Amanda 24/06/2021
Narrador: Como você se sente por ter grifado o livro inteirinho?
Eu: Eu me sinto adorável!
A capa engana um pouco, castelo desenhado, rosa choque bem princesa, letras enfeitadas e PAH! Metralhadora de conceitos técnicos. Pode ser que eu esteja meio burra... Ultimamente só leio livro fácil e manchete de notícia, então quando meu cérebro precisou mostrar serviço, ele estava bem preguiçoso. Aí fiquei confusa se o livro foi pensado para um nicho específico ou não e se passaram a mensagem certa da intenção do livro ou não.
Apesar de ter saído vesga do primeiro capítulo, cheguei no final inteira e lúcida. Algumas análises ficaram meio repetitivas e outras informações pareceram óbvias, mas eu não sei argumentar tecnicamente. Não é bem a minha área de atuação e não li quase nenhum livro citado pela autora, então não tenho bala na agulha para explicar porque algumas partes me incomodaram (no sentido de que me fizeram pensar e questionar, mas eu não encontrei respostas para as minhas dúvidas no próprio livro, então se tornaram questões em aberto).
O livro traz conceitos interessantes sobre identidade, esteriótipos de grupos e padrões que são traduzidos em imagem e aparência e em seguida reproduzidos e alavancados pela mídia. A autora cita as revistas, o meio televisivo e o cinema como 'armas' midiáticas, mas hoje podemos incluir o meio digital na definição e disseminação de novos padrões. As princesas ainda são o principal modelo de aparência das crianças/adolescentes? Ou as influencers digitais são as novas responsáveis por ditar modas e servirem de inspiração?
"Mesmo trabalhando e sendo bem sucedidas, as mulheres são imersas em conceitos de beleza que promovem o ódio a si mesmas, obsessão com o físico e pânico de envelhecer."
Tão importante quanto analisar os esteriótipos das princesas, é analisar o papel feminino das mulheres que as cercam. Temos alguns trechos que apontam o papel da figura materna, da madrasta, da figura da amiga (ou da ausência dela), mas "Feminismo & príncipes encantados - A representação feminina nos filmes de princesa da Disney" poderia se chamar "A representação DAS princesas da Disney", ao final da leitura, eu percebi que queria ter lido análises mais profundas de outras personagens.
"Dualizar os conflitos entre princesa e bruxa má poderia ser apenas uma forma de colocar mulheres umas contra as outras, fazer com que elas se vejam como rivais."
Toda a abordagem da beleza/aparência das princesas e como isso se relaciona com o contexto capitalista me deixou pensante... Partindo do conceito feminista de igualdade, deveríamos parar de comparar e vender beleza, mas a todo momento somos expostas ao conceito de bonito e feio. Eu tive uma matéria na faculdade sobre "estética da arte" e (errr... eu não lembro muito bem... mas...) logo de cara fomos questionados "O que é bonito? O que é feio? Há algo bonito e há algo feio? Quem decide o que é bonito e o que é feio?"
Bonito e feio são dois conceitos ou só um paradoxo? Às vezes penso que o que se vende e o que se propaga é um padrão, a ideia do 'bonito' vem por ele se tornar um padrão, o capitalismo te induz a querer ter/ser aquilo ao propagar um comportamento de manada e assim acaba por controlar as massas através do marketing.
Também vejo o bonito e o feio como uma questão de escolha. As representações das princesas são pensadas, desenhadas e executadas para serem bonitas, assim como a aparência da bruxa má é desenhada para ser feia. A animação, quando quer, faz até o feio ser bonito, faz o normal ter apelo. Assim como a beleza está atrelada à imagem, e muitas vezes é irreal, a 'feiura' também não deveria ser analisada assim? A mulher feia, nos desenhos vem estereotipada, assim como a bonita e se a beleza da princesa é inalcançável, a feiura da bruxa também é.
"Ninguém quer ser como elas, ninguém quer ser 'do mal', ninguém quer ser derrotado. No entanto, ninguém consegue atingir o modelo de virtude da princesa. Não estariam certas as bruxas, que tentaram eliminar esse exemplo inatingível, esta forma fechada, cujo padrão nunca conseguiremos nos encaixar?"
O livro é um bom ponta pé para esse nicho de leitura, foi bom eu ter lido antes do mito da beleza, por exemplo, e chegar lá com mais bagagem. Eu realizei uma leitura híbrida, iniciando com uma amostra grátis no Google Books e finalizando com o PDF original do TCC da Fernanda Breder (disponibilizada no site da UFRJ), espero não ter perdido muito [os perrengues que o pobre se submete para ler]. Então percebi que a estrutura do texto se manteve a mesma e como Livro, ele ficou com muita cara de TCC, não sei explicar... Talvez faltou maturidade e densidade no próprio texto. Mas eu gostei tá. Nota 3 pra mim é um nota boa, na verdade ele poderia ser 3,5 mas não consigo dar nota quebrada pelo site.