nome é Vermelho

Meu nome é Vermelho Orhan Pamuk
Orhan Pamuk




Resenhas - Meu nome é Vermelho


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jota 31/05/2016

Vermelho e negro...
Foram vários dias leitura (pois o livro tem 536 páginas), em sua maioria prazerosos, mas uma obra extensa como essa também tem lá seus momentos nem tão empolgantes assim. Ainda que muitos desses momentos estivessem quase sempre preenchidos por coisas ou fatos inusitados, curiosos, além da [minha] imaginação... Mesmo assim penso que gostei mais de Istambul e Neve, os outros livros de Orhan Pamuk que havia lido antes, que são mais lineares. Ou algo assim.

Mas não tem como não ficar impressionado não apenas com a imaginação de Pamuk, também com sua erudição ao escrever sobre a Turquia do século XVI com seus sultões, xás, paxás, guerreiros, pessoas do povo e pintores miniaturistas. Estes últimos são os artistas contratados para produzir um livro comemorativo para certo sultão daqueles tempos do império otomano.

Aí entra a eterna questão da Turquia: situada tanto no ocidente quanto no oriente ela pende para os dois lados e nem todas as pendências nacionais são resolvidas harmonicamente, claro. Nem naquele tempo nem em nossos dias. Esse é o pano de fundo de Meu Nome é Vermelho, que está presente em toda a literatura de Pamuk, não tem como não ser assim.

De volta: o tal sultão, com seu maravilhoso livro enaltecendo o mundo islâmico, quer provar a superioridade do oriente sobre o ocidente, mas determina que as ilustrações têm de seguir o estilo renascentista italiano. Isso vai provocar muita polêmica, brigas, discussões e pelo menos dois assassinatos entre os miniaturistas envolvidos no projeto artístico "sultanesco".

Quem aprecia pintura (incluindo materiais de pintura) e literatura vai certamente ver o livro com outros olhos (olhos furados são um ponto a provocar calafrios durante a leitura, assim como certos métodos de tortura descritos) que não os dos leitores comuns. Para nós Pamuk reserva especialmente as atribulações do romance entre os dois personagens centrais: o pintor Negro e a bela viúva (sem muita certeza dessa condição) Shekure, filha de um mestre pintor que orienta os artistas miniaturistas em seu trabalho.

O romance entre esses dois demora muito para deslanchar e depois é interrompido pela participação de outros personagens, com muitas idas e vindas. Quer dizer, são muitas as histórias contadas pelo autor; elas são em número muito maior do que as dezenas de vozes que ele utiliza para narrar seu livro. Um trabalho de arquiteto (ou de pintor), coisa de gente grande, ganhadora de Nobel de Literatura mesmo.

Lido entre 15 e 31/05/2016. Minha nota: 4,7.
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Gilberto 18/11/2015

Meu nome é Vermelho
Qual é a linha que separa o belo do profano? A inovação da heresia? Em "Eu sou o vermelho" Orham Pamuk utiliza a linguagem da arte e da pintura das iluminuras para refletir sobre os conflitos na adoção de uma nova estética de arte em uma sociedade cujos valores são enfaticamente mantidos pelos escritos sagrados. Sem a pretensão de ser um romance histórico, o livro faz um passeio pela história da arte islâmica até o século XVI, sua formação e influências de outros povos, seja como conquistados ou conquistadores. A busca por um assassino e um amor proibido compoe o pano de fundo deste romance, que utiliza as vozes de diversos personagens, alguns bem inusitados, para contar a estória sob seus pontos de vista, mostrando que a mudança é inevitável, e que não é Deus que é contra este processo, mas sim o próprio homem, que o faz com base em suas interpretação sobre os ensinamentos religiosos.
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Literatura Policial 18/06/2015

Uma proposta deslumbrante de leitura que reúne romance policial e romance histórico
A Academia Real Sueca concedeu o Nobel de literatura em 2006 para Orhan Pamuk, confirmando seu favoritismo apesar da extensa e disputada lista de concorrentes. Principal romancista turco da atualidade, seus livros encaminham o leitor através de um labirinto de histórias e crenças cujo cenário é sua cidade natal, Istambul, um símbolo do entrelaçamento e confronto entre Ocidente e Oriente, principal tema de seus livros.

