Nath 18/12/2020"Eu te gritarei para casa."Eu já disse tempos atrás que como fã eu precisei mudar um pouco a minha forma de encarar os livros do Stephen King. Tive que ajustar minhas expectativas e parar de colocá-las altas ao ponto de quase gostar dos livros por antecipação, a fim de evitar experiências ruins que inevitavelmente viriam. Em geral, consigo fazer isso muito bem, o que já me rendeu gratas surpresas com livros que ao meu ver são bastante subestimados (esse, por exemplo?), mas, dessa vez eu me traí.
Esse ano eu li "Coração Assombrado" e mesmo já sabendo que "Love" é um dos livros favoritos do King, ler sobre o processo de criação e publicação desse livro e o carinho com que ele se refere à essa história, fez com que mesmo eu tentando não colocar grandes expectativas, começasse a lê-la já querendo muito gostar.
Entretanto, eu cheguei muito perto de abandonar esse livro, muito mesmo. Inclusive, acho que posso afirmar que talvez, se tivesse sido escrito por outra pessoa, eu teria feito menos esforço pra ir adiante e o livro teria voltado pra estante lido pela metade. Fico feliz que isso não tenha acontecido.
É verdade que esse livro tem altos e baixos. A narração não é daquelas que faz a gente querer devorar o livro, pelo contrário, pra mim pelo mens foi uma leitura bem "empacada". Mas talvez (e digo isso sabendo que posso parecer repetitiva) tenha a ver com a coisa das expectativas. Explico; pra um livro chamado "Love – A História de Lisey", eu iniciei a leitura esperando o óbvio: a história da Lisey. Logo, tudo seria sobre a Lisey ou pelo menos era o que eu queria/esperava que fosse. Só que eu esqueci que os livros do Stephen King não são exatamente o que parecem ser porque uma coisa nunca é simplesmente "uma coisa"; uma pessoa não é "uma pessoa" pura e simplesmente; na cabeça dele, as coisas sempre são muito mais complexas do que isso e ele precisa nos dizer e explicar com detalhes todos os porquês. Ainda assim e mesmo conhecendo a sinopse do livro, eu não queria ler sobre o Scott, não me interessava saber muitos detalhes sobre ele, afinal, eu já sabia do papel de destaque que ele ocupara na vida da Lisey, então, eu não queria o protagonismo dele na história que me seria contada sobre ELA. Foi aí que meu problema aconteceu. A história do Scott é importante pra esse livro ser o que é. Não porque é obrigatoriamente necessário falar sobre ele pra falar sobre a Lisey, mas sim pra falar sobre os elementos que rodeiam a história dela, principalmente onde se entrelaça com a dele. E querendo ou não, eles ficaram juntos por mais de 25 anos, logo, ele tem uma grande cota de relevância na história dela.
A questão é que (como sempre) isso só fica realmente explícito conforme a história avança (e ela avança devagar) e os mistérios envolvidos se revelam. Até chegar nesse ponto, eu já tinha lido muito mais sobre o Scott do que eu gostaria em um primeiro momento e estava muito perto de desistir por causa disso, já que essa foi a primeira vez que me incomodei um pouco com a prolixidade da escrita e achei algumas partes da narração da infância do Scott um pouco enfadonhas. Provavelmente isso tem a ver com o fato de eu ter custado um pouco a me conectar com esse personagem e ficar o tempo todo pensando: "não quero saber sobre sua carreira, sobre sua infância, sobre seus traumas e sobre o que você pensava, eu quero ler a Lisey", mas também pode ter a ver com o fato de que há um momento do livro em que a Lisey se encontra em um ponto crucial e a cena é cortada pra um tipo de devaneio sobre a família problemática do Scott que se estende por capítulos a fio de um jeito que pra mim pareceu muito repetitivo. Essa parte da leitura foi particularmente frustrante pra mim porque "esfriou" um dos clímax que a história estava prestes a atingir, o que me irritou um pouco.
Porém, dando continuidade, finalmente pude ler melhor a Lisey em toda sua personalidade única e em sua coragem e devoção ímpares. E eu digo com tranquilidade que amo essa mulher demais, socorro.
Além disso, pude aproveitar o que mais tinha me dado expectativas no começo do livro e que achei que também acabaria me frustrando quando a história do Scott roubou um pouco a cena: mais uma coadjuvante incrível criada pelo King: Amanda, uma das irmãs mais velhas de Lisey. Eu amei a construção dessa personagem e a relação das duas; amei a coisa do "lance das irmãs" e como isso por si só pôde demonstrar muito do que a Lisey se tornou, sem a necessidade de contar nos mínimos detalhes a história dela desde criança, por exemplo. Scott, no fim das contas, entra como a explicação pra muitas das coisas que acontecem na história e claro, que acontecem com Lisey. E a história da Lisey abraça tudo isso e mais. E pra entendê-la, é muito simples: basta que a observemos de perto, basta que a enxerguemos.
Fiquei com muito receio de que essa fosse uma história não sobre uma mulher, mas sobre a "mulher de alguém", como fica claro que enquanto Scott era vivo, era assim que se referiam à ela em revistas e publicações em geral. Mas isso não aconteceu. Ao contrário do que cheguei a pensar quando quase larguei a leitura, esse livro é sim "A História de Lisey" ou talvez uma das tantas que poderiam ser contadas sobre ela, mas ainda assim, é inteiramente sobre ela e eu gostei muito de ler meu autor preferido narrar um protagonismo feminino mais uma vez; algo que não é tão corriqueiro em suas obras, mas que ficou evidente que quando ele decide fazer, faz muito bem.
Além disso, gostei muito de ler uma história de amor escrita por ele; eu que não sou uma grande fã de histórias sobre casais, me emocionei muito em várias partes (e a última, meu deus, eu tava chorando e mal percebi). Esse livro é um lado do King interessante de conhecer pra quem ainda não o tem muito claro: é um lado mais sensível em um sentido mais clichê da palavra, mas ao mesmo tempo tem aquela obscuridade que já esperamos de suas histórias.
Não pensei que fosse dizer isso mas: adorei. Vou guardar esse livro no meu coração com todo o carinho do mundo porque ele é LINDO MIL VEZES. Tudo na mesma.