Mario Carneiro 24/11/2009
O título não mente: Obras Primas do Conto Fantástico, da Livraria Martins Editora (1961), realmente entrega aquilo que promete: 25 contos maravilhosos, que transitam entre o terror e o realismo fantástico em suas 376 páginas. O livro foi organizado por Jacob Penteado, que também escreve a introdução.
Nessa obra, atualmente encontrada apenas em sebos (ou, mais facilmente, em sebos e lojas virtuais), encontramos verdadeiras preciosidades da literatura fantástica. Vamos falar de algumas.
O livro abre com Avatar, do magnífico Teófilo Gautier (ou originalmente, Teóphile Gautier), sobre uma estranha doença que acomete o pobre Otávio de Saville; em seguida, já vem outra história tão boa quanto, O Espelho, de Gastão Cruls, onde um marido aconselha a esposa a não comprar um espelho de origem duvidosa, e obviamente, não é atendido; em Um Louco?, do grandioso Guy de Maupassant, vemos a triste história de Jacques Parent, aparentemente torturado por fenômenos sobrenaturais (ou não, vai saber... é uma dúvida comum nas histórias do Maupassant, rs); em Metempsicose, de Walter Poliseno, a velha história da troca de corpos é abordada por um ângulo muito interessante, ambientado durante uma exploração arqueológica numa tumba egípcia. Sim, Teóphile Gautier e Guy de Maupassant no mesmo livro, e falamos apenas dos quatro primeiros contos!
Em seguida, temos a assustadora (mesmo) história Os Ratos do Cemitério, de Henry Kuttner. Se você for claustrofóbico, ou tiver pavor de ratos (ou ambos), esse conto vai te deixar com o coração acelerado. Que diabos, mesmo que você não sinta essas fobias, vai ficar com o coração acelerado!
Não vou comentar todas as histórias seguintes, daria muito trabalho (e acreditem ou não, tenho mais o que fazer), mas vou falar um pouco sobre outras que são ótimas: em Camarote 105, Beliche de Cima, de Marion Crawford, um viajante marítimo desconfia que seu companheiro de cabine talvez não seja exatamente humano. Logo depois desse, vem o conto A Mão do Macaco, de William Wymark Jacobs, simplesmente a melhor história de "horror sutil" de todos os tempos; por fim, o livro fecha com Bugio Moqueado, de um escritor nacional mais ou menos conhecido, chamado Monteiro Lobato. Quem se apavorou com O Saci (da série Sítio do Pica-Pau Amarelo), durante a infância, sabe do que o homem era capaz.
Comentei alguns dos melhores, mas leia a lista completa de contos e autores abaixo:
Teófilo Gautier - Avatar.
Gastão Cruls - O espelho.
Guy de Maupassant - Um louco?
Walter Poliseno - Métempsicose.
Henry Kuttner - Os ratos do cemitério.
Afonso Schmidt - Delírio.
Victor Hugo - O diabo maltrapilho.
Conan Doyle - A mão do hindu.
Matteo Bandello - O macaco travesso.
Afonso Arinos - Uma noite sinistra.
Alexandre Pushkin - O recoveiro.
Jorge William Curtis - Os óculos de Titbottom.
Marion Crawford - Camarote 105, beliche de cima.
William Wymark Jacobs - A mão do macaco.
Anatole France - A missa das sombras.
Herbert George Wells (H.G.Wells) - O fantasma inexperiente.
Luigi Pirandello - A senhora Frola e o senhor Ponza.
Villiers de L'Isle Adam - A experiência do doutor Velpeau.
Jack London - O rei dos leprosos.
Jean Lorrain - A máscara vazia.
Somerset Maugham - Encontro em Samarra.
Leónidas Andreyeff - A mentira.
Giovanni Papini - O que o diabo me contou.
Viriato Correa - A ficha n.º 20.003.
Edgar Allan Poe - William Wilson.
Charles Baudelaire - O jogador generoso.
Monteiro Lobato - Bugio Moqueado.
Esse livro não pode faltar na biblioteca de um aficcionado por terror e literatura fantástica em geral.
Boa leitura!