LT 27/06/2016
Tome cuidado com os frutos do embuste.
Hoje estou aqui para falar de um dos lançamentos mais comentados da Novo Século nesse ano de 2016, o livro “A Árvore da Mentira” da autora Frances Hardinge. Bem, eu não tinha lido nenhuma obra da autora até o momento, por isso, quando recebi esse livro através da nossa parceria com a NS, foi uma grata surpresa e oportunidade para enfim conhecer a escrita da Frances; mas vamos a resenha!
Um livro com uma proposta diferente, uma história que se passa em uma época onde as mulheres são vistas como inferiores, onde suas maiores preocupações devem ser aprender a ser uma dama, encontrar um bom marido e com isso ter uma boa família. E como ficam os demais desejos das mulheres? Não importavam, simples assim, pra quem? Pois é.
Em meio a uma sociedade machista e difícil é que o enredo se passa, nos apresentando os costumes de forma leve, porém evidentes, da época. Nos mostra que a opinião das mulheres – em sua maioria – não eram levadas em consideração, exceto quando expostas por trás das cortinas da sociedade, onde seus maridos é que levavam o mérito pelas coisas positivas.
A história começa com a família de Faith – a nossa mocinha – de mudança para a ilha Vane. Mas a mudança foi brusca e repentina, quase que como uma fuga, assim sentia Faith, ainda que não tivesse provas, suas desconfianças eram enormes. Ela é uma mocinha diferente, curiosa, que gosta de estar informada, de aprender e de estudar – quando permitem, claro. Uma menina que foge aos costumes, uma garota de 14 anos à frente de seu tempo e que deseja abrir portas para o futuro, um futuro em que as mulheres possam ser levadas a sério, falem elas de culinária ou de ciências.
Faith é tratada por vezes como criança, na verdade, sua Mãe (que nos irrita bastante) a infantiliza muito e seu Pai (grosso e indelicado) a subestima, mas na maior parte do tempo, ela é tratada como uma “baba” para o seu irmão mais novo, Howard (com quem ela tem uma relação bonita). Durante muito tempo a jovem manteve-se oculta através de seu silêncio, mas quando seu Pai é encontrado morto e todo mundo a sua volta age de modo estranho e condenando o homem que ela venera, é que Faith mostra a sua verdadeira face. Sem aceitar a morte dele, ela que quer ser, mas na verdade, já é, uma cientista naturalista – assim como fora seu Pai, astuta, esperta, dedicada e incansável, a menina investiga por sua conta e risco o que realmente aconteceu com ele. Será que ele era tudo o que ela pensava? Será que ele era o que os demais pensavam? Grandes choques estão por vir...
Com o diário dele em mãos e sendo a única que conhece a localização da Árvore do Embuste, uma planta pela qual seu amado Pai dera, literalmente, a vida, Faith embarca em uma aventura sem retorno, mergulha em um mundo de mentiras de todos os lados, decepções, traições, ganância, vingança, surpresas, amor, ódio, compaixão, sentimentos; dentre outros fatores e desafia a toda sociedade local. A Árvore é seu maior segredo e seu único trunfo para descobrir o que realmente está acontecendo e o porquê.
A menina encontra parceiros e apoios improváveis, mas não sabe se realmente pode confiar neles. Ela encontra meios para investigas, arrisca-se, come o fruto misterioso. Todavia, quem disse que é fácil interpretar as coisas? Ela está certo? Está errada? Até onde Faith é capaz de ir para tentar provar o seu ponto de vista? Suas interpretações, o que são, de fato? Alguns personagens surpreendem, as revelações fazem o mundo de outros cair por terra e não só Faith, mas todos apendem que, a mentira não tem pernas curtas, ela tem garras afiadas e que no fim das contas, quando reveladas, cortam o cerne e machucam profundamente e elas são reveladas, sobre todos e para todos.
Um mistério envolvente, uma história que te prenderá do início ao fim, sem romances, repleto de desafios e segredos a serem desvendados ao virar de cada página. Frances Hardinge, dona de uma escrita fluída, cativante e linear nos leva a viajar e nos surpreende com um final e tanto. Ela consegue nos induzir a desconfiar de tudo e de todos e consegue nos passar mensagens através dessa história totalmente fictícia e de certo modo... “real”. Por isso, tome muito cuidado, a Árvore do Embuste pode estar no seu quintal...
Quanto a edição, simples, bonita, com pequenos detalhes que deram um toque especial. A revisão está boa, fonte em um tamanho adequado e as adoráveis páginas amarelas que não agridem nossos olhos e facilitam a leitura se fazem presentes.
Se eu indico o livro? Sim, indico! Indico para todas as pessoas que estão com vontade de fugir das leituras “mais do mesmo” (um dia eu explico essa minha definição de “mais do mesmo” – risos). Indico para quem curte um mistério e para quem está fugindo dos romances, pois não temos um romance, nós temos uma história instigante e que nos deixa curiosos até chegarmos a última palavra que encerra o livro, até chegarmos ao fim.
[Quotes]
As ondas foram ficando maiores e menos brincalhonas, rolando por debaixo do barco com perigosa indiferença. Sempre que o barco tombava, cada fibra do corpo de Faith se preparava para a capotagem, para o choque gelado da água.
"Você está cumprindo seu dever para com seu Pai", ela disse a si mesma. Não tem como isso estar errado. "Você tem que confiar nele, é como Abraão. Deus mandou-o matar o próprio filho, então ele foi pegar uma faca. Fez a coisa certa, mesmo que parecesse ruim. Confiava que Deus entendia o bem e o mal melhor do que ele."
A mim pertence a vingança e a retribuição, no devido tempo os pés deles escorregarão; o dia da sua desgraça está chegando, e o seu próprio destino se apressa sobre eles.
É apenas uma cobra perfeitamente sensível, que protege seus ovos e vai abrindo caminho no mundo do melhor jeito que pode.
E assim me despeço dessa menina, dona de uma história que adorei acompanhar, que me levou para um tempo tão distante do meu e me fez viajar com ela em suas aventuras, me cativou e me deixou com vontade de ler mais e mais. Faith, espero eu, que seja, até um dia!
Resenhista: Ana Luz.
site: http://livrosetalgroup.blogspot.com.br/