Publicado em 1998, “Meu nome é Vermelho” foi recebido com rasgados elogios pela crítica, porém, sua consagração definitiva veio cinco anos depois, quando recebeu o prestigiado IMPAC Dublin Literary Award.

Sua história transcorre durante o final do século XVI, quando um miniaturista da corte aparece assassinado no fundo de um poço. O crime pode estar ligado a um livro secreto que a vítima estava ilustrando, encomendado pelo sultão para enaltecer a glória do Império Otomano. Trata-se de um presente para uma comitiva veneziana que virá visitá-lo nos próximos anos e suas iluminuras, ao invés de obedecerem as regras toscas e bidimensionais da arte islâmica, seguem o florescente estilo renascentista cuja pintura figurativa é considerada uma afronta ao Alcorão.

Com quatro miniaturistas entre os principais suspeitos e uma única pista, um cavalo de estranhas narinas desenhado no corpo da vítima, Negro Effendi foi designado para assumir as investigações e conta com pouco tempo para apontar o assassino, dividido entre três hipóteses: rivalidade profissional, crime passional ou atentado terrorista.

Contudo, o que ele realmente deseja é despertar a atenção de Shekure, o grande amor de sua vida. Separados há doze anos, a jovem está presa a uma antiga tradição: só pode ser declarada viúva quando seu marido, desaparecido durante uma batalha, for declarado morto por uma testemunha. Em dúvida quanto a seus sentimentos e constantemente assediada pelo cunhado, ela é uma personagem intrigante que revela uma sociedade com baixa tolerância às necessidades e opiniões femininas.

Sem um narrador onisciente, “Meu nome é Vermelho” apresenta 19 vozes e duas pertencem a uma mesma pessoa: o assassino. Em alguns capítulos, ele assume a autoria do crime, mas não revela quem é e, em outros, não admite a culpa sob a proteção de sua verdadeira identidade. Um enigma que desafia o leitor até o desfecho e garante algumas páginas absolutamente inusitadas, apresentadas por personagens pouco convencionais como um cachorro, uma árvore e até mesmo a cor vermelha.

Em síntese, denso de ideias, trata-se de uma proposta deslumbrante de leitura que reúne romance policial e histórico, ficção e realidade, filosofia e religião. Erudito, permite conhecer mais a fundo o Corão e a cultura islâmica e sua heterodoxa construção narrativa aponta para um novo caminho na literatura.

site: http://www.literaturapolicial.com/
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meandros 23/10/2013

Meu nome é da Rosa Vermelha
Em O Nome da Rosa, Umberto Eco nos apresenta a busca de um assassino entre monges na Itália do séc. XIV. Em Meu Nome é vermelho, Orhan Pamuk nos apresenta a busca de um assassino entre pintores miniaturistas na Turquia do séc.XVI. Em ambos, uma apresentação magistral do passado com estreita relação com os dias atuais.

Mais além desta barata comparação, Meu Nome é Vermelho destaca-se pela polifonia dos incontáveis narradores que discutem direta ou indiretamente do microcosmo da delicada posição da pintura na cultura islâmica. Como nas miniaturas dos artistas, não falta esmero nos detalhes e na composição total da obra.




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Zi 15/03/2013

O melhor de 2012
Este foi o melhor livro que eu li em 2012. A história me fascinou porque, além de ser envolvente, está ambientada num contexto cultural muito diverso do que vivemos, e o autor, que me pareceu muito culto, passa interessantes informações sobre os costumes e os estilos de pintura da época.
Anne 02/09/2015minha estante
Me questiono se você é mesmo o Ziraldo..rsrs




Alexandre Kovacs / Mundo de K 19/05/2010

Orhan Pamuk - Meu Nome é Vermelho
Editora Companhia das Letras - 534 páginas - Publicação 2004 - Tradução de Eduardo Brandão com base na versão francesa.

