Katia Rodrigues 15/03/2021
Senhor escuridão
Li a primeira vez A timidez do monstro em 2013 e na época não entendi nada, mas não achei ruim, só achei esquisito. Hoje, continuo sem entender, mas consegui aproveitar a leitura infinitamente mais do que antes.
Sabe aqueles livros que deixam uma sensação de que algo ficou oculto, pois bem, aqui, a sensação é elevada a enésima potência. Senti como se estivesse em um quarto escuro com uma lanterna, só podendo iluminar um pedaço de cada vez, sem nunca ter a visão do todo. E amei essa sensação.
ânsia
ajeito teu sim
com os polegares
frito-os aos gritinhos
Os poemas não te deixam descansar. Não te deixam recuperar o fôlego. Carpinejar traduziu bem essa aura: “Há um escopo alucinógeno em seu ritmo, uma mística dentro da banalidade (que como diz Drummond, é a originalidade coletiva)”. Scott é de uma lucidez desconcertante que transcende uma visão meramente racional das coisas e que dialoga com os sentidos.
A aparente desconexão com a lógica é um reflexo dessa visão sentimental ou sensorial das coisas. Surreal sim, vazio de sentido não. E as gravuras que ilustram as páginas casam perfeitamente com o apelo visual que têm os poemas.
Enfim, recomendo aos que queiram se deleitar com uma poética moderna e sentimental. “Scott não veio para brincar, satisfazer egos, brindar com espumantes”, Carpinejar.