spoiler visualizarDantonM 16/04/2020
Minha faculdade me impediu de dar 5 estrelas, sou mt chato pqp
O que é vida pra você?
Uma pergunta simples, que ninguém costuma se fazer. E que não tem exatamente uma resposta certa. Na segunda fase da minha graduação em Biologia (que perdura por três anos já) em uma aula de Biologia Celular meu professor lançou essa pra gente. As discussões que se seguiram me fizeram ter certeza de que eu estava no curso certo. Aquele era o momento para entendermos (ou tentarmos entender) a origem da vida. Um organismo vivo é definido consensualmente como aquele que consegue manter suas atividades metabólicas por conta própria. Mas como começou tudo? De onde viemos?
Tentamos responder a essas perguntas assim como tudo nas ciências naturais, com o método científico (lindo, perfeito, maravilhoso, criacionismo é o caralho). Publicamos artigos, defendemos hipóteses e hoje, em 2020, ainda não chegamos a uma conclusão definitiva, mas isso não nos impede de formular respostas: sabemos que a vida precisa de componentes básicos, primordialmente água e aminoácidos, com os quais começam a ser construidas proteínas até termos um ancestral da unidade vital básica: a célula. É claro que não entendemos milhões de fenômenos nesse processo, mas ao que tudo indica foi assim há pelo menos 2 bilhões de anos. Mas isso, meus caros é para a vida como nós a entendemos.
Por que eu escrevi tudo isso no início dessa resenha? Porque acho fundamental ressaltar que quando Tess escreve sobre vida extraterrestre ela se baseia no princípio de que ela seria igual a nossa, afinal, é a única forma de vida que conhecemos... Mas nada indica que é assim. Inclusive é bastante curioso pensar que todo o processo que eu descrevi ali em cima aconteceria duas vezes. Nada indica que o código genético de formas de vida alternativas seja o mesmo do nosso. Tem quem defenda. Pausa para reflexão.
Agora que já entendemos que nem todas as formas de vida que estão "lá fora" são necessariamente iguais as nossas, vamos falar do livro e do novo organismo que Tess coloca como protagonista dessa história: uma quimera que começa com uma arqueia e evolui intercalando DNA de organismos terrestres ao seu próprio. Eu achei fantástica a ideia desse plot mas vou ter que dar minha humilde opinião sobre a execução.
Estamos falando de um livro hollywoodiano, se é que me entendem, Tess o escreveu para fazer sucesso como thriller, não como artigo acadêmico e eu entendo isso perfeitamente. Mas como aluno de Biologia e aspirante a divulgador científico creio fortemente que ela tinha em mãos o poder de disseminar conhecimento em ciência e não o fez...
Veja bem, eu não sou muito na fila do pão pra criticar conhecimento em biologia. Mas também não sou um 0 a esquerda e nesse parágrafo vou colocar pra fora tudo (o que eu lembro) que me incomodou nessa história. O primeiro fato que me deixou com o pé atrás foi quando Hirai usou a mesma caixa na qual Bill estava manuseando um rato e abriu um tubo com uma cultura de células. Aí eu percebi que talvez a Tess não fosse das biológicas, o que só foi se confirmando quando ela descreve que os pesquisadores olharam as Arqueias sob microscópio e pensaram em contaminação POR FUNGO. São organismos muito diferentes... O auge chegou no final do livro quando eles descobrem que a gravidez confere proteção aos infectados pela quimera e DOIS MÉDICOS raciocinam que a única explicação lógica seria influência hormonal. Tem milhares de outras coisas que podem ser. Aí eles procedem pra seguinte frase: "podemos simular uma gravidez com anticoncepcionais porque eles aumentam os níveis de hormônios". Poxa. Essa doeu. Eles explicam literalmente o contrário do que acontece fisiologicamente: a gravidez diminui os níveis de hormônios sexuais.
Nas partes em que os mecanismos genéticos da quimera são descritos eu já tava descrente porque é absolutamente impossível criar um organismo viável com genes funcionais de tantas espécies incluidos em seu genoma, mas aí do nada me vem essa de vida alienígena e tive que me calar. Realmente é uma explicação boa e que não permite questionamentos, afinal, quem aqui conhece vida alienígena?
Se você chegou até aqui, é agora que vou falar bem da história: o livro cumpre o que promete, entrega um enredo que prende a atenção, cheio de cenas tensas e plot twists que eu nem imaginaria. Amei o fato do pessoal do USAMRIID e do Ministério da Defesa americano serem responsáveis pelas arqueias que sairam do controle. E depois ainda fazem de tudo pra abafar o caso, típico. Tess Gerritsen me conquistou, com certeza vou ler mais dela. Minha conclusão é que se eu não soubesse biologia acho que ia gostar bem mais desse livro kkkk me perdoa Tess.