Fiquei conhecendo o trabalho de Orhan Pamuk, ganhador do Nobel de Literatura 2006, através do romance "Neve" que foi mundialmente divulgado e discutido devido ao caráter político do choque entre radicalismo islâmico e influências da cultura ocidental na Turquia moderna. Na ocasião, o refinamento estético da narrativa de Pamuk me deixou surpreendido, mas com este "Meu Nome é Vermelho", lançado originalmente em 1998, encontrei não apenas o rigor artesanal no texto, mas também um nível de experimentalismo narrativo raramente visto na literatura moderna.

A cidade de Istambul, centro do Império Otamano no final do século XVI, é o cenário de "Meu Nome é Vermelho" e a preparação de um livro representando o poder e riqueza do Império em comemoração ao primeiro milênio da Hégira é o fato desencadeador de toda a narrativa. Este livro, segundo orientação do sultão para demostrar a superioridade do mundo islâmico, deveria conter ilustrações pintadas com base nas técnicas retratistas da pintura renascentista ocidental o que contraria um dogma do islã , segundo o qual toda arte figurativa constitui um pecado.

As pressões dos grupos religiosos islâmicos radicais fazem com que a tarefa da criação deste livro se torne bastante arriscada o que acaba levando ao assassinato de um dos miniaturistas contratados. De volta a Istambul após doze anos, Negro deverá desvendar o mistério no prazo máximo de três dias, caso contrário pagará com a própria vida. Este gancho policial faz lembrar bastante "O Nome da Rosa" de Umberto Eco que soube equilibrar também cultura, filosofia e mistério em um único romance.

Pamuk levou ao extremo a técnica da "polifonia", uma vez que diversas vozes se alternam no decorrer de "Meu Nome é vermelho" que é contado por dezenove narradores diferentes. O capítulo inicial, por exemplo, é narrado pelo cadáver do miniaturista: "Agora, sou meu cadáver, um morto no fundo de um poço. Faz tempo que dei o último suspiro, faz tempo que meu coração parou de bater mas, salvo o canalha que me matou, ninguém sabe o que aconteceu comigo. Esse crápula desprezível, para certificar-se de que tinha mesmo dado cabo de mim, observou minha respiração, espreitou minhas derradeiras palpitações, depois deu-me um chute nas costelas, arrastou-me até um poço, passou-me por cima da mureta e precipitou-me fosso abaixo."

Alternando os narradores em cada capítulo, Pamuk consegue uma visão multifacetada da história o que dá um movimento extraordinário ao romance e desperta interesse compulsivo no leitor.
Evy 31/01/2011minha estante
Tenho mais vontade de ler este livro do que Neve!
Sua resenha está ótima!


AdriBoeck 04/12/2011minha estante
Não concordo que seja inferiro a Neve, o livro é excelente com seus 19 narradores que tratam pontos de vista diferentes sobre a vida, a cultura e a história a partir de um crime a ser investigado, parte do local para o amplo e nos fazendo viajar por diversos aspectos da cultura ocidental e oriental.


Arlete 04/12/2014minha estante
Excelente. A história é contada sob a ótica de cada personagem.


Márcio_MX 15/11/2018minha estante
Omar Pamuk tem um dos melhores estilos narrativos que conheço.


Alexandre Kovacs / Mundo de K 16/11/2018minha estante
Estilo elegante e muito agradável de ler, este romance é um dos melhores, muito criativo.




