spoiler visualizarLívia 27/03/2021
Primeiro leitura do ano!
2020 foi, sem dúvidas, um ano muito denso em diversos aspectos, por isso prometi para mim mesma que minha primeira leitura de 2021 seria o mais leve possível; precisava ser divertida, agradável e fluida, algo para esquecer do caoticidade do mundo lá fora. E com "Namorado de Aluguel" foi dito e feito!
O que me fisgou logo de cara foi a junção da capa lindíssima com esse título que já promete um clichezão dos grandes. Era exatamente o que estava procurando para começar meu ano (e não podia ter feito escolha melhor).
A narrativa da Kasie é muito agradável e envolvente, você consegue terminar o livro em um único dia (se tiver tempo disponível), mas isso não o torna um livro corrido ou superficial. Muito pelo contrário! A autora te dá tempo suficiente de conhecer os personagens e se envolver.
Gia, a protagonista de dezessete anos, é retratada como uma garota supostamente superficial, que se importa com as opiniões alheias e seria capaz de tudo para passar uma boa imagem às suas amigas e pessoas ao redor - até inventar um falso namorado para não admitir que seu relacionamento real se desintegrou. Isso seria uma característica bastante enjoativa se a Kasie não soubesse dosar direito, mas a verdade é que é fácil gostar da Gia, mas também torcia para que ela se encontrasse e parasse de se importar tanto com os outros.
"Eu me importava com o que os outros pensavam sobre mim. Apagava fotos ou tuítes que não tinham muitas curtidas. Media meu valor nesses termos. Devia ser a garota mais superficial da face da Terra, e só agora eu descobria isso."
Em alguns trechos, cheguei a me identificar com ela inclusive.
"Eu não gostava de brigar. Discordava muito das pessoas em pensamento, mas raramente em voz alta."
Outro ponto da Gia é que ela é "normal". Não é uma Garota Extraordinária ou Incompreendida, é apenas uma adolescente. O que, geralmente, é difícil de encontrar, já que as protagonistas mais descritas são aquelas capazes de provocar uma rebelião mundial com quinze anos de idade. Então foi até engraçado perceber que Gia é apenas Gia, sem grandes expectativas ou desastres.
"Não tenho nenhuma profundida. E não sei como mudar isso. Minha vida é normal. Meus pais estão juntos. Eles não me batem, nada disso. A morte nunca tocou minha vida. Sou boa aluna. Não somos pobres, mas também não somos ricos. Nunca tive uma doença grave ou ferimento sério. Nunca vivi uma tragédia, por isso não tenho sabedoria ou grandes conclusões para oferecer."
No decorrer da leitura pude notar o amadurecimento da Gia e isso foi maravilhoso. E o ponto alto foi quando ela percebeu que seu grupo de amigas não era tão acolhedor para ela, e então decide se afastar. Isso foi muito bacana porque a Kasie poderia ter cometido o erro de tentar resolver tudo nos últimos cinco minutos de palco e fazer todos sorrirem e se abraçarem, como se os atritos do início nunca tivessem acontecido. Mas em vez disso, ela segue o caminho do amadurecimento e que tá tudo bem se afastar de algumas pessoas que você gosta para poder continuar gostando.
"- Amadureceu demais para andar com elas?
- Acho que elas são maduras demais para mim.
- Discordo.
(...)
- Obrigada. - Eu devia agradecer alguém que havia dito que eu me tornei madura demais para as minhas amigas? Olhei para Jules, que cochichava no ouvido de Claire e apontava para alguém. Sim, talvez fosse melhor eu me afastar delas por ora."
Hayden, o mocinho da história, é absurdamente encantador. Não apenas com a Gia, mas a relação dele com a mãe e irmã é linda se ver - apesar de que o bichinho é meio trouxa pela ex que o traiu com seu melhor amigo, mas fazer o quê? Todo ser humano precisa carregar um pouco de trouxisse no coração como traço essencial de caráter.
"- Tudo bem? - Não sei por que perguntei. Era evidente que ele não estava bem. Chegou ali pensando que a ex o havia convidado porque queria voltar, e tinha acabado de descobrir que não era nada disso. "
Bec, a irmã de Hayden, é um show à parte. Divertida do começo ao fim, dei altas risadas com ela. Apesar de se mostrar um pouco reclusa dos outros, é muito companheira e leal, pronta pra ajudar os amigos em qualquer necessidade e consolá-los.
"Eu ri.
- Risada e raiva não combinam.
- Então para de tentar me fazer rir.
- Não estou tentando. Estou com você nessa, do seu lado. Por que nós estamos furiosas mesmo?
- Meu irmão.
Ela levantou o punho.
- Totalmente do seu lado. Continua."
Drew e Gia não mantém uma relação de irmãos tão agradável. Ele já está na faculdade o que dificulta também o contato. E para piorar, ele faz um espécie de filme/documentário usando a própria família para exemplificar os perigos da exposição contínua às mídias sociais, e toma a irmã como protagonista, sem que ela soubesse. Acaba sendo um choque quando ela descobre que ele a gravava escondido com esse propósito, e foi vergonhoso assistir ao filme junto com todo o campus (também estava disponível na internet). Esse foi mais um atrito entre os dois, o que, diga-se de passagem, também me fez ficar irritada com a abordagem covarde do Drew.
Apesar disso, eles acabam conversando e meio que se entendendo, mesmo que não completamente.
"Era evidente que tínhamos um longo caminho a percorrer no departamento da comunicação de sentimentos, mas agora até parecia possível."
Com a mãe, Gia deu outro passo de desenvolvimento. Os pais dela sempre tentavam parecer perfeitos para todos e em todas as situações. Não se exaltavam, não choravam, não caiam. Foi legal ver um aproximação de "normalidade" aparecendo.
"- Você é mãe, não um androide. Sei que você tem sentimentos. Às vezes eles aparecem. Não vou achar que você é pior por isso. Na verdade, isso vai me ajudar a te conhecer melhor.
Ela me abraçou.
- Não somos perfeitas e não temos que ser. - Passei a mão no cabelo dela, estragando o seu penteado.
- Gia. - Ela se ajeitou.
Eu ri. Sabia que a minha mãe não mudaria nesse instante ou de um dia para o outro, mas sentia que era um começo."
Enfim, eu adorei a leitura, achei rápida, porém não corrida. Personagens cativantes presentes, e uma história que, apesar de clichê, foi muito bem elaborada e desenvolvida. Aliás, gostei tanto que já separei minha próxima leitura da autora!!
"Aprendi que..."
... você não precisa de muitos amigos, apenas dos verdadeiros; não precisa conseguir mais curtidas ou engajamento, mas sim de amigos para jogar bolas de beisebol em um terreno velho enquanto extravasa sua frustração o mais alto que conseguir gritar.
Quotes:
"Amanhã todos nós vamos ser pessoas melhores."
"Debochar de alguém para parecer inteligente e profundo só prova o contrário."
“Raramente encontramos profundidade quando a procuramos dentro de nós mesmos. A profundidade é encontrada no que podemos aprender com as pessoas e as coisas que nos cercam. Todo mundo, todas as coisas, têm uma história, Gia. Quando você conhece essas histórias, descobre experiências que a preenchem, expandem sua compreensão. Você acrescenta camadas à sua alma.”