Samirr 30/01/2010

Meu Nome é Vermelho é o terceiro livro que eu leio do Orhan Pamuk, pois eu gosto muito da Turquia e dele hehe. Mas todo o assunto sobre pinturas não prendeu a minha atenção, pelo contrário, só fez com que a minha leitura fosse mais arrastada mas apesar disso, toda vez que a historia ia em direção aos personagens eu me animava. Gostei muito da sacada de ter varios narradores, mostrando o ponto de vista de todos eles sobre um mesmo assunto, fato e também de toda a história. Gostei também de tentar adivinhar quem era de fato o assasino e claro, do assunto mais destacado dos seus livros, que é a questão sobre o Ocidente e o Oriente.
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Anna 16/01/2010

Meu nome é Vermelho
Finalmente terminei de ler o livro Meu nome é vermelho
de Orhan Pamuk.
Orhan Pamuk foi prêmio Nobel da literatura
com o livro Neve. Dizem que é maravilhoso, mas ainda não o
li. Dizem inclusive que ele é melhor que Meu nome é vermelho.
Como Meu nome é vermelho é simplesmente fantástico, não vejo a hora
de ler Neve.

A história se passa em Istambul, em torno do ano de 1591, um ano
antes das comemorações do milênio da Hégira. O que é Hégira? Fuga
de Maomé para Meca. Alia narrativa policial, amor proibido e reflexões
sobre as culturas do Ocidente e Oriente.

O núcleo do livro não é a história de amor, nem os assassinatos.
O mais importante é a discussão em torno das diferenças das pinturas
ocidental e oriental. E são estas diferenças que levam os artistas a se degladiarem e cometerem crimes.

Cada personagem do livro apresenta uma visão do mundo, ou talvez a visão do seu mundo. Isto traz riqueza à narrativa, te faz mergulhar na história.
Isto torna, as mais de 500 páginas, tarefa fácil rs.

O que mais gostei foi a mensagem do livro, que o Ocidente e o Oriente pertencem à Alá. Sendo assim, não há razões para matar, guerrear por princípios culturais
pois os dois mundos pertencem a um único Deus.

Eu adorei o livro e recomendo.
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Carlozandre 01/01/2010

Os nomes em vermelho
Quando Meu Nome é Vermelho, de Orhan Pamuk, foi lançado no Brasil, em 2004, o autor, embora já tivesse sido editado por aqui pela Record, que publicou O Castelo Branco, era pouco ou quase nada conhecido no Brasil. Dois anos depois, o sujeito abocanhou o Prêmio Nobel de Literatura quando sua editora, a Companhia das Letras, estava pondo em circulação seu romance Neve – e o livro, turbinado pelo prêmio, foi best-seller aqui no Brasil (a exemplo de Europa e Estados Unidos, onde suas traduções foram recebidas com entusiasmo).

Os livros do autor turco são narrativas que, assim como seu tema central, o das marcas produzidas pelo contato entre o Oriente e o Ocidente, unem com equilíbrio o melhor das tradições literárias européias e árabes. De uns, Pamuk extrai a visão (pós-)moderna do artista que reflete sobre seu próprio ofício, o olhar crítico sobre o conhecimento e suas múltiplas facetas, representadas na multiplicidade de narradores que povoa alguns de seus melhores livros. Dos outros, o autor apresenta uma habilidade de tecer histórias como quem alinha fio a fio numa tapeçaria que, ao final, torna-se um desenho rico, belo e detalhista.

Depois do Nobel, Pamuk foi quase integralmente publicado por aqui: saíram suas memórias, Istambul, e dois romances, O Livro Negro e o já citado O Castelo Branco. Mas confesso que, embora tenha conseguido me enlevar com todos eles (os jogos labirínticos misturando poesia e prosa casam especialmente bem com meu gosto literário), aquele que mais me arrebatou foi mesmo o já mencionado Meu Nome É Vermelho.

Nas 536 páginas do romance, somos apresentados a um livro maravilhoso, em mais de um sentido: é belo e magistralmente orquestrado e é uma história contada com um pé no realismo literário e outro na fábula fantástica que os árabes praticam como ninguém desde As Mil e Uma Noites. A própria trama do romance é uma edificação maravilhosa, cuja estrutura multifacetada resiste bravamente a resumos redutores — mas vamos tentar assim mesmo. No século 16, às vésperas do milésimo ano da Hégira, episódio fundador do Islamismo, o sultão de Istambul resolve encomendar à sua escola de artistas uma edição singular do Alcorão: um livro belíssimo caligrafado pelos melhores mestres da escrita e ilustrado com um retrato fiel do sultão, realizado com “o novo estilo” realista ocidental cuja prática o monarca testemunhou durante uma visita ao Doge de Veneza. Uma empreitada megalomaníaca que pode acabar muito mal se for descoberta pelos guardiões da fé islâmica, que consideram uma afronta a representação da figura humana.

O trabalho, portanto, precisa ser executado secretamente, e um dos mestres ilustradores convoca, para ajudá-lo, seu sobrinho, chamado “O Negro”. Para atender ao pedido do parente, “O Negro” retorna a Istambul após 12 anos de ausência para descobrir que sua prima, Shekure, por quem foi apaixonado na juventude e cuja mão lhe foi recusada pelo mesmo tio que hoje lhe pede favores, tornou-se uma bela mulher, mãe de dois filhos, esposa de um militar desaparecido em uma guerra quatro anos antes.

Numa narrativa que flui sem costuras visíveis entre vários gêneros, ocidentais e orientais, a história já começa com o assassinato de um dos mestres miniaturistas encarregados de ilustrar o livro do Sultão — uma morte que “O Negro” terá de desvendar ao mesmo tempo em que, às escondidas do tio, corteja sua antiga paixão. As tramas se interpenetram enquanto a narrativa, em camadas, vai se desenrolando pela voz de duas dezenas narradores: “O Negro”, Shekure, alguns dos mestres ilustradores cooptados para o livro secreto, o assassino do artista, o próprio cadáver do morto e até mesmo cores, desenhos e ideias e conceitos (o trecho que vocês leram acima, se não ficou claro, é narrado em primeira pessoa pelo Diabo).

Nesse mosaico polifônico de grande beleza, com influência da lírica árabe, Pamuk entrelaça temas como a relação entre o Ocidente e o Oriente, a autoria e o anonimato na arte e mesmo as disputas internas de um Islã flagrado em um momento de crise. Numa Istambul que sofre com a miséria e a carestia provocada pelas guerras constantes, ainda que governada por um sultão patrono das artes, começam a surgir pregadores que apontam a miséria do povo como um castigo de Alá aos vícios dispendiosos da corte do sultão e aos desvios da palavra divina expressa no Alcorão - num eco do processo de fanatização que desembocou nas constantes tensões fundamentalistas de hoje.

Em Meu Nome É Vermelho, Pamuk consegue o prodígio de aliar o detalhe preciso e lírico dos miniaturistas — como seus próprios personagens — ao vigor épico dos muralistas de ampla mirada.
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Bruno 06/10/2009

Apesar de ser superior, não é tão tocante como Neve.
Uma coisa interessante na arte em geral é que a qualidade técnica do artista - e da própria obra - não é um fator determinante para a sua qualidade artística como um todo. Em "Meu nome é Vermelho", Pamuk mostra porque mereceu o Prêmio Nobel ao esbanjar virtuosismo, erudição e densidade literária. Isso, entretanto, não significa que "Meu nome..." seja melhor do que "Neve", ao menos na minha opinião. "Neve", apesar de mais singelo, é mais intenso. Seus personagens são mais humanos, não são máquinas de racionalizar sentimentos, como ocorre neste livro. Ainda assim, não dá pra dizer que o livro não é uma obra-prima. Para quem gosta de arte e para quem se interessa pela cultura islâmica, "Meu nome é Vermelho" é uma dádiva. Me parece que o parágrafo abaixo, que remete ao personagem Negro (o qual me parece, muitas vezes, o alter-ego de Pamuk), traduz muito bem o espírito do autor e de sua obra:

"A esta altura vocês já devem ter compreendido o seguinte: as pessoas como eu, isto é, aquelas que acabam fazendo da paixão e suas agruras, da prosperidade e da miséria simples pretextos para uma eterna e absoluta solidão, não são capazes nem de grandes alegrias nem de grandes tristezas na vida. Não é que não compreendamos os outros, quando os vemos conturbados, ao contrário, reconhecemos plenamente a profundidade dos seus sentimentos. O que não apreendemos é a natureza dessa espécie de perplexidade que sentimos então dentro de nós. E esse sentimento, que permanece mudo, tende a tomar, nessas ocasiões, em nosso coração e em nosso espírito, o lugar da alegria ou da tristeza."

E aqui segue outro trecho em que um de seus personagens, um miniaturista turco do final do século XVI, divaga sobre os impulsos que movem o artista e acaba tocando na essência do que seria a arte em si mesma:

"O que nos atrai na caligrafia, na pintura ou no desenho faz parte desse medo que temos de ser punidos. Se nos debruçarmos sobre o nosso trabalho de sol a sol, continuando noite adentro à luz de vela, a ponto de ficarmos cegos, se nos sacrificamos assim pela pintura e pelos livros, é menos por causa dos favores ou do dinheiro, do que para escapar da comunidade e dos seus rumores. Mas, paradoxalmente, também desejamos o reconhecimento, por esses mesmos homens que evitamos, das nossas criações mais inspiradas. E se eles nos acusam de blasfêmia... Ah, que sofrimento isso traz ao artista verdadeiramente talentoso! Mas a verdadeira pintura está oculta na angústia que não se vê e muito menos se cria, está contida na imagem que, à primeira vista vão dizer que é ruim, incompleta, ímpia ou herética. O verdadeiro miniaturista sabe que tem de chegar a esse ponto, mas ao mesmo tempo teme a solidão que estará lá à sua espera. Quem pode aceitar uma vida tão atroz, tão angustiante como essa?"

Certamente é um livro que exige dedicação por parte do leitor. Mas acredito que aquele que estiver disposto a entrar no universo de Pamuk será altamente recompensado.
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She 07/06/2009

Riqueza de detalhes!!
O primeiro livro de Pamuk que li!!
Uma história cheia de intrigas e suspense, bastante rica em detalhes, na linguagem, no estilo... Você já se imaginou lendo uma história com mais de cinco narradores?? Meu nome é Vermelho, é assim!!
Você vê os acontecimentos pelos olhos de todos os personagens. Muito boa a história, mas devo confessar que é um pouco cansativa também.
Fala sobre o Islã, sobre a pintura, sobre as palavras, sobre o amor e a inveja...enfim sobre a História!!
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GIPA_RJ 19/03/2009

Foi o segundo livro que li de Pamuk , que realmente entende muito da cultura turca , de artes e de sentimentos.(E muito mais!)
O que mais me achou a atenção foi a estrutura do livro , onde cada capítulo é narrado por algum dos personagens ou mesmo por objetos "inanimados" da história. Foi a primeira vez que li um livro assim , e embora torne a leitura mais lenta , é bem interessante.
A riqueza de informações me envolveu muito.

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Henrique 17/03/2009

Livro muito bom, porém inferior ao excelente Neve, do mesmo autor. Assim como neste, Orhan Pamuk ambienta sua história na Turquia, seu país natal.
Mesmo situada no século XVI, é possível traçar inúmeros paralelos com os conflitos atuais entre ocidente/oriente; cristãos/muçulmanos e daí inferir algumas lições valiosas.
A diversidade de narradores durante o livro só ressalta o talento do escritor na arte da narração. Destaque aqui para as narradoras femininas, sempre geniais e geniosas
Talvez o único defeito do livro seja o enfoque em excesso de temas como a pintura e as inúmeras recorrências a histórias árabes antigas, o que torna a leitura um pouco fastigante.
Mas nada disso tira os méritos desse livro, que deve ser lido por todos que se interessam pela cultura do oriente médio ou simplesmente gostam de uma boa leitura
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